30/09/2025
𝑯𝒊𝒔𝒕𝒐́𝒓𝒊𝒂 𝑮𝒆𝒓𝒂𝒍 𝒅𝒂 𝑨́𝒇𝒓𝒊𝒄𝒂 𝑽–𝑽𝑰𝑰
𝑨𝒍𝒃𝒆𝒓𝒕 𝑨𝒅𝒖 𝑩𝒐𝒂𝒉𝒆𝒏
𝑹𝒖𝒑𝒕𝒖𝒓𝒂 𝒕𝒆𝒎𝒑𝒐𝒓𝒂𝒍 𝒆 𝒈𝒆𝒐𝒈𝒓𝒂́𝒇𝒊𝒄𝒂 (1880–1935))
Entre 1880 e 1910 ocorreu uma mudança rápida e dramática: a conquista e ocupação de praticamente todo o continente africano pelas potências europeias.
Após 1910 domina a fase de consolidação e exploração do sistema colonial.
Em 1880 a presença europeia era restrita a zonas costeiras e algumas colônias (Argélia para a França; faixas costeiras portuguesas; sul da África com dominação mais consolidada).
Em torno de 1914, exceto Etiópia e Libéria, a África estava quase totalmente dividida em colônias europeias, territórios muitas vezes muito maiores e artificialmente desenhados em relação às antigas formações políticas africanas.
𝑫𝒊𝒎𝒆𝒏𝒔𝒂̃𝒐 𝑷𝒐𝒍𝒊́𝒕𝒊𝒄𝒂 𝒆 𝑪𝒖𝒍𝒕𝒖𝒓𝒂𝒍 𝒅𝒐
A colonização não foi só perda de soberania política, mas um assalto a valores culturais, crenças e modos de vida. Cita-se Ferhat ‘Abbas: para os colonizadores era empreitada militar/administrativa; para os colonizados era revolução que transtornava todo um mundo de significados.
O choque forçava povos e nações a se adaptar ou sucumbir, gerando desequilíbrio moral e material e risco de desintegração social.
𝑨𝒕𝒊𝒕𝒖𝒅𝒆 𝒆 𝒓𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒆̂𝒏𝒄𝒊𝒂 𝒂𝒇𝒓𝒊𝒄𝒂𝒏𝒂𝒔
Autoridades e dirigentes africanos, em sua esmagadora maioria, foram hostis à mudança e lutaram para preservar soberania e o status quo.
Exemplos citados: a recusa de Prempeh I (Ashanti) à "proteção" britânica em 1891; a resposta do Moro Naba Wogobo (rei dos Mossi) em 1895, que rejeita a intervenção francesa e expulsa o oficial.
Essas respostas evidenciam que muitos líderes africanos não aceitaram passivamente o colonialismo; houve protesto, recusa e resistência política e material.
𝑷𝒆𝒓𝒔𝒑𝒆𝒄𝒕𝒊𝒗𝒂 𝒇𝒊𝒍𝒐𝒔𝒐́𝒇𝒊𝒄𝒂, 𝒂𝒏𝒂́𝒍𝒊𝒔𝒆 𝒄𝒐𝒏𝒄𝒆𝒊𝒕𝒖𝒂𝒍 𝒆 𝑰𝒎𝒑𝒍𝒊𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐
𝑪𝒐𝒍𝒐𝒏𝒊𝒂𝒍𝒊𝒔𝒎𝒐 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒓𝒆𝒗𝒐𝒍𝒖𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒂𝒏𝒕𝒓𝒐𝒑𝒐𝒍𝒐́𝒈𝒊𝒄𝒂
O texto convida a ver o colonialismo não apenas como ato territorial, mas como ruptura epistemológica e axiológica: altera quem detém o poder de nomear, educar, legislar e definir o real. Assim, trata-se de uma revolução cultural que reconfigura mundos de sentido (linguagens, religiões, relações sociais).
Filosoficamente, isso toca em problemas de legitimação do poder (Weberiano) e de imperialismo epistemológico: imposição de categorias estrangeiras sobre formas locais de vida.
𝑺𝒐𝒃𝒆𝒓𝒂𝒏𝒊𝒂, 𝒂𝒈𝒆̂𝒏𝒄𝒊𝒂 𝒆 𝒅𝒊𝒈𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊́𝒕𝒊𝒄𝒂
A resistência de líderes africanos mostra uma reivindicação explícita de agência e autonomia. Do ponto de vista ético-político, negar essa agência é cometer uma injustiça que tem consequências práticas (guerra, expropriação) e simbólicas (deslegitimação das instituições locais).
O conflito revela uma tensão entre duas legitimidades: a dos regimes coloniais (força, direito positivo imposto) e a das instituições locais (legitimidade histórica, cultural e moral).
𝑫𝒆𝒔𝒆𝒒𝒖𝒊𝒍𝒊́𝒃𝒓𝒊𝒐 𝒎𝒐𝒓𝒂𝒍 𝒆 “𝒆𝒔𝒕𝒆𝒓𝒊𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆” 𝒔𝒐𝒄𝒊𝒂𝒍
A expressão de Boahen sobre “desequilíbrio moral e material” convoca reflexões sobre justiça distributiva, reparação histórica e os efeitos intergeracionais do colonialismo, não apenas expropriação de terras, mas destruição de arranjos sociais produtivos que davam sentido às vidas coletivas.
Filosoficamente, conecta-se com debates sobre responsabilidade coletiva, memória e culpa histórica, quem deve reparar? Como reconstruir instituições legitimadas localmente?
𝑪𝒐𝒍𝒐𝒏𝒊𝒂𝒍𝒊𝒔𝒎𝒐 𝒆 𝒊𝒅𝒆𝒏𝒕𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆
A imposição de novos limites territoriais e de uma ordem administrativa muitas vezes sem relação com as estruturas locais produz uma crise identitária e política: novos territórios, novos sujeitos, e uma correspondência entre espaço político e identidade severamente alterada.
Levanta questões sobre a reconstrução de narrativas nacionais pós-coloniais e sobre o papel da história (historiografia) em restabelecer continuidade ou reimaginar o passado.
𝑳𝒆𝒊𝒕𝒖𝒓𝒂𝒔 𝒄𝒓𝒊́𝒕𝒊𝒄𝒂𝒔 𝒆 𝒑𝒊𝒔𝒕𝒂𝒔 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒂𝒑𝒓𝒐𝒇𝒖𝒏𝒅𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐
Historiografia e ponto de vista: o texto sublinha a necessidade de estudar mais profundamente as atitudes africanas, não apenas relatos europeus. Filosoficamente, isso exige ouvir fontes locais, analisar discursos e práticas, e problematizar a autoridade historiográfica.
Resistência verso acomodação: nem todas as respostas africanas foram uniformes, havia resistência ativa, alianças táticas, negociações e, também, casos de cooperação por motivos estratégicos. Uma leitura filosófica atenta distinguirá práticas morais situadas das respostas políticas.
Continuidades e rupturas: após 1910 vem a consolidação do sistema colonial, estudar as formas de adaptação (instituições híbridas, elites colaboracionistas ou transformadas) ajuda a entender os traços do pós-colonial contemporâneo.
𝑪𝒐𝒏𝒄𝒍𝒖𝒔𝒂̃𝒐
Boahen mostra o colonialismo como um evento transformador em escala continental: um processo rápido e violento (1880–1910) seguido por décadas de consolidação. Historicamente, significou perda massiva de soberania e a construção de fronteiras e administrações alheias às realidades locais.
Filosoficamente, é um fenômeno que provoca questionamentos profundos sobre legitimidade do poder, agência, justiça histórica, identidade e epistemologia, e exige que historiadores e filósofos prestem atenção às vozes africanas para entender não apenas o que foi perdido, mas as lógicas internas da resistência e da adaptação.