
02/07/2025
3 de julho: 4 anos sem Polezze
Rogério Polezze
O tempo pode passar, mas a saudade não. Nem a vontade de chorar, ao lembrar meu pai… Mas, se chorar, não é tão ruim como costumava ser.
Lembrar o meu pai é recordar todas as vezes que eu, criança, ia à Rádio (Cultura), para vê-lo, ainda que rapidamente. Imagens da década de 80…
Ele não parava. Se eu fosse na hora do programa de notícias - naquele auditório, então, histórico (jamais poderia ter sido demolido) -, ficava quieto (claro), para não atrapalhar, e ele comentava e se posicionava sobre tudo. E quase “tudo” de improviso.
Ou, se eu fosse no meio da tarde, atravessando a portaria da Rádio, já estava na entrada da sala do Polezze.
Realmente, ele tinha uma rotina agitada. Telefonemas ou pessoas querendo falar com ele. E aquele “prim-prim” incessante dos aparelhos discados.
Apesar do orgulho danado daquele pai, quantas vezes batemos boca. Dois cabeças-duras. Mas, até nas discussões, o resultado era delicioso: porque tudo passava. Afinal, sem falar nada, já sabíamos que podíamos contar um com o outro. Eu sabia. Acho que ele também.
O coração do Polezze era algo descomunal.
Como ele sentia. Como ele amava. Por isso, era uma “casquinha de ferida”. Mas como ser diferente com aquele coração gigante, né, pai?
Lembrar meu pai agora é também celebrar todo o apoio que ele dava. Para tudo. OK. Talvez, sendo realista, menos para “fazer algum curso” (por exemplo) fora do seu “alcance geográfico”. Sim, porque ele não queria ninguém da família longe.
Mas isso também se transformou numa linda lembrança do meu pai e seu grande coração. Tão desejoso de ter sua família reunida numa mesa de domingo.
Infelizmente, a mesa vai ficando vazia. Mas, quem sabe, a distância com a morte seja apenas uma etapa da “vida”? Quem sabe todos nos encontremos numa outra “mesa de domingo”?
Enquanto não tenho respostas, vou ficando por aqui, com saudade e muitas memórias do meu pai. Assim, sinto o meu pai bem perto e fazendo parte de quem sou. E, se sou meu pai em algum pedaço de mim mesmo, ele está comigo. Permanentemente.
Imagem: arquivo pessoal, bilhete do filho muito criança (mal sabendo escrever), que o pai guardou por décadas.