05/08/2025
MASSANO FALA, O POVO PAGA: A ECONOMIA DA PROPAGANDA.
O governo angolano acaba de anunciar, com p***a e microfones, uma suposta solução para as empresas vandalizadas durante os protestos dos taxistas. São 50 mil milhões de kwanzas que, segundo o ministro José de Lima Massano, vão salvar a pátria, recuperar empregos, estabilizar preços e — quem sabe — até multiplicar pães. O discurso é técnico, parece bem pensado, mas tem um detalhe: não resiste a uma simples máquina de calcular, muito menos à realidade dos mercados, das ruas e da barriga vazia do povo.
By Raul Diniz
1. 50 MIL MILHÕES EM PRONTO-SOCORRO OU EM PRONTO-RISO?
Massano anunciou 50 mil milhões de kwanzas (cerca de 54 milhões de dólares) para acudir 162 empresas. Parece muito? Basta dividir: são cerca de 337 mil dólares por empresa. E isso em teoria. Porque, na prática, o dinheiro está no BPC – o banco do Estado que não paga nem os seus próprios boletins informativos a tempo. A burocracia é tanta que, quando o crédito sair, as empresas já terão fechado as portas, vendido os móveis e mudado de ramo.
2. A LINHA QUE NÃO CHEGA AOS PEQUENOS
No país onde 80% da economia é informal, Massano decidiu criar uma linha de crédito que só contempla empresas formais, com folha salarial, declaração de prejuízos na polícia e conta no banco. Ou seja: os grandes. Os pequenos — aqueles que vendem pão, cerveja, carvão, crédito e galinha congelada — vão continuar a contar trocos ou a tentar reerguer barracas queimadas com lata velha e esperança furada.
3. IMPORTAR PARA FICAR DEPENDENTE.
Outra "grande" medida é uma linha de 25 milhões de dólares para importar equipamentos. Porque claro, o país não tem fábrica de cadeiras, frigoríficos, prateleiras ou geradores — tudo precisa vir de fora, com taxas e comissões. Mais uma vez, a solução é entregar dinheiro a quem vive de trazer contentores, em vez de apoiar quem quer produzir em Viana, no Kikuxi ou no Huambo.
4. BENEFÍCIOS FISCAIS COM DESTINATÁRIO
Massano fala com orgulho da "isenção da segurança social" e da "recuperação rápida do IVA". Mas será que ele já entrou numa repartição da AGT nos últimos 10 anos? O pequeno empresário, quando não é tratado como criminoso, é ignorado. A burocracia é um campo minado. E claro: os tais benefícios só chegam a quem está no sistema, com tudo bonitinho, digitalizado e selado. Ou seja: quase ninguém.
5. O ABSURDO DO SEGURO PAGO PELO DONO E PELO ESTADO.
Mais uma pérola: empresas que tiverem seguro podem usar o crédito… mas terão de devolver o dinheiro ao Estado quando receberem a indemnização. Como se já não pagassem impostos, seguros, taxas, e multas por atraso no pagamento das multas. Agora, além de lidar com o prejuízo e esperar pelo seguro, o empresário ainda tem de fazer de cobrador do governo. É ou não é genial?
6. INFLAÇÃO “A BAIXAR” COM O PRATO AINDA VAZIO.
O Ministro elogia a redução da inflação de 42% para 18% em Luanda. Um milagre! Mas esquece de dizer que os preços continuam altíssimos, que o salário mínimo continua em 32 mil kwanzas (35 dólares) e que a tal "inflação baixa" não devolve os preços antigos, nem enche a cesta básica de ninguém. Está tudo mais caro, mas agora sobe devagar. Obrigado, Excelência, por esta lentidão inflacionária tão sensível à fome nacional.
7. ESTABILIDADE DE PREÇOS: MAIS UMA PROMESSA CONGELADA.
Massano garante que não haverá impacto nos preços porque os centros de distribuição não foram vandalizados. Mas esquece de dizer que o sistema de abastecimento já era frágil, que os intermediários controlam a margem e que a especulação é a norma, não a exceção. Resultado? O povo que espere pelo “regular abastecimento de bens”, enquanto o s**o de arroz volta a subir sem explicação, como sempre.
CONCLUSÃO: MAIS UM PACOTE PARA A FOTOGRAFIA
O pacote económico apresentado é, acima de tudo, mais um plano para a fotografia, para o aplauso dos empresários amigos e para o consumo mediático de quem ainda acredita que o poder pensa no povo. Não há medidas reais para quem trabalha na informalidade, para quem perdeu tudo, para quem não tem acesso à banca, nem voz na mesa do Conselho Económico.
Mais uma vez, a elite fala entre si, em nome do povo, mas contra os interesses do povo.
Estamos juntos.