16/09/2025
No século XIX, não era comum lavar o cabelo todos os dias. Isso não se devia à negligência, mas a um conhecimento hoje quase esquecido: lavagens frequentes podiam danificá-lo. O sabão da época, feito à base de soda cáustica, era agressivo e prejudicial aos fios longos. Ele removia os óleos naturais, deixando-os ressecados, quebradiços e difíceis de pentear. Os homens, com cortes curtos, suportavam melhor esse efeito, mas as mulheres, cujos cabelos muitas vezes chegavam à cintura, não podiam se arriscar.
O segredo estava na escovação cuidadosa. As famosas “100 passadas noturnas” não eram lenda, mas um ritual essencial. Com escovas de cerdas de javali, sempre limpas, os óleos naturais eram distribuídos da raiz até as pontas, ao mesmo tempo em que poeira e resíduos eram removidos. Essa prática mantinha os cabelos fortes, brilhantes e saudáveis sem necessidade de lavagens frequentes. Escovar não era apenas um cuidado prático, mas também um gesto de beleza e tradição.
Na alta sociedade, o cabelo representava muito mais do que estética; era símbolo de status e saúde. Os elaborados penteados vitorianos — com torres de cachos, tranças longas e laços em cascata — ditavam moda e protegiam os fios contra o desgaste. “Ratos”, pequenos enchimentos de pelos ou lã, eram usados para dar volume e estrutura. Assim, mesmo após meses sem uma lavagem profunda, os cabelos permaneciam impecáveis. Não se tratava de descuido, mas de uma prática consciente.