
14/07/2025
📖 Seção 2: A Vida Que Leva
“Na minha família, herança nunca foi dinheiro. Foi desistência. Mas eu decidi romper com isso.” — Jonshua
A leitura exige técnica, para realmente aprender com ela, você precisa estar presente no momento, ter foco, e ter a humildade intelectual para aceitar aquilo que a primeira vista não fazia o completo sentido para mim. Ler o meu primeiro livro foi como andar de bicicleta, a cada termo desconhecido eu franzia a testa, eu me importunava com a leitura, você acredita que depois de eu ler 5 páginas voltei do começo, isso porque percebi que não entendia nada do que lia, isso não é para mim? Pensava eu, imaturo, casmurro. Será que eu estava a ser ignorante? Não importava onde eu estivesse, eu com livro, atraía olhares curiosos e debochados. Naquele dia, por mais incrível que parecesse, eu empreendi um ensinamento que tirará do livro e consegui auxiliar em um serviço simples: eu vendi um barco, eu fiquei maravilhado porque eu não tinha um barco, deixa te contar o que eu tinha era mesmo só as roupas velhas e remendadas e o antigo senhor para quem eu trabalhava carregando madeiras para ele consertar os barcos dos pescadores, mercadores e outros sabe quem mais! Mas vender um barco, de longe, eu sonhava, credo. Deu para ganhar o suficiente para comprar pão, e mais importante: ganhei confiança.
Confiança de que se eu se aplica tudo aquilo que aprendera eu ganharia cada vez mais, era só aplicar o que aprendia.
Mas à noite, a realidade veio cobrar.
— "Tá vendendo serviço dos outros agora, Jonshua?" — Perguntou o tio cai peça, enquanto enchia o prato de arroz. — "Vai virar vendedor de boca a boca? Isso não é trabalho de verdade, moleque."
Minha mãe não respondeu. Ficou em silêncio. Mexia no feijão como se procurava palavras entre os grãos.
— "Você devia era arrumar um furo na mecânica do Padá. F**a sonhando com essas ideias aí e vais acabar igual seu pai."
Essa frase doeu. Não pela comparação, mas pelo desprezo.
Meu pai sumiu quando eu tinha 5 anos. Nem deixou bilhete, nem desculpa. Nunca um sinal de vida. Só deixou o mesmo legado de muitos homens dali: ausência.
Eu fiquei... Apenas olhei o tio nos olhos e respondi com firmeza:
— "O senhor tá certo. Isso não é trabalho de verdade. Ainda. Mas pretendo melhorar."
Silêncio. O tipo de silêncio que fala mais que um grito. O tio desdenhou, levantou e saiu. Minha mãe continuou em silêncio, mas dessa vez, com os olhos marejados.
Naquela noite, desci novamente até o cais. Sentei ao lado do velho barco com o leme rosa.
— "Você também teve um pai que sumiu?" — Sussurrei para a madeira. Tô ficando louco, eu tive que rir de mim para não chorar.
Sabendo que ninguém me ouvia. Não estou procurando resposta a pergunta que me fiz. É só para eu não esquecer.
Olhando para o leme, fiz uma promessa:
“Vou romper com isso. Não vou viver esperando o que nunca vem. Nem repetir o que já deu errado. Vou construir minha própria rota.”
No dia seguinte, mesmo com as palavras duras ainda ecoando, acordei cedo, pronto para mais uma empreitada. E decidiu dar o segundo passo: criar um pequeno reclame com os serviços que eu posso intermediar. Usei papel reciclado e caneta azul que estava a falhar p’ra caramba, maldita caneta. Passei toda tarde preparando isso, colando nos postes da vila e tudo mais.
Ninguém ajudou.
Ninguém incentivou.
Mas algo novo crescia por dentro: a certeza de que não queria mais seguir o “normal”, eu queria quebrar a regra.
— Fim.
Três dias depois, Jonshua recebe uma ligação no celular simples de sua mãe:
— “Você é o garoto que colou esses papeis nos postes?”
— “Sou sim.”
— “Preciso de ajuda. Mas aviso logo: é coisa grande.”
Era o amigo do tio cai peça, dono da única loja de artesanato da vila.
E o que parecia uma oportunidade, talvez escondesse um teste muito maior do que ele imaginava.
[Continua na Secção 3: Ninguém Acredita]