10/09/2025
Há dias em que o tempo parece congelar. Para a comunidade de Santana, em Urussanga, e para toda a região carbonífera, um desses dias é o 10 de setembro. Quarenta anos se passaram desde a manhã de 1984, em que a terra tremeu e a Mina Santana cuspiu fogo, silenciando a vida de 31 mineiros. Era para ser uma segunda-feira comum, marcada pela expectativa do pagamento ao meio-dia. No entanto, às 5h10, um estrondo transformou a rotina em pesadelo e deixou cicatrizes que perduram até hoje. Ao escrever meu livro, “A Explosão da Mina Santana: uma tragédia anunciada”, mergulhei não apenas em relatórios técnicos e processos judiciais, mas, principalmente, nas memórias daqueles que viveram o horror de perto. São essas vozes, dos sobreviventes e familiares, que dão a dimensão real de uma catástrofe que foi muito mais do que um acidente de trabalho. “O dia 10 de setembro foi um dia fatídico”, me contou Sérgio Luiz Maccari, um dos sobreviventes. “Todos descemos à mina já pensando no pagamento”. Sua lembrança, ainda vívida, transporta-nos para os momentos de descontração que antecederam o desastre. As conversas sobre o futebol do fim de semana, as brincadeiras e os planos para o salário criam um contraste brutal com o que seguiria: um vácuo, um vento arrebatador que arremessou corpos e máquinas como “passarinhos”, nas palavras de outro sobrevivente, Salégio Donato Velho. A tragédia, como detalho na obra, não foi um raio em céu azul. Ela foi precedida por uma série de “avisos”: um princípio de incêndio em 1983, desabamentos, eletrocutamentos e denúncias ignoradas sobre as péssimas condições de segurança. Hoje, 40 anos depois, Santana carrega as marcas de sua história. Um memorial foi erguido em homenagem às vítimas, um lembrete em pedra para que a negligência do passado não se repita. Ao revisitar as narrativas dos sujeitos e suas memórias em “A Explosão da Mina Santana”, meu objetivo não é apenas recontar uma tragédia, mas honrar as vidas perdidas e as que foram transformadas para sempre, garantindo que o eco dessas vozes continue a ressoar, para que nunca nos esqueçamos.
Fotografias: 2° Edição do livro A explosão da Mina Santana: uma tragédia anunciada, autor: Bruno Mandelli.