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Querubim Quanto mais aprendo maior é a minha percepção que ainda nada sei

"África no início do século XIX: problemas e perspectivas", de J. F. Ajayi:🌍 𝕬́𝖋𝖗𝖎𝖈𝖆 𝖓𝖔 𝕾𝖊́𝖈𝖚𝖑𝖔 XIX: 𝕰𝖓𝖙𝖗𝖊 𝕯𝖎𝖓𝖆̂𝖒𝖎𝖈𝖆𝖘 𝕴𝖓...
28/07/2025

"África no início do século XIX: problemas e perspectivas", de J. F. Ajayi:

🌍 𝕬́𝖋𝖗𝖎𝖈𝖆 𝖓𝖔 𝕾𝖊́𝖈𝖚𝖑𝖔 XIX: 𝕰𝖓𝖙𝖗𝖊 𝕯𝖎𝖓𝖆̂𝖒𝖎𝖈𝖆𝖘 𝕴𝖓𝖙𝖊𝖗𝖓𝖆𝖘 𝖊 𝕻𝖗𝖊𝖘𝖘𝖔̃𝖊𝖘 𝕰𝖝𝖙𝖊𝖗𝖓𝖆𝖘

Este texto introdutório oferece uma análise crítica do século XIX africano, período anterior à colonização europeia em larga escala, conhecido como “século pré-colonial”. Após a Segunda Guerra Mundial, estudiosos passaram a reavaliar a história africana, questionando a velha noção de que as mudanças no continente só começaram com a chegada dos europeus.

O século XIX africano foi tudo, menos estático. Revoluções internas, como as reformas de Muhammad ‘Ali no Egito, as jihad da África Ocidental, a reunificação etíope e os movimentos do Mfecane na África Austral, revelam sociedades em transformação ativa muito antes do domínio colonial.

O autor aponta dois grandes problemas de interpretação da história desse período:

1. A tendência de atribuir todas as mudanças significativas à influência europeia, ignorando as forças internas africanas.

2. A ideia de que a crescente integração da África ao sistema econômico mundial foi o evento central e explicativo do século XIX, como se esse século fosse apenas um prelúdio do colonialismo.

Ajayi convida o leitor a reconhecer a continuidade histórica africana, destacando que muitas transformações do século XIX são desdobramentos do século XVIII. Ele questiona as leituras reducionis
tas que veem a África apenas como reativa à Europa e propõe uma análise mais justa e profunda, que valorize as dinâmicas próprias das sociedades africanas.

A reflexão final é poderosa: compreender a África no século XIX é essencial para avaliar se a presença europeia foi um impulso para o desenvolvimento ou a causa central do seu subdesenvolvimento.

𝕱𝖔𝖓𝖙𝖊: 𝕳𝖎𝖘𝖙𝖔́𝖗𝖎𝖆 𝕲𝖊𝖗𝖆𝖑 𝖉𝖆 𝕬́𝖋𝖗𝖎𝖈𝖆 VI, 𝖊𝖉𝖎𝖙𝖆𝖉𝖔 𝖕𝖔𝖗: 𝕼𝖚𝖊𝖗𝖚𝖇𝖎𝖒

06/07/2025

𝐋𝐮𝐠𝐚𝐫 𝐝𝐚 𝐡𝐢𝐬𝐭𝐨́𝐫𝐢𝐚 𝐧𝐚 𝐬𝐨𝐜𝐢𝐞𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐚𝐟𝐫𝐢𝐜𝐚𝐧𝐚

O homem é um animal histórico. O homem africano não escapa a esta definição. Como em toda parte, ele faz sua história e tem uma concepção dessa história. No plano dos fatos, as obras e as provas de sua capacidade criativa estão aí sob nossos olhos, em forma de práticas agrárias, receitas de cozinha, medicamentos da farmacopeia, direitos consuetudinários, organizações políticas, produções artísticas, celebrações religiosas e refinados códigos de etiqueta.

Desde o aparecimento dos primeiros homens, os africanos criaram ao longo de milênios uma sociedade autônoma que unicamente pela sua vitalidade é testemunha do gênio histórico de seus autores. Essa história engendrada na prática foi, enquanto projeto humano, concebida a priori. Ela é também refletida e interiorizada a posteriori pelos indivíduos e pelas coletividades. Torna -se, portanto, um padrão de pensamento e de vida: um “modelo”.

Mas sendo a consciência histórica um reflexo de cada sociedade, e mesmo de cada fase significativa na evolução de cada sociedade, compreender -se -á que a concepção que os africanos possuem de sua própria história e da história em geral seja marcada por seu singular desenvolvimento.

O simples fato do isolamento das sociedades é suficiente para condicionar estreitamente a visão histórica. Assim, o rei dos Mossi (Alto Volta) intitulava -se Mogho -Naba, ou seja, rei do mundo, o que ilustra bem a influência das limitações técnicas e materiais sobre a visão que se tem das realidades sociopolíticas. Desse modo, pode -se constatar que o tempo africano é, às vezes, um tempo mítico e social, mas também que os africanos têm consciência de serem os agentes de sua própria história. Enfim, veremos que este tempo africano é um tempo realmente histórico.

𝐓𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐦𝐢́𝐭𝐢𝐜𝐨 𝐞 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐬𝐨𝐜𝐢𝐚𝐥

Num primeiro contato com a África, e mesmo a partir da leitura de numerosas obras etnológicas, tem -se a impressão de que os africanos estavam imersos e, como que afogados no tempo mítico, vasto oceano sem margens nem marcos, enquanto os outros povos percorriam a avenida da história, imenso eixo balizado pelas etapas do progresso.

De fato, o mito, representação fantástica do passado, em geral domina o pensamento dos africanos na sua concepção do desenrolar da vida dos povos. Isso a tal ponto que, às vezes, a escolha e o sentido dos acontecimentos reais deviam obedecer a um “modelo” mítico que predeterminava até os gestos mais prosaicos do soberano ou do povo. Sob forma de “costumes” vindos de tempos imemoriais, o mito governava a História, encarregando -se, por outro lado, de justificá -la.

Num tal contexto, aparecem duas características surpreendentes do pensamento histórico: sua intemporalidade e sua dimensão essencialmente social.

Nesta situação, o tempo não é a duração capaz de dar ritmo a um destino individual; é o ritmo respiratório da coletividade. Não se trata de um rio que corre num sentido único a partir de uma fonte conhecida até uma foz conhecida.

Nos países tecnicamente desenvolvidos, os próprios cristãos estabelecem uma nítida demarcação entre “o fim dos tempos” e a eternidade.

Isto talvez porque o Evangelho opõe nitidamente este mundo transitório ao mundo futuro, mas também porque, por esta visão distorcida e por outras razões, o tempo humano é praticamente laicizado. Ora, em geral, o tempo africano tradicional engloba e integra a eternidade em todos os sentidos. As gerações passadas não estão perdidas para o tempo presente.

À sua maneira, elas permanecem sempre contemporâneas e tão influentes, se não mais, quanto o eram durante a época em que viviam. Assim sendo, a causalidade atua em todas as direções: o passado sobre o presente e o presente sobre o futuro, não apenas pela interpretação dos fatos e o peso dos acontecimentos passados, mas por uma irrupção direta que pode se exercer em todos os sentidos.

Quando o imperador do Mali, Kankou Moussa (1312 -1332), enviou um embaixador ao rei do Yatenga para pedir -lhe que se convertesse ao islamismo, o chefe Mossi respondeu que antes de tomar qualquer decisão ele precisava consultar seus ancestrais. Percebe -se aqui como o passado, através do culto, está diretamente ligado ao presente, constituindo-se os ancestrais agentes diretos e privilegiados dos negócios que ocorrem séculos depois deles.

Da mesma forma, na corte de numerosos reis, funcionários intérpretes de sonhos exerciam um peso considerável sobre a ação política projetada. Esses exegetas do sonho eram, em suma, ministros do futuro.

𝐁𝐨𝐮𝐛𝐨𝐮 𝐇𝐚𝐦𝐚 𝐞 𝐉. 𝐊𝐢‑𝐙𝐞𝐫𝐛𝐨

ELIKIA M’BOKOLO: O HISTORIADOR QUE DESMONTOU OS MITOS SOBRE A ÁFRICAElikia M’Bokolo, nascido em 1944 na República Democr...
01/07/2025

ELIKIA M’BOKOLO: O HISTORIADOR QUE DESMONTOU OS MITOS SOBRE A ÁFRICA

Elikia M’Bokolo, nascido em 1944 na República Democrática do Congo, é um dos mais respeitados historiadores africanos contemporâneos. Formado em História na prestigiada École Normale Supérieure de Paris e antigo colaborador do Institut d’Histoire du Temps Présent e da UNESCO, M’Bokolo dedicou a sua vida académica à reconstrução da memória histórica africana a partir de fontes internas, com ênfase no protagonismo africano ao longo dos séculos. O seu trabalho desafia os paradigmas coloniais que relegaram o continente ao silêncio histórico.

A sua obra mais reconhecida, l’Afrique au sud du Sahara – de 1930 à nos jours, é um marco incontornável para o estudo da história moderna e contemporânea da África subsariana. Nela, M’Bokolo analisa com profundidade os impactos do colonialismo, as lutas pela independência e os desafios pós-coloniais, sempre com uma abordagem crítica e descolonizada. O livro tornou-se uma referência nas universidades africanas e europeias, reorientando o olhar académico sobre a África do século XX.

Elikia M’Bokolo foi também uma das vozes mais influentes no projeto da “História Geral da África” promovido pela UNESCO, colaborando com intelectuais como Joseph Ki-Zerbo. Professor na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, M’Bokolo transformou o campo da historiografia africana ao demonstrar que a África não é objeto da história: é, desde sempre, seu sujeito activo e criador.

26/06/2025

"Se não lidarmos muito bem com a nossa independência, os colonizadores voltarão na forma de investidores"

Simon Mwansa Kapwepwe ex-vice-presidente da Zâmbia (1967)

19/06/2025

A tolerância chegará a tal ponto, que as pessoas inteligentes serão proibidas de fazer qualquer reflexão para não ofender os imbecis. O politicamente correto distorceu o diálogo. Opiniões viraram ameaças e quem tem algo valioso a dizer é silenciado. Enquanto os que propagam futilidade ganham holofotes e aplausos.

Já parou para pensar que aqueles que deveriam provocar reflexão estão sendo calados?

A mediocridade passou a ser protegida. Chegamos a um tempo em que a verdade incomoda mais do que a mentira. E isso é alarmante.

Estamos moldando uma geração que prefere o conforto da ilusão ao desconforto da realidade. Se esse cenário persistir, as mentes críticas serão apagadas e nos afogaremos em um oceano de ignorância.

Dizer a verdade jamais deveria ser tratado como um crime.

Dostoyevsky.

30/05/2025

DO EGITO A AXUM: A GRANDE JORNADA DAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS NA ANTIGUIDADE

𝗔𝘀 𝗢𝗿𝗶𝗴𝗲𝗻𝘀 𝗠𝗶𝗹𝗲𝗻𝗮𝗿𝗲𝘀 𝗱𝗼 𝗩𝗮𝗹𝗲 𝗱𝗼 𝗡𝗶𝗹𝗼

De acordo com registros arqueológicos, o Vale do Nilo era habitado desde o período Paleolítico, entre 3 milhões e 100 mil anos atrás. Por volta do 7º milênio a.EC, práticas agrícolas e de pastoreio já se desenvolviam no delta do Nilo, expandindo-se gradualmente para o sul ao longo das margens do rio.

Com o avanço da desertificação do Saara a partir do 5º milênio a.EC, povos nômades e seminômades oriundos do norte de África e do Oriente Médio migraram para as margens do Nilo em busca de sobrevivência. Esses grupos se integraram às populações locais, formando aldeias no Alto (sul) e Baixo (norte) Nilo. Posteriormente, tais aldeias deram origem a pequenas cidades independentes.

Ao longo do tempo, uma identidade cultural comum emergiu entre essas comunidades, impulsionada pelas origens compartilhadas e pelas trocas comerciais. Esse processo culminou na unificação política da região do Baixo Nilo por volta de 3100 a.EC, sob a liderança do rei Menés, considerado o primeiro faraó do Egito unificado.

𝗡𝘂́𝗯𝗶𝗮: 𝗔 𝗖𝗶𝘃𝗶𝗹𝗶𝘇𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗜𝗿𝗺𝗮̃ 𝗮𝗼 𝗦𝘂𝗹 𝗱𝗼 𝗘𝗴𝗶𝘁𝗼

Enquanto o Egito consolidava sua estrutura faraônica ao norte, ao sul florescia a civilização núbia, formada por reinos independentes. A fronteira entre os dois povos localizava-se próximo à primeira catarata do Nilo, e a cidade de Siene (atual Assuã) destacava-se como importante centro comercial.

Os núbios praticavam agricultura e pastoreio, destacando-se na produção de cerâmica refinada. Suas riquezas ouro, ébano e marfim despertaram o interesse egípcio, resultando em constantes conflitos. Já na 1ª dinastia egípcia, há registros de guerras contra os núbios, o que demonstra que estes também apresentavam resistência e ofensiva militar contra o Egito.

Durante a 18ª dinastia egípcia (século 15 a.EC), a Núbia foi ocupada e transformada em vice-reinado egípcio. A cultura núbia passou, então, a ser fortemente influenciada: deuses, costumes e a escrita hieroglífica egípcia foram impostos à região.

𝗢 𝗥𝗲𝗶𝗻𝗼 𝗱𝗲 𝗞𝘂𝘀𝗵: 𝗗𝗼 𝗗𝗼𝗺𝗶́𝗻𝗶𝗼 𝗮̀ 𝗦𝘂𝗽𝗿𝗲𝗺𝗮𝗰𝗶𝗮

Dentre os reinos núbios, o mais notável foi o de Kush (ou Cuxe). Embora sua origem seja incerta, registros egípcios já o mencionam no século 20 a.EC. A primeira capital foi Kerma, próximo à terceira catarata do Nilo, mas mais tarde a capital foi transferida para Napata, próximo à quarta catarata medida estratégica para afastar-se da ameaça egípcia.

Em um giro inesperado da história, por volta de 713 a.EC, o rei kush*ta Shabaka invadiu o Egito e estabeleceu a 25ª dinastia, com base na fraqueza egípcia devido a conflitos internos. O Antigo Testamento menciona esses poderosos guerreiros negros em diversos trechos.

No entanto, a expansão do império kush*ta pelo delta do Nilo os colocou em confronto com o império assírio. Embora o rei Assaradão tenha sido derrotado, seu sucessor Assurbanipal conseguiu conquistar o delta em 663 a.EC, forçando a retirada dos kush*tas para o sul.

A nova capital, Meroé, fundada no século 6 a.EC, situava-se ainda mais ao sul. Tornou-se um próspero entreposto comercial entre o interior da África e o mar Vermelho, e centro da metalurgia do ferro tecnologia na qual os africanos eram altamente especializados, a ponto de terem ensinado os portugueses no século 15 d.EC técnicas avançadas de fundição.

Mesmo após sucessivas conquistas do Egito (por assírios, persas, macedônicos e romanos), o Reino de Kush, também conhecido como Reino Meroíta, permaneceu independente por mais de 800 anos, dominando importantes rotas comerciais e mantendo relações diplomáticas com os faraós ptolomaicos.

𝗢 𝗗𝗲𝗰𝗹𝗶́𝗻𝗶𝗼 𝗱𝗲 𝗠𝗲𝗿𝗼𝗲́ 𝗲 𝗮 𝗔𝘀𝗰𝗲𝗻𝘀𝗮̃𝗼 𝗱𝗲 𝗔𝘅𝘂𝗺

Com a conquista romana do Egito e o bloqueio comercial imposto ao reino de Kush, Meroé enfrentou uma longa crise econômica. Enfraquecida, foi conquistada no século 4 d.EC pelos axumitas — povos originários da Península Somali, no atual território da Etiópia e Eritreia.

𝗔𝘅𝘂𝗺: 𝗢 𝗜𝗺𝗽𝗲́𝗿𝗶𝗼 𝗖𝗿𝗶𝘀𝘁𝗮̃𝗼 𝗲 𝗮 𝗿𝗲𝘀𝗶𝘀𝘁𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗰𝗼𝗹𝗼𝗻𝗶𝗮𝗹

O Reino de Axum floresceu na região onde hoje se localiza a Etiópia. Segundo a tradição, teria sido fundado por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha de Sabá, conforme relato do Antigo Testamento. Embora lendária, essa narrativa moldou a identidade axumita por séculos.

Axum estabeleceu-se às margens do rio Atbara e era habitada por populações locais e migrantes oriundos da Arábia (antes do século 6 a.EC). Já no século 3 a.EC, os kush*tas mantinham comércio com Axum, cuja importância comercial se consolidou com o porto de Adulis, no mar Vermelho.

Entre os séculos 1 e 4 d.EC, Axum tornou-se uma das mais ricas e influentes potências do continente, controlando rotas comerciais e militares no mar Vermelho. Desenvolveram uma escrita própria — o gueze ou geês — e, graças à diplomacia, muitos dos seus textos foram preservados em grego.

Em 335 d.EC, os axumitas destruíram Meroé, encerrando o Reino de Kush e difundindo a cultura kush*ta em direção ao oeste (até o atual Chade). Posteriormente, Axum tornou-se um dos primeiros reinos cristãos do mundo, graças à influência copta egípcia.

Com a expansão do Islã no século 7, Axum perdeu seu protagonismo econômico e político, mas sua identidade cristã persistiu. Durante a expansão marítima portuguesa (século 15), muitos exploradores buscavam encontrar o mítico “Reino do Prestes João”, identificado por muitos como o antigo reino de Axum.

Séculos depois, no contexto do neocolonialismo europeu do século 19, enquanto grande parte do continente africano foi repartido entre potências imperialistas, a Etiópia destacou-se como um dos poucos reinos que preservaram sua soberania. Compreender e valorizar a história etíope é, portanto, essencial para a construção de uma visão mais ampla e justa da trajetória da humanidade.

𝗥𝗲𝗳𝗲𝗿𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮𝘀 𝗕𝗶𝗯𝗹𝗶𝗼𝗴𝗿𝗮́𝗳𝗶𝗰𝗮𝘀

-Obenga, Théophile. África na Antiguidade: Cultura e Civilizações da África Negra. UNESCO/Casa das Áfricas, 2007.

-Davidson, Basil. África: História de um Continente. São Paulo: Ática, 1988.

-Diop, Cheikh Anta. Civilização ou Barbárie: Uma Autêntica Antropologia Negra. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.

-Ki-Zerbo, Joseph. História Geral da África – Vol. I: Metodologia e Pré-História da África. UNESCO/EdUSP, 2010.

-Pankhurst, Richard. The Ethiopians: A History. Oxford: Blackwell, 2001.

-Welsby, Derek A. The Kingdom of Kush: The Napatan and Meroitic Empires. London: British Museum Press, 1996.

-UNESCO. História Geral da África – Vol. II: África Antiga. UNESCO/Edusp, 2011.

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HAPPY ÁFRICA DAY
25/05/2025

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DONA ANA JOAQUINA: O PAPEL ACTIVO DE UMA MULHER  ANGOLANA NO TRÁFICO DE ESCRAVOS É provável que você já tenha ouvido fal...
18/05/2025

DONA ANA JOAQUINA: O PAPEL ACTIVO DE UMA MULHER ANGOLANA NO TRÁFICO DE ESCRAVOS

É provável que você já tenha ouvido falar ou até mesmo visitado o edifício conhecido por muitos como "Tribunal Dona Ana Joaquina". No entanto, resta a questão essencial: você conhece, de facto, o peso histórico que este nome carrega?"

No centro da cidade de Luanda, um edifício de traços coloniais abriga hoje um dos Tribunais da capital angolana. Seu nome, cravado nas paredes e no imaginário popular, é o de uma figura histórica poderosa e controversa: Dona Ana Joaquina dos Santos e Silva. Também conhecida simplesmente como " 𝐃𝐎𝐍𝐀 𝐀𝐍𝐀 𝐉𝐎𝐀𝐐𝐔𝐈𝐍𝐀 𝐨𝐮 𝐃𝐎𝐍𝐀 𝐀𝐍𝐀 𝐌𝐔𝐋𝐀𝐓𝐀".

O antigo palácio que outrora foi sua residência é hoje conhecido como Palácio Dona Ana Joaquina, símbolo vivo de uma época marcada pelo comércio de escravos e pela dominação colonial. Mais de um século após sua morte, o nome de Dona Ana Joaquina ainda ecoa em Angola carregado de memórias e feridas históricas. Mas afinal quem foi Dona Ana Joaquina e qual o seu poder econômico e porque um tribunal decidiu manter o seu nome cravado na memória?

𝐐𝐮𝐞𝐦 𝐟𝐨𝐢 𝐃𝐨𝐧𝐚 𝐀𝐧𝐚 𝐉𝐨𝐚𝐪𝐮𝐢𝐧𝐚 𝐞 𝐪𝐮𝐚𝐥 𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐥𝐞𝐠𝐚𝐝𝐨 𝐡𝐢𝐬𝐭𝐨́𝐫𝐢𝐜𝐨?

Também mencionada como Dona Ana Joaquina dos Santos ou "Dona Ana Mulata". Nasceu em Luanda, era de ascendência africana e europeia. Tendo por pai o português Joaquim de Santa Ana Nobre dos Santos e a mãe Dona Tereza de Jesus. Destacou-se a partir da década de 1830 como rica e influente financiadora, investidora e empreendedora, com atuação principal nos negócios do tráfico transatlântico de escravos(as).

Ao longo da vida casou-se, sucessivamente, com o Coronel João Rodrigues, com quem teve uma filha, e com o próspero negociante português Joaquim Ferreira Santos Silva, com quem dividiu a administração dos negócios e depois de sua morte assumiu pleno controlo das atividades comerciais e rurais.

𝐎 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐫 𝐞𝐜𝐨𝐧𝐨̂𝐦𝐢𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝐃𝐨𝐧𝐚 𝐀𝐧𝐚 𝐉𝐨𝐚𝐪𝐮𝐢𝐧𝐚

Dona Ana Joaquina foi proprietária de fazendas de açúcar em Icolo e Bengo, e outras plantações no distrito de Golungo Alto e em Moçâmedes, no litoral sul de Angola, e proprietária de centenas de escravos. Em Angola, tinha investimentos em Luanda, Moçâmedes, Dande, Icolo e Bengo. Detinha a propriedade de diversos navios negreiros que circulavam dos portos de Luanda e Benguela para a Baia, Recife, Rio de Janeiro, e também abasteciam os mercados de escravos em Montevidéu e em Lisboa. Em 1843 também atuava junto aos sertanejos e pombeiros no apresamento de escravos no interior, em parceria com o comerciante e explorador português Joaquim Rodrigues Graça.

𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐚𝐬𝐜𝐞𝐧𝐝𝐞𝐮 𝐚 𝐞𝐥𝐢𝐭𝐞 𝐚𝐧𝐠𝐨𝐥𝐚𝐧𝐚?

Ascendeu à elite econômica local graças ao tráfico de escravos atividade que então movimentava as fortunas coloniais. Numa época em que o espaço da mulher era severamente limitado, ela rompeu barreiras e impôs-se como uma das maiores comerciantes de Angola, dominando rotas de comércio entre o interior africano e os portos do Atlântico, com especial ligação ao Brasil.

Sua fortuna foi construída sobre a dor de milhares de africanos escravizados e vendidos para as Américas. Possuía navios, armazéns e uma estrutura empresarial que faria inveja a muitos homens de negócios europeus. Mais do que uma comerciante, Dona Ana Joaquina foi também uma figura política influente, com relações estreitas com autoridades coloniais, militares e eclesiásticas.

𝐎 𝐏𝐚𝐥𝐚́𝐜𝐢𝐨 𝐞 𝐚 𝐏𝐞𝐫𝐩𝐞𝐭𝐮𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐨 𝐍𝐨𝐦𝐞

O palácio onde Dona Ana Joaquina viveu, localizado na baixa de Luanda, foi um símbolo do luxo e do poder que ostentava. Construído com materiais nobres e arquitetura neoclássica, o edifício refletia não só a sua riqueza, mas também o seu papel na sociedade colonial. Com o passar do tempo e o fim do tráfico de escravos, o imóvel foi integrado ao património do Estado angolano.

Hoje, o Palácio Dona Ana Joaquina abriga o Tribunal Provincial de Luanda . A ironia histórica é inevitável: um tribunal que representa a justiça contemporânea opera dentro do edifício que pertenceu a uma das maiores comerciantes de seres humanos do país. Este facto mantém viva a memória de Dona Ana Joaquina, provocando reflexões profundas sobre o passado, o presente e a forma como a história é conservada nos símbolos e nas instituições.

𝐇𝐞𝐫𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐬 𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚𝐝𝐢𝐜̧𝐨̃𝐞𝐬

Para alguns, Dona Ana Joaquina é lembrada como uma mulher corajosa, empreendedora, que dominou um mundo masculino com inteligência e audácia. Para outros, é impossível ignorar que sua fortuna se ergueu sobre um dos crimes mais hediondos da humanidade: a escravização de povos africanos.

A sua história expõe uma das faces menos discutidas da escravidão: a participação de elites locais no sistema de comércio humano, em aliança com os impérios coloniais europeus. Dona Ana Joaquina não foi uma exceção, mas sim um exemplo poderoso dessa realidade.

Ao que parece, era alfabetizada. Desfrutava de posição e grande prestígio na sociedade angolana da metade do século XIX. Faleceu enquanto viajava para Portugal em busca de tratamento médico.

𝐅𝐨𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐞 𝐑𝐞𝐟𝐞𝐫𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚𝐬

-CARDOSO, Carlos Alberto Lopes. “Ana Joaquina dos Santos Silva, industrial angolana da segunda metade do século XIX. Boletim Cultural da Câmara Municipal de Luanda, Luanda, v. 32, p. 05-14, 1972.

-OLIVEIRA, Vanessa dos Santos. Donas, pretas livres e escravas em Luanda (sec. XIX). Estudos Ibero-Americanos, v. 44, n. 3, p. 447-456, 2018.

-Angola & História - 'UMA RICA DONA DE LUANDA', de Júlio de Castro Lopo - Lisboa 1948 - MUITO RARO

-Curto, José C. África e o Atlântico: Comércio e escravidão em Angola. Lisboa: Centro de Estudos Africanos, 2004.

-Miller, Joseph C. Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730–1830. Madison: University of Wisconsin Press, 1988.

-Ferreira, Roquinaldo. Cross-Cultural Exchange in the Atlantic World: Angola and Brazil during the Era of the Slave Trade. Cambridge University Press, 2012.

-Heywood, Linda. Contested Power in Angola, 1840s to the Present. Rochester: University of Rochester Press, 2000.

-Arquivo Histórico Nacional de Angola: Documentos sobre a escravidão e o comércio atlântico.

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Gérard Soete: Cortei Patrice Lumumba em 34 pedaços📌“Cortei e dissolvi o corpo de Lumumba em ácido. No meio da noite afri...
01/05/2025

Gérard Soete: Cortei Patrice Lumumba em 34 pedaços📌

“Cortei e dissolvi o corpo de Lumumba em ácido. No meio da noite africana, começámos por nos embriagar para ter coragem. Despachámos os corpos. A parte mais difícil foi cortá-los em pedaços com uma motosserra antes de lhes deitar ácido por cima. Quase não ficou nada, apenas um dente de ouro, que ele usava e o cheiro! Lavei-me três vezes e senti sempre como um bárbaro sujo.”

Estas palavras são de Gérard Soete, proferidas a 15 de maio de 2002, quarenta anos após o assassinato do líder congolês Patrice Lumumba.‼️

Em Pantera Negra (2018)👏🏾💪🏾👌🏾
27/04/2025

Em Pantera Negra (2018)

👏🏾💪🏾👌🏾

OS CRIMES DE MUAMMAR AL-KADHAFIData de nascimento: 7. Junho 1942Falecimento: 20. Outubro 2011Muammar Mohammed Abu Minyar...
22/04/2025

OS CRIMES DE MUAMMAR AL-KADHAFI

Data de nascimento: 7. Junho 1942
Falecimento: 20. Outubro 2011

Muammar Mohammed Abu Minyar al-Kadhafi foi um militar, político e ideólogo líbio, sendo o presidente da Líbia entre 1969 e 2011.

Kadhafi chegou ao poder em 1969, sem derramar sangue, após chegar ao poder, ele aboliu a Constituição Líbia de 1951 e estabeleceu políticas alinhadas com sua ideologia chamada de "Terceira Teoria Internacional" que foram publicadas em seu trabalho intitulado Livro Verde. Durante seu governo, a Líbia experimentou alguns períodos de forte crescimento econômico.

Kadhafi sustentou vários programas sociais que acabaram por dar a Líbia o maior Índice de Desenvolvimento Humano do continente africano, além de aumentar a participação das mulheres na vida pública e de dar mais direitos aos negros.
Durante seu governo, a Líbia teve a menor dívida pública do mundo.

ESTADOS UNIDOS DE ÁFRIKA

O termo "Estados Unidos da África" foi mencionado primeiro por Marcus Garvey em seu poema Hail, United States of Africa em 1924.

Após ser eleito presidente da União Africana na Etiópia, Kadhafi declarou aos líderes africanos reunidos: "Vou continuar insistindo que nossos países soberanos trabalhem para alcançar os Estados Unidos da África."

A BBC informou que Kadhafi havia proposto "uma única força militar africana, uma moeda única e um passaporte único para os africanos movimentarem-selivremente pelo continente".
Outros líderes africanos afirmaram que estudariam as implicações da proposta e a rediscutiriam em maio de 2009.

O foco para o desenvolvimento dos Estados Unidos da África tem sido a construção de subdivisões da África - a proposta para uma Federação da África Oriental pode ser vista como um exemplo disso. O ex-presidente do Senegal Abdoulaye Wade indicou que os Estados Unidos da África poderiam existir a partir de 2017.
A União Africana, em contraste, estabeleceu a tarefa de construir uma África "unida e integrada" até 2025.

Defendia idea de moeda única para os africanos, para tirar supremacia cambial do dólar norte americano.

📷 Nas imagens quando ele foi capturado perguntou "o que de mal vous fiz?"

Sua luta incansável para África nunca será esquecido especialmente para esta página.

Por Nlandu Afonso,

Em Matrix, há uma cena emblemática onde Morpheus conduz Neo por uma simulação. Enquanto caminham por uma rua movimentada...
12/04/2025

Em Matrix, há uma cena emblemática onde Morpheus conduz Neo por uma simulação. Enquanto caminham por uma rua movimentada, Morpheus pergunta: “Estava prestando atenção em mim… ou na mulher de vermelho?” No instante seguinte, ao se virar, Neo percebe que a mulher sumiu e em seu lugar há um agente armado, pronto para atacá-lo. Essa cena, breve mas impactante, revela uma verdade profunda sobre o mundo em que vivemos.

A "mulher de vermelho" representa tudo aquilo que a Matrix — o sistema — usa para desviar nossa atenção: prazeres momentâneos, distrações banais, estímulos constantes que nos fascinam e entorpecem. Enquanto olhamos para o que brilha, o real perigo se aproxima silenciosamente.

Essa metáfora nos ensina que a verdade exige atenção e vigilância. O sistema trabalha para nos manter ocupados demais, entretidos demais, confusos demais para questionar, perceber ou reagir. Quando nos damos conta, já estamos presos nas armadilhas da rotina, do consumismo, do medo e da falsa sensação de liberdade.

Estar desperto é resistir às distrações. É aprender a olhar além do que nos é mostrado. A "mulher de vermelho" está por toda parte — cabe a nós decidir se continuamos encantados… ou despertamos.
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Via Revellati Online

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Luanda Sul/Viana
Viana

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