14/07/2025
Conheça a trajetória de pessoas que foram fundamentais para o desenvolvimento de Carlos Barbosa em uma série de reportagens exclusivas do Jornal Contexto.
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ANSÉLIO PERERA
Da dedicação à família ao compromisso com a comunidade
Texto e foto: Vinícius Mieznikowski
Ansélio Perera, 66 anos, carrega nas mãos calejadas o peso de uma vida dedicada ao trabalho, à família, à política e à comunidade de Carlos Barbosa. Nascido e criado na Ponte Seca da Linha Doze, no interior de Carlos Barbosa, viu a cidade crescer, ajudou a moldá-la e se tornou um nome respeitado na comunidade, pela participação em diferentes atividades, principalmente no esporte e na política. Filho de Arthur Perera e Armínia Moschetta Perera, Ansélio cresceu numa casa com 14 irmãos, três faleceram quando crianças (Antoninho, Antônio e José), assim, dos irmãos que conviveu Ansélio tem 11; Pedro, Lourdes, Reinaldo, Domingos, Teresinha, Maria, (Ansélio), Valdir, Egidio, Inês e Roberto Paulo. Das lembranças dos avós, Ansélio conta que teve pouco contato com os avôs Vicente Moschetta e Jacob Perera, que faleceram quando ele ainda era pequeno.
A infância foi dura, marcada pelo trabalho desde os seis anos de idade. “Com 10 anos, meu pai teve um problema de saúde e eu tive que assumir responsabilidades de adulto. Lavrava a terra com arado, carregava sacos de 50 quilos nas costas, cuidava dos bichos e ainda estudava”, lembra. Durante a entrevista, Ansélio se emocionou ao falar do pai, por quem tinha um grande carinho. E tanto foi assim que lágrimas rolaram de seu rosto, ao lembrar do momento da partida do patriarca: “Foi um momento difícil pra mim”, contou.
A família, mesmo numerosa, era unida. O pai, calmo e conciliador; a mãe, firme e direta. “Meu pai era um sábio. Sentava, escutava, aconselhava. A mesa tinha horário, o terço era rezado toda noite”, conta, com sorriso nostálgico.
Estudar era uma escolha de resistência. Ansélio conta que saía da Linha Doze para ir até Barão estudar. E ele fazia esse trajeto a pé, diariamente. “Sol, chuva, poeira, barro… a gente ia. Era o que tinha. E se queria estudar, tinha que encarar. Nunca reclamei. Pelo contrário, agradeço até hoje”, diz.
Ansélio cursou o magistério e também se envolveu em projetos sociais e comunitários. Aos 12 anos, foi eleito presidente do Clube 4S, um grupo juvenil voltado à agricultura. “Foi minha primeira eleição, minha primeira liderança. Ali eu entendi que gostava de organizar, de motivar, de estar com as pessoas.”
Aos 16 anos, começou a trabalhar na agropecuária da Santa Clara. Lá, comprava, vendia, fazia cobranças e atendia produtores rurais. “Eu aprendi a ser um pouco de tudo: veterinário prático, agrônomo, conselheiro. Os agricultores vinham, descreviam os sintomas e eu já indicava o remédio. Era na base da confiança”, relata.
Pouco depois, se uniu ao irmão Reinaldo para abrir uma loja própria – a R. Perera, que vendia insumos agrícolas. “A gente vendia de tudo: galinhas poedeiras, motosserras, defensivos. Eu botava as coisas no fusquinha, passava pelo interior e vendia de casa em casa”, lembra.
Depois Ansélio foi para o setor de materiais de construção, onde atua desde 1983, com a Ansélio Perera - O shopping da Construção. “Hoje faço obras, vendo material, construo, nós temos um shopping do material de construção. Os filhos seguiram na construção civil, cada um com seu talento. Isso me deixa orgulhoso.” Ansélio é pai de Andrei, Tatiane e Arthur Perera Neto. Esse barbosense orgulhoso pela terra, também tem quatro netos; Lucas, 12, Pedro, 8 anos, Luan, 3 anos e Maria 2 anos. A família foi construída junto com a esposa Eliane Baldasso Perera.
A política entrou na vida de Ansélio em 1988, quando foi convidado a concorrer a vereador. Não se elegeu na primeira tentativa, mas, em 1991, conquistou uma vaga na Câmara Municipal. “Ser vereador é uma escola. Todo cidadão deveria passar por isso uma vez. Você aprende a ouvir, a pensar na coletividade, a entender a máquina pública.”
Naquela legislatura, estava na oposição. Os embates eram frequentes, mas sempre marcados pela postura firme. “Eu nunca me curvei. Sempre fui transparente. Se algo estava errado, eu dizia. Mas também dava solução. Só criticar não resolve.”
Após o mandato no legislativo, preferiu os bastidores. E ali, descobriu sua verdadeira vocação política: a articulação, a mediação, o planejamento. Em 2000, assumiu a presidência do então PDS, depois PP, e permaneceu no comando por quase 20 anos, onde ainda é o atual presidente da sigla em Carlos Barbosa. “Eu só aceitava ser presidente se fosse por consenso. Sempre fui da união, de ouvir todos.”
Sobre ser presidente, Ansélio destaca a convivência com grandes líderes do partido em Carlos Barbosa: “Eu tive o privilégio – inclusive tenho até uma foto – de ter sido presidente ao lado de grandes nomes: o Sr. Calixto Bisinella, o Sr. Marcos Zanatta, o Sr. Basílio Nazareno Ceratti, o Sr. Armando Gusso, o Irani Chies, entre outros prefeitos. Inclusive, cheguei a organizar um encontro com todos eles. Isso é história”, enfatizou com carinho este momento para a história.
Sempre gostei muito de ser mestre de cerimônias, de organizar eventos. Fiz vários, sempre com muito cuidado e organização. E como eu era uma pessoa realmente dedicada, tive ao meu lado muitas pessoas experientes. O Sr. Basílio, por exemplo, foi o meu mestre político. Aprendi muito com ele.”
Durante sua presidência, coordenou cinco campanhas eleitorais e foi peça-chave na eleição e reeleição do atual prefeito Everson Kirch. “Foi em 2016 que tudo mudou. O Kirch era jovem, queria ser prefeito, mas o partido estava dividido. Eu disse: vamos unir. Vamos fazer algo novo, limpo e com alma.”
A escolha da vice, Bea, foi consenso. “Quando sugeri o nome, todo mundo aprovou na hora. Era um sinal. E na política, sinais importam muito”, afirmou.
A campanha foi feita com pouco dinheiro e muita mobilização. “Queria fazer uma campanha limpa, sem rabo preso. E deu certo. Ganhamos contra todas as previsões.”
Em 2020, a reeleição confirmou o acerto. “Foi a validação de um projeto de gestão para todos. Política sem demagogia, com foco nas pessoas e nos resultados.”
Ansélio é um homem de fé, pelos ensinamentos que teve desde pequenos com os pais, já foi coordenador do Cursilho da Cristandade, participou de pastorais e se define como sensitivo.
“Eu sinto quando algo vai acontecer. Nas campanhas, eu sabia o resultado antes. Vejo sinais, percebo nas palavras, no tom de voz, no semblante das pessoas.”
Para ele, esses dons são instrumentos divinos. “Eu acredito que Deus me deu talentos. E eu tento aplicá-los para ajudar os outros. Não uso para mim. Meu sustento vem do meu trabalho, não da política.”
O futebol sempre esteve presente. Foi presidente da Liga Barbosense de Futebol, criou categorias em diferentes idades e incentivou os filhos no esporte. Hoje Ansélio acompanha os netos em campeonatos e jogos. “Tenho quatro netos e todos gostam de esporte. Levo eles pro mato, ensino a plantar, a cuidar da natureza, a comer fruta no pé. Isso é vida.”
A filosofia de vida de Ansélio pode ser resumida em uma frase que aprendeu com o pai: “Nunca destrua pontes. Um dia você pode precisar atravessá-las de novo”. Com esse princípio, conciliou divergências e uniu partidos.
“A política tem que ser a serviço do bem comum. E a gente só constrói junto. Por isso, sempre defendi o diálogo, mesmo nos momentos mais difíceis”, afirma.
Com a experiência de quem participou da transformação da comunidade, Ansélio segue como referência – seja na política, no comércio, no esporte ou na vida comunitária: “Eu sou um homem simples, de fé, de palavra. E que ainda tem muito a ensinar e aprender”, diz, sorrindo.