22/06/2025
Oito Anos Sem Ele, Mas Com Ele Todos os Dias
Por Dr. Eugênio Lustosa.
Hoje faz oito anos que meu pai partiu. Não questiono o destino: ele se foi quando precisava ir. Médico até os 57 anos, parou por questões de saúde, mas nunca o ouvi reclamar da vida. Precisava de nossa atenção, mas nos dava algo maior: sua presença silenciosa e cheia de significado.
Passávamos horas sentados, lendo juntos. Ele, com seus jornais e livros; eu, com minhas apostilas de cursinho. O tempo não nos faltava, e nesses momentos simples, ele me ensinou sem discursos.
Seguir sua profissão foi minha forma de honrá-lo. Admirava profundamente sua medicina voltada para o sertão sofrido, para os humildes carentes não só de remédios, mas de atenção humana. Tentei ser para ele um pouco do que ele era para seus pacientes: ouvinte, companheiro nos caminhos difíceis que só se percorrem a dois.
Hoje, como pai, repito com meus filhos os gestos que ele teve comigo. Na época, não entendia tudo – éramos tão diferentes. Quem me dera ter herdado sua paciência de rio e sua resiliência de rocha.
Mas carrego dentro de mim sua voz, ecoando todos os dias:
“Quem não vive pra servir, não serve pra viver.”
Essa era sua resposta quando eu questionava por que tantas vezes sua bondade não era reconhecida. Ele nunca desistiu. Até nos últimos dias, me recebia com sorriso, apesar da dor.
Meu pai nunca escondeu de mim suas fraquezas ou medos. Lembro nitidamente do dia em que, ao voltar de viagem, corri do aeroporto para o hospital. Ao abrir a porta do quarto, ele me disse:
“Ainda bem que você chegou.”
Naquele instante, senti o peso de seu amor e confiança – e também a dor de não estar ao seu lado desde o início.
Ele se foi, mas não está ausente.
Está em cada consulta que faço com o coração aberto.
Nas horas que dedico a ouvir quem sofre.
No jeito que meus filhos e eu nos sentamos para ler juntos, como um dia fizemos.
Meu pai me mostrou que o maior legado não é o que deixamos, mas o que continua vivo nos gestos de quem amamos. E hoje, ao servir, ao ouvir, ao acolher – sei que ele vive.
Com saudade que não dói, mas conduz.