02/12/2025
Um estudo inédito divulgado nesta terça-feira (2) revela que jogos de azar e apostas online provocam um prejuízo social e econômico estimado em R$ 38,8 bilhões por ano no Brasil. O dossiê A saúde dos brasileiros em jogo, produzido pelo Ieps, Umane e pela Frente Parlamentar Mista de Promoção da Saúde Mental, calculou impactos que incluem suicídios, depressão, desemprego, gastos médicos, encarceramento e perda de moradia. Segundo os pesquisadores, 78,8% desses custos estão ligados à saúde.
O Brasil registrou 17,7 milhões de apostadores em apenas seis meses, e cerca de 12,8 milhões estariam em situação de risco. Inspirado em estudo britânico, o levantamento estimou perdas como R$ 17 bilhões por suicídios, R$ 10,4 bilhões por depressão, R$ 3 bilhões em tratamentos médicos, além de gastos com seguro-desemprego e criminalidade.
Embora os brasileiros tenham movimentado cerca de R$ 240 bilhões em bets em 2024, e beneficiários do Bolsa Família tenham gasto R$ 3 bilhões só em agosto, a arrecadação tributária permanece baixa. Até outubro, o setor havia gerado cerca de R$ 8 bilhões em impostos, número muito distante do custo social calculado. Mesmo com alíquota atual de 12% e proposta no Senado para subir a 24%, apenas 1% da arrecadação chega ao Ministério da Saúde — cerca de R$ 33 milhões até agosto.
Os pesquisadores criticam a falta de regulação eficaz, a ampla publicidade e a ausência de políticas públicas que contenham o avanço do vício e do endividamento. O setor, dizem, gera impacto econômico quase nulo: em 2024, havia apenas 1.144 empregos formais, e cada trabalhador recebia uma fração mínima da receita movimentada pelas empresas. Além disso, 84% dos trabalhadores das bets não contribuíram para a previdência, índice muito acima da média nacional.
O estudo aponta modelos de redução de danos usados no Reino Unido, como sistemas de autoexclusão, restrições rigorosas de publicidade e destinação de metade da arrecadação para tratamento em saúde mental. Para o Brasil, são sugeridas medidas como aumentar a parcela de impostos destinada à saúde, capacitar profissionais do SUS, proibir propagandas, limitar o acesso de grupos vulneráveis e endurecer regras para as operadoras.
Enquanto isso, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que representa 75% do mercado, se posiciona contra o aumento da tributação, alegando que isso pode fortalecer o mercado clandestino — que, segundo a entidade, já responde por mais de 51% das apostas online no país.
Agência Brasil (EBC)