05/07/2025
05 DE JULHO 2025 - 50º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DE CABO VERDE
É com profunda honra e sentido de responsabilidade que tomo a
palavra neste momento histórico. Hoje, 5 de julho de 2025,
celebramos cinquenta anos da independência nacional — meio
século de um percurso marcado por coragem, sacrifício e uma
vontade inquebrável de autodeterminação.
Evocar esta data não é apenas recordar o dia da proclamação da
independência, mas refletir sobre a caminhada que fizemos, os
valores que nos sustentam, os desafios que superámos — e,
sobretudo, as esperanças que alimentamos para as gerações
vindouras.
Cabo Verde nasceu livre pela força de um povo que nunca se
resignou. Entre pedras e ventos contrários, resistimos à escassez
com determinação. A luta de libertação, partilhada com os
irmãos da Guiné-Bissau, foi feita de coragem e de perdas
profundas. Muitos deram tudo, inclusive a vida, para que hoje
possamos erguer a nossa bandeira com orgulho. A esses heróis,
a nossa eterna gratidão.
O sonho da independência nunca foi apenas o de um hino e de
uma bandeira. Foi, desde sempre, o projeto de uma sociedade
mais justa, mais solidária, mais humana. Uma pátria onde cada
caboverdiano possa viver com dignidade, liberdade e esperança.
Cinquenta anos depois, cabe à juventude renovar esse sonho. É
nos jovens que reside o nosso maior capital: criatividade,
energia e capacidade de questionar e propor. Mas para isso, é
preciso criar condições reais. Ensino de qualidade, acesso ao
primeiro emprego digno, crédito para empreender, espaço
político para participar.
A juventude não quer apenas oportunidades, quer confiança.
Confiança para inovar, para errar e recomeçar. Para viver com
liberdade e com responsabilidade. É nosso dever garantir que
nenhum jovem seja forçado a emigrar por falta de horizontes.
Celebramos também, neste ano, 34 anos de democracia
pluralista. Desde 1991, temos consolidado instituições, eleições
livres e liberdade de imprensa. Mas a democracia não é um dado
adquirido, pode ser posta em risco se não for protegida, é um
processo vivo, que precisa de renovação constante.
Senhor Presidente da República
Senhor Presidente da Assembleia Nacional
Distintos convidados
Enfrentamos hoje sinais preocupantes: o afastamento dos jovens
da política, o enfraquecimento da confiança nas instituições, e a
ameaça de discursos populistas que exploram frustrações
legítimas. A resposta tem de ser mais diálogo, mais
transparência, mais prestação de contas.
A política deve voltar a ser um espaço de serviço — não de
privilégios. E a UCID renova aqui o seu compromisso com uma
democracia mais próxima, mais ética e mais representativa.
Ao celebrarmos os 50 anos da independência de Cabo Verde, é
justo e necessário reconhecer o contributo inestimável da UCID
na consolidação do nosso Estado democrático. Fundada em 13
de maio de 1978, num contexto adverso marcado por um regime
de partido único, a UCID surgiu ainda que na clandestinidade,
como uma força de esperança e compromisso com os ideais da
liberdade, da justiça social e da dignidade humana. Desde os
seus primórdios, a UCID tem afirmado como uma voz firme do
centro político, inspirada nos valores da democracia cristã e
profundamente enraizada nos princípios da responsabilidade, da
solidariedade e da participação cívica.
Ao longo destas cinco décadas, a UCID tem contribuído de
forma construtiva e responsável para o debate político nacional,
apresentando ideias, projetos e propostas legislativas que visam
o desenvolvimento sustentável, a equidade social e o reforço da
cidadania. No parlamento e fora dele, a UCID tem tido presença
ativa, crítica e propositiva, colocando sempre o interesse
nacional acima de qualquer conveniência partidária. É este
legado, construído com perseverança e convicção, que hoje
homenageamos com orgulho e renovado sentido de missão.
Deixamos também um apelo: que as diferenças partidárias não
sejam entraves à união nacional nos temas fundamentais da
soberania e do bem-estar coletivo.
Cabo Verde tem hoje conquistas importantes: estabilidade
política, melhorias nas infraestruturas, avanços sociais. Mas
enfrenta novos desafios. O maior deles é: como crescer com
sustentabilidade?
O modelo de desenvolvimento que queremos para os próximos
50 anos deve ser centrado nas pessoas e no planeta. Temos de
reforçar a aposta em energias renováveis, economia marítima,
proteção ambiental, e na gestão racional da água e da
alimentação.
É imperioso diversificar a nossa economia, reduzir a
dependência do turismo sazonal e investir em setores como as
indústrias, industrias criativas, a agricultura tecnológica e os
serviços digitais. O futuro exige um crescimento com justiça,
inclusão e equilíbrio.
Este futuro passa também pela valorização da nossa emigração.
Os caboverdianos no exterior são embaixadores da nossa
identidade. A sua contribuição não deve limitar-se às remessas,
mas ser integrada em políticas públicas, em investimento e em
redes de conhecimento.
Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia Nacional
Cabo Verde precisa de uma reforma estrutural do Estado.
Uma reforma corajosa, transformadora e realista.
Descentralizar é respeitar. Um país que descentraliza é um país
que confia no seu povo. Em pleno século XXI, não faz sentido
que decisões que afetam Santo Antão, São Vicente, São Nicolau,
Sal, Boavista, Maio, Fogo, Brava e os municípios de Santiago
sejam tomadas centralizadamente, a partir da Praia.
Cabo Verde não precisa de um Estado maior. Precisa de um
Estado melhor.
Num mundo em mudança, com novas ameaças — do terrorismo
ao tráfico de dr**as —, precisamos garantir a resiliência e a
eficácia das nossas instituições de segurança e justiça. A
localização estratégica do nosso país no Atlântico exige
vigilância, inteligência e tecnologia. Drones, satélites,
cooperação internacional — tudo isso deve ser parte de uma
abordagem moderna e integrada da segurança.
No campo da justiça, é essencial garantir rapidez,
imparcialidade e transparência. O combate à impunidade —
sobretudo nos crimes de corrupção e abuso de poder — tem de
ser prioridade. A justiça tem de funcionar para todos, e não
apenas para alguns.
Senhor Presidente da República
É inadmissível que um deputado da Nação eleito pela UCID,
continue preso por falha de um sistema informático. É
inaceitável que as populações mais vulneráveis enfrentem
barreiras quase intransponíveis ao acesso à justiça. A
descentralização do sistema, o reforço da assistência jurídica
gratuita, e a simplificação dos processos legais são passos
urgentes.
A justiça também tem de ser social. Cabo Verde precisa
combater as desigualdades regionais, reforçar a promoção e a
inclusão das mulheres, dos jovens, das pessoas com deficiência,
e garantir proteção às comunidades em situação de pobreza. A
segurança e a justiça não podem estar desligadas da inclusão e
dos direitos humanos.
No plano internacional, Cabo Verde deve afirmar-se como
nação de paz e de diálogo. A nossa estabilidade interna depende
da cooperação externa e do compromisso firme com a
democracia, os direitos humanos e a justiça.
Senhor Presidente,
Distintos convidados,
Passaram-se 50 anos. Não temos todas as respostas. Mas temos
algo valioso: a certeza de que somos um povo capaz. Capaz de
sonhar e de realizar. De cair e de se levantar. Pequenos em
território, grandes em dignidade.
O futuro de Cabo Verde não está apenas nas mãos dos governos.
Está nas mãos de todos os cidadãos. Nas escolas, nas
universidades, nos bairros, nos campos, nos ateliês, nos
laboratórios, nas instituições. Cabo Verde será aquilo que
formos capazes de construir juntos — com ética, com diálogo, e
com amor à pátria.
Celebremos este 5 de julho não apenas como uma memória do
passado, mas como um compromisso com o futuro.
Que os próximos 50 anos sejam de liberdade com
justiça.
De crescimento com equidade.
De modernidade com alma.
Viva a República de Cabo Verde!
Viva o povo caboverdiano!
Viva os 50 anos da nossa independência!
Muito Obrigado.