17/07/2025
MAIS DE R$ 120 MILHÕES FORAM EMBORA: O CUSTO BRUTAL DA AUSÊNCIA DE UM HOSPITAL-ESCOLA EM ADAMANTINA
Em 10 anos de curso de Medicina, FAI/UNIFAI/FAI não conseguiu preparar a Santa Casa local; enquanto isso, São Carlos lucra e Adamantina afunda em promessas não cumpridas
Por Márcio Barreto
Adamantina (SP), 17/07/2025
Desde 2015, o curso de Medicina do Centro Universitário de Adamantina (FAI/UNIFAI/FAI) é tratado como símbolo de prestígio acadêmico e orgulho regional. Porém, por trás das placas comemorativas e dos discursos sobre “desenvolvimento local”, esconde-se uma realidade incômoda e dispendiosa: os alunos da Medicina não realizam seu internato em Adamantina, mas a quase 600 km de distância, na Santa Casa de Misericórdia de São Carlos. E o custo dessa ausência para a cidade já ultrapassa os R$ 120 milhões.
UM ROMBO SILENCIOSO
O convênio firmado entre a FAI e a Santa Casa de São Carlos teve início oficial em maio de 2020, amparado pela Lei Municipal nº 3.983/2020 e renovado em 2025 por meio do Projeto de Lei nº 032/2025. Segundo dados oficiais, o valor mensal pago por aluno é de R$ 3.963,53. Considerando que a FAI já enviou aproximadamente 300 alunos para o internato em São Carlos, nesses cinco anos (2020 a 2025), o Centro Universitário de Adamantina já gastou cerca de R$ 74 milhões, recursos públicos que saíram de Adamantina e foram parar em outra cidade.
Esses R$ 74 milhões poderiam, e deveriam, ter sido injetados na economia local: na Santa Casa de Adamantina, em melhores de equipamentos e salários aos servidores e professores da FAI, no comércio, no setor imobiliário e em profissionais de saúde do município. Em vez disso, sustentam leitos, médicos e infraestrutura em São Carlos.
QUASE R$ 46 MILHÕES FORA DE ADAMANTINA: O IMPACTO INVISÍVEL DO INTERNATO LONGE DE CASA
Além do custo direto à FAI, há os gastos dos próprios alunos, que vivem fora por até dois anos durante o internato. Somando aluguéis, combustível, transporte, alimentação, mercado, farmácia, bares, roupas, contas água, energia, salão de beleza, internet, entre outros, o prejuízo indireto à economia local é brutal.
“É um efeito dominó. Com os alunos fora, o dinheiro vai embora junto. A cidade deixa de gerar emprego, de fortalecer seus serviços e perde o retorno social da formação médica”, comenta um empresário local do setor de alimentação que não quis se identif**ar.
Além dos mais de R$ 74 milhões pagos diretamente pela FAI à Santa Casa de São Carlos, os alunos de Medicina também geram perdas signif**ativas para a economia adamantinense. Estima-se que, durante os dois anos em que vivem fora da cidade para cumprir o internato, cada estudante gaste cerca de R$ 2.500,00 por mês com aluguel, alimentação, transporte, contas de água e energia e consumo em geral. Em cinco anos, com quase 300 alunos, o prejuízo indireto ultrapassa R$ 46 milhões — um valor que poderia ter sido injetado no comércio local, no setor de serviços e na geração de empregos. É o custo invisível de uma promessa não cumprida: o hospital-escola que Adamantina ainda espera.
UMA DÉCADA DE PROMESSAS
Desde a criação do curso, em 2015, a promessa era clara: uma parte dos alunos formados em Adamantina atuaria na cidade. Para isso, firmou-se um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministério Público, FAI, Prefeitura e Santa Casa, exigindo a adequação da unidade hospitalar local para funcionar como hospital-escola.
Dez anos depois, a promessa virou frustração. Ainda que a FAI afirme ter investido quase R$ 30 milhões em obras e equipamentos na Santa Casa de Adamantina, o hospital segue sem certif**ação, sem estrutura adequada e sem receber os estagiários do internato médico.
MÁRCIO CARDIM PROMETEU E NÃO ENTREGOU
O ex-diretor-geral da FAI e ex-prefeito de Adamantina por dois mandatos, Prof. Dr. Márcio Cardim, foi um dos principais entusiastas da chegada do curso de Medicina à cidade. À época, afirmou que “a conquista do curso marcaria um novo momento de desenvolvimento local e regional, impulsionando o progresso econômico e a qualif**ação educacional da nossa cidade.”
A fala empolgou a comunidade. Mas passados dez anos, o que se vê é o contrário: Adamantina perdeu milhões, não ganhou o hospital-escola prometido, e continua com um sistema de saúde fragilizado. A cidade aplaudiu promessas, mas colheu ausência. Onde está o desenvolvimento anunciado por quem esteve no comando da FAI e da Prefeitura?
JUDICIALIZAÇÃO E NEGLIGÊNCIA
Em 2023, o Ministério Público chegou a acionar a Justiça para proibir o envio de alunos a São Carlos, alegando que o TAC estava sendo desrespeitado. Houve busca e apreensão na sede da FAI, e o caso gerou grande repercussão. No entanto, uma decisão do Tribunal de Justiça autorizou a continuidade do convênio com São Carlos, desde que os investimentos em Adamantina seguissem em andamento, mas esses investimentos estão a passos de formiga.
A POPULAÇÃO PRECISA SABER
Essa reportagem é um alerta à comunidade adamantinense: o que está em jogo não é ap***s o destino de estudantes, mas o futuro da cidade. A continuidade do internato fora do município drena recursos, empobrece o comércio local, fragiliza o hospital e expõe a ineficiência das gestões que passaram pela FAI, pela Santa Casa de Adamantina e pela Prefeitura nos últimos 10 anos.
QUANDO TEREMOS A CERTIFICAÇÃO COMO HOSPITAL-ESCOLA JUNTO AO MEC?
A população e os empresários de Adamantina precisam cobrar um cronograma público de conclusão das obras na Santa Casa de Adamantina, prazo para a certif**ação como hospital-escola junto ao MEC, a publicação de um plano de transição para o retorno imediato dos alunos à cidade e a prestação de contas detalhada do convênio com a Santa Casa de São Carlos.
BASTA DE FUGA DE CÉREBROS E DE DINHEIRO!
Adamantina tem direito a colher os frutos do curso que ajudou a construir. Não podemos mais assistir, passivamente, aos milhões que saem da cidade enquanto a saúde local segue em dificuldade e o comércio espera por clientes que não virão.
RENATO LIMA, DIRETOR DA SANTA CASA, IGNORA PRAZOS E NÃO RESPONDE SOLICITAÇÃO SOBRE O INTERNATO DA FAI
Ontem, quarta-feira (16), o Adamantina Notícias enviou um e-mail ao diretor administrativo da Santa Casa, Renato Sobral de Lima, às 11h47, solicitando informações sobre a adequação da instituição para o internato médico. No pedido, foi estipulado prazo de resposta até as 17h do mesmo dia.
Por volta das 16h, a equipe entrou em contato por telefone com o administrador, que orientou o reenvio da solicitação para um novo endereço de e-mail. A solicitação foi então reenviada, com novo prazo de resposta: até as 12h desta quinta-feira (17).
No entanto, até o momento, nenhuma resposta foi enviada pelo diretor da Santa Casa de Adamantina.
A hora de mudar essa realidade é agora.