26/08/2025
Morre Mestre Damasceno, guardião do carimbó e criador do Búfalo-Bumbá
Mestre Damasceno, um dos maiores nomes da cultura popular do Pará, faleceu na madrugada desta terça-feira (26), em Belém, aos 71 anos. Ele tratava um câncer e enfrentava outras complicações de saúde. A partida ocorre justamente no Dia Municipal do Carimbó 26 de agosto, data criada por lei em Belém em homenagem a Mestre Verequete o que reforça o simbolismo dessa despedida.
Quem foi
Nascido em Salvaterra, na Ilha do Marajó, em 1954, Damasceno Gregório dos Santos tornou-se referência como cantor, compositor e mestre de carimbó. Quilombola e artista popular, ele perdeu a visão aos 19 anos após um acidente, recomeçou a vida e seguiu criando, acumulou mais de 400 composições, formou gerações de brincantes e levou o Marajó para os palcos do Brasil. Em 2023, sua obra foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Pará, em 2025, foi condecorado como Comendador da Ordem do Mérito Cultural.
O criador do Búfalo-Bumbá
Damasceno transformou o tradicional folguedo do boi em uma linguagem com sotaque marajoara: o Búfalo-Bumbá, que ele passou a consolidar a partir do fim dos anos 1980 e batizou em 2012. A brincadeira reúne teatro de rua, música e figurinos coloridos, com o búfalo como figura central, em diálogo direto com a história e o cotidiano da Ilha do Marajó.
Do Marajó à Sapucaí
A força da sua obra ultrapassou o Pará. Em 2023, o enredo da Paraíso do Tuiuti contou a saga dos búfalos na Amazônia e projetou Damasceno para o grande público do Carnaval carioca. No ciclo seguinte, ele inspirou e participou de ações ligadas ao samba-enredo da Grande Rio sobre a cultura paraense, aproximando o carimbó e as águas do Pará dos desfiles na Marquês de Sapucaí.
Discos, filmes e memória
Além dos cortejos e dos bois, Damasceno gravou álbuns com os Nativos Marajoara e virou tema de documentários, entre eles “Mestre Damasceno: o Resplendor da Resistência Marajoara. Em 2025, a Secretaria de Cultura do Pará lançou um livro sobre sua trajetória, registrando sua vida, a perda da visão na juventude e a luta pela valorização da cultura popular.
Por que ele importa
Mestre Damasceno, ele escrevia enredos, compunha toadas, conduzia o cortejo, formava crianças e jovens, e fazia da rua um palco acessível a todos. Sua arte manteve vivo um vocabulário inteiro de gestos, ritmos e histórias do Marajó e ajudou o Brasil a olhar para o carimbó com o respeito que merece. O reconhecimento oficial veio com leis, prêmios e honrarias; o reconhecimento popular, com arraiais lotados e o sorriso de quem dançou ao som do seu curimbó.
As informações oficiais de velório e sepultamento devem ser divulgadas pela família e por órgãos públicos do estado ao longo do dia.