31/07/2025
🚨🚨🚨Carta Aberta ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço
Luanda, 30 de Julho de 2025
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Venho, com o mais profundo respeito e sentido de responsabilidade cívica, dirigir-me a Vossa Excelência em nome de muitos corações angolanos que, nestes dias, carregam dor, inquietação e esperança. Esta não é uma carta de oposição, mas sim de apelo à sensibilidade, ao diálogo e à escuta ativa do povo que confiou em si para guiar a nação com justiça, paz e dignidade.
Excelência, nos últimos três dias o nosso país tem vivido momentos de grande tensão social. Manifestações eclodiram em várias províncias, refletindo o grito reprimido de muitos jovens, homens e mulheres que, movidos pela frustração, pela fome, pelo desemprego e pela desigualdade, decidiram fazer-se ouvir. Lamentavelmente, a resposta a esse grito foi marcada por repressões violentas, confrontos e, sobretudo, por perdas irreparáveis: vidas humanas.
Senhor Presidente, a dor que sentimos ao ver irmãos angolanos tombarem nas ruas deveria comover a todos nós, independentemente da posição que ocupamos. A violência seja ela institucional ou provocada por oportunistas que se aproveitam da dor alheia jamais deve ser normalizada ou justif**ada. Repudiamos veementemente os actos de vandalismo e saques que ocorreram, mas não podemos permitir que esses desvios ofusquem o verdadeiro clamor do povo: o desejo de viver com dignidade, o direito de protestar em paz, e o sonho de um país onde todos possam ter oportunidades reais.
Há um silêncio ensurdecedor por parte de algumas instituições do Estado perante a dor da nação. A falta de reconhecimento imediato às vítimas, à sua humanidade e às causas que os levaram às ruas tem gerado mais feridas do que curas. Não se trata apenas de controlar danos ou proteger patrimónios materiais — trata-se, acima de tudo, de valorizar a vida e escutar as vozes que clamam por mudança.
Excelência, sabemos que governar é um desafio árduo, especialmente num país com marcas profundas de desigualdade. Sabemos também que o caminho da paz se constrói com diálogo e empatia. Por isso, esta carta não é um protesto vazio, mas um convite ao reencontro com o povo. Um pedido para que se coloque no lugar de um pai que perdeu um filho, de uma mãe que correu com medo da bala, de um jovem que foi preso apenas por se expressar.
O povo não é inimigo, Excelência. O povo é a força desta nação. E quando clama, é porque acredita que ainda pode ser ouvido.
Rogamos, portanto, por um posicionamento claro e humanizado. Que se investiguem os abusos, que se acolha o sofrimento dos que foram atingidos e que se abra espaço para um diálogo verdadeiro. Que se valorize a juventude não apenas em discursos, mas em políticas concretas. Que a democracia, tantas vezes evocada, seja vivida na prática e não apenas escrita nos papéis.
Com toda a humildade e respeito, apelamos para que Vossa Excelência seja neste momento o líder que cura, que escuta e que reconstrói. Ainda é possível restaurar a confiança e a esperança do povo. Ainda é possível fazer história, não como quem mandou calar, mas como quem teve a coragem de ouvir e agir.
Com elevada consideração e profunda esperança,
João Tchaly
Um cidadão angolano que ama profundamente esta terra.