07/07/2025
*Subida da Tarifa dos Táxis em Angola: Quando a Técnica Ignora a Moral e Esmaga a Vida Real*
Por Luís Valentim Mucanzo – Filósofo Moral e Investigador em Ética Aplicada
Esta semana, a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) anunciou que a tarifa dos táxis colectivos urbanos, popularmente conhecidos como "azuis e brancos", passará a ser de 300 kwanzas por passageiro. A medida foi justificada como consequência do aumento do preço do gasóleo e apresentada como necessária para garantir o equilíbrio financeiro das operadoras. No entanto, tal decisão revela muito mais do que um simples reajuste técnico: ela desnuda a ausência de um horizonte ético nas políticas públicas em Angola.
1. *Viver com o mínimo e pagar o máximo: a vida concreta dos que andam de táxi*
Em Luanda, Benguela, Huambo ou Malanje, milhões de cidadãos acordam antes das 5h da manhã para garantir um lugar nos táxis lotados. Muitos precisam fazer três ou quatro “corridas” por dia — entre casa, escola, mercado, emprego informal e retorno — o que, com a nova tarifa, representa entre 900 e 1.200 kwanzas diários em transporte. Isso numa realidade em que o salário mínimo nacional ronda os 32.000 kwanzas, e em que grande parte da população activa sobrevive na informalidade, sem rendimento fixo.
A pergunta que se impõe, portanto, não é técnica, mas ética e política: como se espera que alguém que vive com 1.000 kwanzas por dia pague 300 por uma simples deslocação? A decisão ignora a condição de precariedade económica que molda a vida de milhões de angolanos. Ao fazê-lo, ela falha em um dos princípios fundamentais da moral pública: a consideração pela vulnerabilidade humana.
*2. Ética da responsabilidade: quando o Estado abdica do seu dever moral*
A medida mostra que o Estado angolano, em nome da racionalidade económica, está a renunciar à sua função ética de protector social. Segundo Hans Jonas (1979), um dos pilares da ética da responsabilidade é o dever de proteger a vida...