02/06/2025
Antes de o Forró Perfeito conquistar os palcos do Brasil com o refrão “Ô Samara, ô Samara, por que você me trai?”, existia apenas um jovem sonhador em um quartinho nos fundos da casa da irmã.
O nome dele é João Silveira.
Em 2009, João morava em Brasília, trabalhava em dois empregos para se sustentar e, com o pouco que sobrava, investia em instrumentos, gravações e sonhos. Andava a pé, com recursos escassos, mas a paixão pela música o mantinha firme mesmo quando tudo ao redor dizia “não”.
Na época, músicas com nomes femininos faziam sucesso — “Ana Júlia”, “Carla”... João teve um estalo:
“Vou fazer uma música com nome de mulher.”
E o nome estava ali, dentro de casa: Samara, sua irmã, que o acolhia naquele momento difícil.
Entrou em seu pequeno quarto e, segundo ele, foi ali que Deus lhe entregou a canção:
“Naquele momento, Deus entrou comigo no quartinho e disse: ‘Filho, olha essa música.’”
E nasceu “Samara”.
Desacreditado, mas inspirado, João conseguiu horas em estúdio e gravou. Era difícil: os produtores preferiam outros artistas. Mas a música tinha alma. O sucesso começou na Bahia e se espalhou. Várias bandas do Nordeste gravaram “Samara” — muitas vezes sem dar o crédito ao autor.
“Essa música tirou muita gente da lama. Não foi só o Forró Perfeito.”
Apesar da repercussão, João não recebeu nada pelos direitos digitais, especialmente no YouTube. Sem redes sociais fortes ou apoio jurídico, era quase impossível reivindicar autoria. Gravadoras se envolveram e tudo ficou ainda mais complicado.
Na pandemia, ele decidiu agir. Começou a cobrar quem usava sem permissão.
“99% pulou fora.”
Foi aí que entrou a editora Fusion Music — um divisor de águas. A equipe assumiu a gestão de suas obras, regularizando registros e royalties. João passou a receber por “Samara” e por várias outras composições esquecidas ou mal geridas.
Hoje, ele olha para tudo com dor e gratidão. Dor pelas batalhas, gratidão porque a música venceu — e sua história também.
E se por acaso a memória falha, ele canta o refrão que não deixou sua voz ser esquecida:
“Ô Samara, ô Samara, por que você me trai?”