12/08/2025
Carros fantasmas, peças invisíveis e um rastro de dinheiro que
pode ter custado vidas em Boa Vista do Tupim
Documentos e fotos revelam esquema milionário de notas frias para
manutenção de veículos sucateados. Recursos da saúde e educação teriam
financiado compras fictícias enquanto pacientes aguardavam atendimento.
Por Lúcio Vérnon
A garagem municipal de Boa Vista do Tupim exibe um retrato de abandono: ambulância
sem pneus, carros depenados, ônibus escolares enferrujados. No papel, porém, tudo
parece funcionar. Há notas fiscais, processos de pagamento e registros de
“manutenção” custeada com verbas das áreas mais sensíveis do orçamento público.
Entretanto, uma denúncia encaminhada ao Ministério Público Federal sustenta que a
prefeitura pagou por peças automotivas que jamais chegaram aos veículos, valendo-se
de placas de sucata para justificar despesas e, com isso, desviar recursos destinados à
saúde e à educação.
O contrato usado como base é o nº 005/2024, oriundo do pregão eletrônico nº 011/2024,
firmado com a empresa Souza Sucatão LTDA ME (CNPJ 23.295.861/0001-40) para
fornecimento de autopeças à frota municipal, inclusive às secretarias de Saúde e Educação.
A constatação de que as peças não estão nos carros decorre de fiscalização presencial
realizada em 5 de agosto de 2025, quando parlamentares fotografaram e filmaram a
situação da garagem. Os registros mostram que, enquanto as ordens de pagamento
circulavam, a realidade era de veículos imobilizados, sem qualquer sinal de manutenção
recente.
Quando o papel mente
A denúncia se apoia em casos concretos que revelam a distância entre os documentos e a
realidade. Uma ambulância de placa RCT6G79 aparece como destino de aquisições em
fevereiro, março, maio e junho, somando cerca de R$ 30 mil. No entanto, na vistoria,
estava parada, sem pneus e inoperante — um indicativo de que as compras serviram
apenas para respaldar a saída de recursos públicos. O fato de a placa ter sido usada em
mais de uma operação ao longo de meses reforça, segundo os denunciantes, a suspeita de
um esquema sistemático.
Outro caso é o do Fiat Doblò, placa PKG-8333, que em maio teria recebido quatro pneus
no valo