09/10/2025
⚽️ A história do futebol em Criciúma está intrinsecamente ligada à matriz social e econômica da mineração de carvão, emergindo como um fenômeno cultural complexo no seio da classe trabalhadora. A partir da década de 1940, o esporte consolidou-se como uma das principais formas de lazer e sociabilidade entre os mineiros, funcionando como um contraponto à extenuante rotina de trabalho no subsolo. Como apontam Cardoso, Zanelatto e Campos (2023, p. 42), uma singularidade de Criciúma foi a “constituição de times de futebol ligados às empresas de mineração”, a atividade econômica predominante. Equipes como Metropol, Ouro Preto, Atlético Operário e Próspera não eram somente agremiações esportivas; representavam cada carbonífera, funcionando como “palco de confraternização e escape da dureza do trabalho”.
Este fomento ao esporte pelas companhias carboníferas, contudo, possuía uma dupla função. Por um lado, oferecia um espaço de descompressão e lazer; por outro, operava como um sofisticado instrumento de controle social. Ao incentivar a criação de times e campos, muitas vezes localizados nas adjacências das vilas operárias, “o empresariado objetivava maior controle do tempo livre do operariado e de seus familiares”, além de difundir a disciplina e atenuar os atritos laborais.
Apesar da instrumentalização patronal, o futebol rapidamente se converteu também em um espaço de autonomia e resistência operária. Nos campos improvisados ou nos estádios, o futebol se tornou um espaço de lazer, de sociabilidade e de identidade, onde os mineiros viam uma representação de suas comunidades. Os jogos entre equipes de diferentes carboníferas assumiam o caráter de “clássicos”, mobilizando rivalidades que fortaleciam os laços de solidariedade. A projeção nacional do Metropol é vividamente capturada no registro de uma partida contra o Grêmio Foot-ball Porto Alegrense. Na imagem, jogadores do Metropol como Marcio e Henrique, disputam a bola demonstrando que o investimento patronal, embora visando o controle, também gerava um imenso orgulho e um sentimento de pertencimento na classe trabalhadora, que via seus próprios colegas alcançarem a glória nos gramados.
Texto: Bruno Mandelli.