02/08/2025
O PECADO DA LARANJEIRA
No fundo do pátio,
Com divisa no vizinho,
Tinha um lindo pomar,
da laranja a bergamota mais doce.
Mas por ali, o vizinho era "caborteiro",
Por alguns, interpretado de egoísta,
para outros, ele só cuidava o que era dele.
Certa feita me pegou no flagra,
Foi aquele "escarcéu",
Ameaçou a chamar a prefeita, juiz e brigada,
Então eu pensei,
Por uma laranja roubada,
Eu vou entrar no céu?
As frutas caiam, apodreciam,
E nem o dono aproveitava,
Se não serve pra nada,
E não gosta de comer,
Por que negar aos seus irmãos?
Pois é, ele que sabe,
É dele.
E nós não temos nada que ver,
Não temos que estar cuidando
O pátio do vizinho.
Mas e aí, é pecado apanhar uma laranja sem avisar?
A laranja era mais doce,
Era melhor vitamina,
Perdoe esta triste sina,
Mas fiz até um "gancho",
Para poder pegar mais.
O muro alto com caco de vidro,
Não me impedia,
Não tinha perigo,
Eu pulava e sacava
Ainda mais.
Dividia com os colegas,
Levava pra casa,
Os filhos aproveitavam,
E eu numa pegada
Era umas 3 ou 4 que "ia".
O vizinho? Continua o mesmo,
cara amarrada, jeito de fiscal,
mas cochila depois do almoço
No horário pontual.
É a hora da festa,
Pulo muro, e encho a sacola,
Já penso como descascar,
Na divisão, no suco,
E até na alegria dos filhos.
O muro continua com vidro,
tem um lugar que já até quebrei.
Chego na laranjeira,
Subo, sacudo o galho mais carregado
e desço com sacola me sentindo um rei.
É vitamina C sem custo,
natureza contra inflação,
e se a fruta vem com “pecado”,
eu mastigo junto o sermão.
Já pensei em me aposentar,
Largar dessa vida e tal,
Mas é mais forte que eu,
é algo natural.
Então, peço desculpas,
Faço prece, canto louvor,
Mas vou falar a verdade,
Que a laranja roubada,
Tem outro sabor.
E se o vizinho descobrir,
Que fiz o poema pensando nele,
Não me leva a mal.
Não corte a laranjeira
Do sabor divino,
Por que pecado é ferir o irmão,
Não matar a fome de um menino.
Mas e aí, é pecado apanhar uma laranja sem avisar?..
Allan Delavequia Lima, 1 de agosto de 2025.