
08/10/2025
Neste dia, há 58 anos — em 8 de outubro de 1967 — o guerrilheiro argentino Ernesto “Che” Guevara foi capturado pelo Exército boliviano após um confronto na Quebrada del Yuro e levado ao vilarejo de La Higuera, onde seria executado sumariamente, encerrando a trajetória de um dos personagens mais mitificados do século XX.
Formado em medicina e convertido em militante marxista, Che ganhou projeção ao lado de Fidel Castro na Revolução Cubana (1959). Após o triunfo, foi nomeado presidente do Banco Nacional de Cuba e, em seguida, ministro da Indústria, tornando-se símbolo do ideal revolucionário. Mas, como gestor, foi ineficiente e dogmático: tentou substituir incentivos materiais por morais e ampliar o controle central da economia, o que agravou as ineficiências produtivas em Cuba. Seu radicalismo ideológico e suas críticas à Moscou — já parceira estratégica de Havana — criaram tensões com Fidel, que passou a vê-lo como um problema político. Em 1965, desapareceu de cena: Fidel leu em público uma carta de “despedida” que selava sua partida para novas aventuras revolucionárias – interpretado por muitos historiadores como uma forma elegante de afastar um aliado incômodo, sem romper o mito da unidade revolucionária.
Há alguns anos, ao visitar o Museu da Revolução, em Havana, fiquei impressionado com o amadorismo das campanhas de Che fora de Cuba. Na Bolívia, ele liderou um grupo de cerca de 47 combatentes sem apoio popular. Mal armados, isolados e sem contato com Havana, foram rapidamente derrotados — um esforço fadado ao fracasso. A CIA prestou apoio logístico e de inteligência ao Exército boliviano na operação que levou à sua captura e execução.
A imagem de Che, no entanto, sobreviveu à derrota. O retrato feito pelo fotógrafo cubano Alberto Korda transformou-o em ícone global de rebeldia, mais cultural do que político. Hoje, seu legado divide opiniões: para uns, um idealista que enfrentou o imperialismo; para outros, um revolucionário autoritário que acreditava na violência como método e fracassou em quase tudo o que tentou construir. Quase 6 décadas depois, o “Che” permanece lembrado menos por aquilo que realizou — e mais pelo poder do mito que ainda o sustenta.