Arthur Wischral

Arthur Wischral Filho de imigrantes alemães, Arthur Wischral nasceu em 1894 e registrou por mais de 50 anos os momentos marcantes da evolução de Curitiba e do Paraná.

Título de eleitor de Arthur Wischral
18/07/2024

Título de eleitor de Arthur Wischral

25/06/2024

E eis o novo leilão da Livraria Fígaro. Será no próximo dia 29 de junho às 15 horas.
Dentre as peças ofertadas destacamos uma raríssima edição dos Sermões de Vieira (1608-1697), publicada em 1692, isto é, ainda durante a vida do pai da literatura portuguesa. São dois volumes em único tomo, em estado de luxo, sem marcas de insetos, digno do mais exigente dos bibliófilos. O valor do lance inicial está muito aquém do que pode atingir em casas especializadas em livros raros de Portugal.
Também uma curiosa coleção de 4 livros, a "Adventures of Peregrine Pickle" by Tobias Smollett (1794) publicada em Londres por Cooke e que tem uma história por detrás de seu achado num alfarrábio de Edinburgh por uma viajante curitibana nos anos 1930...
Como sempre, ofertamos algumas preciosidades da história do Paraná e desta vez brindamos os nossos clientes com algumas peças oriundas da Villa do Príncipe e de Rio Negro, bem como novos volumes da coleção Buquinista que, no leilão passado, foi disputadíssima. Sim, encontramos mais algumas peças relacionadas aos poetas concretistas.
Não deverá passar despercebido aos senhores o precioso volume com a primeira edição de "BRINDES" (1899), de Nestor de Castro, com linda dedicatória a Leocádio Cisneiros Correia que diz muito sobre a gratidão do autor à colocação na Impressora Paranaense e na edição do livro.
Talvez, ao lado do Vieira, o ponto alto de nosso pregão seja a coleção epistolar do soldado da FEB à sua mãe, onde narra em diversas cartas desde sua convocação, seu treinamento em Castro (PR)|, sua ida para o embarque e suas peripécias na Itália, inclusive com a fotografia de um amor deixado por lá em 1945... Cartas de próprio punho, originais, são testemunhos vivos da história, um lote para verdadeiros entusiastas da memória da segunda guerra mundial ou até mais, da história da Humanidade.
Para encerrar menciono os gibis da fase de ouro e os preciosos discos de vinil de rock, em ótimo estado, como devem ser sempre os produtos da Livraria Fígaro,
Para mergulhar, saborear e não deixar os lances para o dia. Os lances devem ser feitos antecipadamente pois é muito fácil esquecer a hora e depois ficar lamentando. BONS ARREMATES !
Paulo José, Valéria e equipe da Livraria Fígaro.

Paulo José da CostaQuase completa a biografia do Wischral. Faltou mencionar as viagens dele e de Hugo Hegenberg a Santa ...
16/03/2024

Paulo José da Costa
Quase completa a biografia do Wischral. Faltou mencionar as viagens dele e de Hugo Hegenberg a Santa Catarina e ao litoral do Paraná, entre outras coisas. Importante que se diga que o acervo dele não está totalmente com a Casa da Memória e nem com a Biblioteca Nacional. Meu acervo particular tem perto de 8000 originais do mestre, sendo a coleção a jóia do fotógrafo conservada pela família após a venda de uma parte para a Casa da Memória de Curitiba e o álbum da Bahia para a Universidade daquele estado. Estão comigo todos os papéis particulares, inclusive os da viagem para a Alemanha (de que preparo um histórico para breve), os dois álbuns particulares de postais numerados, colecionados pelo fotógrafo, do qual faltam agora apenas 80 números de 600; os álbuns de viagem para o litoral do Paraná e Santa Catarina, as fotos de família, as fotos de seu fascinante pai (mais uma matéria que preparo), uma boa quantidade de fotos feitas para a Prefeitura (de que não era funcionário e sim contratado por tarefa); as fotos das ferrovias, inclusive cerca de 200 inéditas, e por aí vai. Tudo isso será, se Deus quiser e me der forças, objeto de um grande livro, que Wischral merece.

Cronologia de Arthur Júlio Wischral (1894 – 1982) 22 de março de 202119 de julho de 2022Andrea Wanderley Tweet Share 0 Reddit +1 Pocket LinkedIn 0 Cronologia do fotógrafo Arthur Júlio Wischral (1894 – 1982) Diário do Paraná, 28 de junho de 1975   1894 – Em Curitiba, nascimento de Arthur...

CLIQUE NO LINK DA GAZETA PARA VER AS FOTOS TAMBÉMImagine para um livreiro, encontrar uma centena de livros antigos pinch...
05/02/2024

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Imagine para um livreiro, encontrar uma centena de livros antigos pinchados no meio da calçada. Foi há muitos anos. Os livros estavam jogados em meio à caliça, uma pequena biblioteca destinada ao lixo. Meu irmão, que viu os tesouros descartados num canto da demolição na Marechal Floriano, apressou-se em me ligar. E lá fui eu, célere, como um garimpeiro atrás das pepitas. Dei uma gorjeta para os trabalhadores na casa, coloquei a livrarada em caixas no carro e me mandei com meu irmão, Sérgio, para a livraria. Eram livros da antiga coleção terramarear, editada nos anos 1930, além de outros do mesmo tipo, mas em meio à poeira e papel, meus olhos brilharam de imediato sobre um volume em especial. Destacava-se pela capa dura em leve cor de vinho e por ser um pouco maior que os demais. E era todo manuscrito a lápis, mais de 400 páginas em letrinhas perfeitas, um primor de caligrafia. Estava ali uma das minhas mais belas descobertas nesses anos todos de garimpagem pela Curitiba de antigamente: o livro de memórias de Jacob Deutscher, um judeu que viera menino para Curitiba em 1926, crescera, tornara-se advogado e, em 1946, contou as peripécias de sua vida em 452 páginas manuscritas em letrinha miúda.

Não se tratava de um diário, de que tenho muitos exemplares de militares, artistas, médicos, músicos, mas sim de um livro de memórias. Os diários às vezes são quilométricos, maçantes, repetitivos, ao contrário de livros de memórias, que são concisos, diretos, abrangentes. Minucioso, Jacob dividiu suas memórias em duas partes: uma passada em Sokal, Polônia (hoje Ucrânia), com 45 páginas e 14 capítulos, e a outra no Brasil, com 407 páginas e 73 capítulos. Pelo que se depreende, ele escreveu duas “edições” anteriores, em 1936 e 1939, acrescentando assuntos e capítulos à medida que ia se lembrando dos acontecimentos. Para todas elas escreveu caprichados prefácios, reproduzidos na sua última transcrição em 1946. Há citações de escritores que lhe marcaram a vida, como Vitor Hugo e Mark Twain. E recheou o volume com fotografias suas, desde pequenino, na Polônia, até a última com traje da colação de grau em Direito, na Curitiba que ele soube descrever tão bem nos seus escritos. Jacob, para compor as memórias de criança, usou um estilo infantil, quase como se fosse ele criança a escrever… à medida que iam passando os anos, sua escrita amadurecia como ele próprio deve ter amadurecido.

“Chegamos ao Brasil no dia 10 de julho de 1926. Desembarcamos em
Santos. Admiramos então pela primeira vez o continente americano e o país que nos ia servir de pátria daí em diante. Levamos também um bom susto ao ver- mos pela primeira vez um negro, pois na Polônia não se encontra um negro sequer. É por isso que os imigrantes se assustam ao verem um homem preto…"

Com o auxílio dos que tinham vindo antes para o Brasil, a família comprou passagens e embarcou no trem para a capital paranaense.

“Quando chegamos, era noite e uma chuva fria caía sobre a cidade. Os meus tios (a família Gertel) esperavam com um automóvel. Fomos conduzidos a sua residência, na rua Saldanha Marinho. Tive então ocasião de conhecer os meus primos… Não sabendo eu falar o português, puseram-me numa escola alemã, juntamente com meu irmão Isaac. Ao mesmo tempo estudamos na Escola Israelita do Paraná. Em 1927, aos oito anos de idade, entrei no Colégio Iguassu. Passadas várias semanas, tive de sair de lá, porque não falava ainda convenientemente o português. Arranjaram-me então um professor particular, o dr. Wladislau Jaworski, naquele tempo estudante de direito. Estudei tanto com o meu professor, que gastei várias páginas do livro “O Brasil e o Paraná”… Quando o “seu” Wladislau viu que eu já sabia o necessário, meteu-me novamente no Iguassu. Naquele tempo, ele era secretário do colégio. assim, em 1928, um ano e meio após a minha chegada ao Brasil, entrei definitivamente no primeiro ano primário. Estudei bem e no fim do ano passei para a segunda série.”

O nosso memorialista descreve em detalhes a vida na casa onde sua família passou a viver: “Era uma casa bem grande, onde moravam várias famílias. O prédio que dá para a rua tem um só andar, mas no quintal há outra casa, com dois andares. Ocupávamos nós, dois quartos no segundo andar. Quando chovia muito, era necessário abrir o guarda-chuva dentro de casa. O telhado de nossa habitação era de folha de zinco. Várias vezes por semana um dos vizinhos trepava nele, às cinco da manhã e ali passeava, quando todos dormiam…”

Interessante notar um certo conformismo em aceitar essas condições de vida, “um vizinho passeando no telhado de zinco às cinco da manhã”, além de muitos outros exemplos que perpassam pelo livro em diversos momentos. Há passagens curiosas da vida na casa, até divertidas, como a da famlia alemã que tinha um fordeco. “Aos domingos, o chefe da família, não tendo o que fazer, desmontava o automóvel e depois montava-o outra vez. Quando saía com o automóvel, voltava sempre sem os pneumáticos. A parte metálica das rodas fazia um barulho horrível ao contato com os paralelepípedos da rua.”

Apesar dos toques de humor no correr das centenas de historietas que compõem o manuscrito, não deixamos de notar a melancolia sempre presente, algo que acredito ser inerente aos judeus do leste europeu, sempre perseguidos por onde quer que andassem. Vale lembrar que a família de nosso pequeno herói teve muita sorte em sair de Sokal, na Polônia, pois 15 anos mais tarde a população de 5 mil judeus da cidade foi assassinada no campo de extermínio de Belzec. Em certa passagem de suas memórias, Jacob queixa-se de maus tratos recebidos na escola, onde riam dele por “ter matado Jesus”.

“Eu tive uma meninice diferente de muita gente. Desde pequeno tive que estudar. Meus pais queriam que eu ficasse o maior tempo possível em casa, estudando. Não me deixavam correr, para não gastar os sapatos, mas apesar disso eu corria quando queria. Viviam escondendo os meus brinquedos para que os mesmos não atrapalhassem os meus estudos. Mesmo nas horas vagas quando saía para a rua, nem sempre podia brincar convenientemente. Quase sempre aparecia alguém para me maltratar física ou moralmente: – ah, judeuzinho patife! Foi você que matou Jesus Cristo! ... E eu sentia uma vergonha horrível. Mas, apesar de tudo, eu era feliz, porque em um instante logo esquecia as minhas tristezas e preocupações....”

A força que o menino maltratado encontrava para superar suas agruras e ainda encontrar alegrias, fazer amigos, querer crescer e estudar, é fantástica. Jacob Deutscher tinha um caráter fascinante.

Continua em edição próxima...

Paulo José da Costa é de Ponta Grossa, comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.

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Jacob Deutscher, um judeu que viera menino para Curitiba em 1926, contou as peripécias de sua vida em uma memória de 452 páginas. Leia na Pinó!

Carnaval era o de antigamente, me desculpem os jovens que não viveram. A batalha de confete, as serpentinas por todo can...
24/01/2024

Carnaval era o de antigamente, me desculpem os jovens que não viveram. A batalha de confete, as serpentinas por todo canto. O suor misturado ao papel colorido que quase não deixava a gente andar, grudava na língua, tudo impregnado com o cheiro forte dos lança-perfumes Rodouro, Flirt, Pierrot, Colombina… E a gente dançando, pulando, pulando, horas e horas dando a volta no salão. A orquestra tocando as marchinhas que todos sabíamos de cor, a mesma máscara negra. Quanto riso, quanta alegria, os olhares, os namoricos, os toques de mão, as recusas, os aceites.

De repente, estávamos abraçados com alguém naquele frenesi de voltas sem fim, mais de mil palhaços no salão. Os papais e mamães sempre de olho, acomodados nas mesas e balcões. Até que a orquestra dava um breque e a girândola cessava, que os músicos não eram de ferro. Os lábios doíam, partiam, e a gente corria pras mesas tomar um guaraná ou uma cuba libre.

Filas disputando os banheiros, pra dali a quinze minutos, ou vinte, a orquestra anunciar de novo seu toque de carnaval tará tará tará tataaaaaaa, tá tataratatááááá, e as marchinhas tomarem conta de novo, “ó jardineira porque estás tão triste, o galo tá cantando pra galinha carijó, se você fosse sincera oóoó, Aurora, ia ver que bom que era, oóoó, todos eles estão errados, a lua é dos namorados…”

A folia de carnaval já vinha dos tempos de D. Pedro, mas naquela época primitiva, das batalhas nas ruas nem sempre limpas, laranjinhas de cera com águas de cheiro, mas também com outros líquidos menos nobres, as coisas às vezes degringolavam, brigas de rua, polícia, proibições. Então, os bailes nos salões foram um refúgio para as famílias brincarem o carnaval. O Clube Curitibano exigia traje de gala ou fantasia. Os imigrantes agregaram a sua animação, seus ritmos, sua informalidade e alegria, e os clubes pipocaram por toda parte, pelos bairros, os italianos, os poloneses, os sírios, os alemães, todos com suas agremiações e bailes concorridos.

Nesse caldo de pura alegria, não demorou muito para que, nos anos 1910, 1920, os foliões começassem a se combinar em cordões, blocos, com fantasias feitas com muito esmero. Grupos com nomes curiosos, jocosos, uma festa, semanas criando os trajes para desfilar pelas ruas e pelos clubes em alegria contagiante. Tudo espontâneo, cada família, cada agremiação, vizinhança, mostrando com orgulho a sua criatividade nos adereços e fantasias. Eram toureiros, mexicanos, odaliscas e maomés, fu-manchus e mata-haris, palhaços mil. Havia brincadeiras com tudo, a beleza estava na naturalidade.

E havia o corso a desfilar na Rua XV, de início carroças, vitórias, landaus, todas enfeitadas, repletas de carnavalescos. Depois, com o passar dos anos, virou um desfilar de automóveis dos mais endinheirados. Alguns com alegorias, outros só com mocinhas ou com as famílias em lindas fantasias, alegria dos comerciantes, da Casa Edith, do Muggiati, do Hoffmann. E haja confete, serpentina e as bisnagas de água, a gente saia todo molhado.

E sempre os lança-perfumes, o cheiro de éter no ar. Nos anos 1940, 1950, o povão ia nos caminhões, lembro bem. Uma coisa meio maluca, aqueles caminhões dançando junto com as baterias das escolas de samba e dos blocos de sujos, não sei como não arrebentavam as molas daqueles caminhões, arfando, dançando junto com aquela gente toda.

O comércio ajudava na confecção dos carros e a coisa cresceu. As escolas de samba, que de início eram pobrezinhas, também cresceram. Mas, bem antigamente, eram 40 ou 50 pessoas batucando, aquelas meninas mirradas que vinham das periferias, as pernas de fora, e a avenida cheia de gente babando, marmanjos suando. E haja serpentina. E haja confete e lança-perfume.

As rainhas do carnaval, cada clube com a sua, e o rei Momo soberano. E eram quatro dias, não tinha folga, e só parava mesmo na quarta-feira de cinzas. A gente ia para casa na madrugada e tropeçava nos foliões dormindo pela rua. E era tudo tranquilo, ninguém se incomodava, afinal era carnaval! Daí que começaram a criar controles, regras, concursos, premiações, proibições.

E tiraram o corso da rua XV, começaram a distribuir dinheiro para escolas, para blocos e se foi a pureza, morreu a beleza. Nos anos 1990, os bailes nos clubes morreram, melancolicamente, dizem que foram os custos dos direitos das músicas, vai lá saber. O fato é que a gente mudou, a música mudou, nosso humor parece que mudou. O desejo de sair fantasiado para pular um carnaval pela alegria de dançar, pela vontade de brincar, espontaneamente, se foi. Como fomos perder tudo isso?

*PAULO JOSÉ DA COSTA nasceu em 1950 em Ponta Grossa, é comerciante livreiro, memorialista, blogueiro, youtuber, dono de acervo e criador das comunidades Antigamente em Curitiba e Antigamente em Ponta Grossa, no Facebook.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/cotidiano-de-antigamente/carnaval-de-antigamente/
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Carnaval era o de antigamente, me desculpem os jovens que não viveram. A batalha de confete, as serpentinas por todo canto. O suor misturado ao papel colorido que quase não deixava a gente andar, grudava na língua, tudo impregnado com o cheiro forte dos lança-perfumes Rodouro, Flirt, Pierrot, Co...

NO LEILÃO DA LIVRARIA FÍGARO QUE SERÁ LEVADO ONLINE NO SÁBADO DIA 27 às 15 hs.
24/01/2024

NO LEILÃO DA LIVRARIA FÍGARO QUE SERÁ LEVADO ONLINE NO SÁBADO DIA 27 às 15 hs.

item do XVI leilão da Livraria Fígaro, de Curitiba - dia 27.01.2024 às 15 horas.

Apresentamos o nosso novo LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS E RAROS, para o dia 27  de janeiro próximo, às 15 horas.   Como sempr...
21/01/2024

Apresentamos o nosso novo LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS E RAROS, para o dia 27 de janeiro próximo, às 15 horas. Como sempre, muitos tesouros, com um direcionamento discreto desta vez para livros de direito. Mas os amantes dos livros históricos e curiosos não ficarão decepcionados. Sugerimos, se tiver alguma peça de interesse, que lance logo, não deixando para a última hora, pois muitos acabam esquecendo ou tendo compromissos no horário do arremate e acabam perdendo o lote. BONS ARREMATES !

MINHA NOVA MATÉRIA NA GAZETA DO POVO.  CLIQUE NA IMAGEM E TENHA ACESSO ÀS DEMAIS FOTOGRAFIAS, INCLUSIVE DUAS DE AUTORIA ...
03/10/2023

MINHA NOVA MATÉRIA NA GAZETA DO POVO. CLIQUE NA IMAGEM E TENHA ACESSO ÀS DEMAIS FOTOGRAFIAS, INCLUSIVE DUAS DE AUTORIA DE ARTHUR WISCHRAL.

"Com certeza você já sentiu ao visitar um idoso ou uma velha loja, algum aroma que lhe despertou emoções, saudades, uma nostalgia de tempos vividos, um não sei o quê a lhe surpreender e transportar ao passado. A memória olfativa é poderosa.
De alguma maneira, ela registrou em tempos idos uma sensação em nosso cérebro que, num átimo, revive emoções há muito esquecidas. Você até se senta e se inquieta, vêm as lágrimas. O poder dos aromas em nos trazer recordações é forte e inebriante.
Cada um de nós tem seu universo próprio, mas interessante é que quando a mágica acontece, quase sempre iremos retornar à nossa infância, aos nossos pais ou avós, aos lugares que frequentávamos no dia a dia, a escola, a chácara, os locais de comércio. E esse exercício, que eu diria quase mediúnico, de trazer essas boas lembranças de nosso passado através dos sentidos, é fantástico. Os sabores, os sons, os aromas são armas de que dispomos para entrar numa máquina do tempo formidável.
Há aromas que jamais poderemos sentir novamente porque simplesmente desapareceram, mas a memória deles permanece como, mal comparando, a sensibilidade do amputado que “sente” a perna que perdeu. Os nossos sentidos têm esse poder de trazer esses “arquivos” escondidos lá nos recônditos de nosso HD cerebral. Não concorda?
Eu lembraria da minha saudosa vovó Binoca se abrisse uma gaveta repleta daqueles vidrinhos antigos de homeopatia, de que ela tinha coleções. Eu menino adorava abrir aqueles pequeninos frascos com tampinha de cortiça e sentir o cheiro, que era de um álcool, mas com alguma coisa a mais, com aquelas nomenclaturas em latim, calêndula, gelsemium, lycopodium.
Sem falar nas naftalinas com que ela enchia os armários, as gavetas repletas de papéis, ninguém mais usa a naftalina?
Essa minha avó paterna foi com certeza uma precursora dos modernos ativistas da reciclagem. Ela reaproveitava tudo. Tinha rolos de barbantes, que ia colocando em gavetas, cada rolo com um tipo específico, e quando precisava, lá estavam! Os papéis de embrulho eram cuidadosamente dobrados e guardados em armários, prontos para um futuro uso. Tenho certeza de que minha paixão por documentos, fotografias e papéis antigos teve o germe na casa dessa minha boa antepassada. Afinal temos a herança genética, mas o ambiente é que nos forja, não é?
Ela guardava tudo, tenho até hoje dúzias de almanaques de farmácia, verdadeira mania dos nossos avós e que eram distribuídos gratuitamente nas drogarias. Capivarol, Ross, Saphrol, Almanak de Bristol, a lista é longa. Hoje, são disputados por colecionadores e objeto de teses universitárias, mas, na época, frequentavam as cozinhas e mesinhas de cabeceira, além das “patentes”, é evidente.
Minha outra avó, Mariquinha, que era dos Bach, dos erroneamente chamados “russos do Lago” – pois de russa ela não tinha nada, era alemã do Volga – usava um sabonete de lavanda, sabe-se lá onde foi parar essa marca e essa fragrância que era só dela. A gente associa perfumes a pessoas, notaram? Vovó Mariquinha era uma pessoa simples demais, se contentava com muito pouco e adorava usar também um pó de arroz, que vinha numa caixinha circular, acho que era Cashmere Bouquet, o presente perfeito para o dia de seu aniversário. Essas pequenas coisas eram seus únicos luxos.
Ela rezava muito para Nossa Senhora Aparecida e tinha o costume de colocar umas lamparinas que ficavam flutuando numa caixinha repleta de azeite e, à noite, iluminavam as paredes com figuras de fantasmas, soltando um cheiro característico. Cadê esse aroma de saudade de um tempo que sumiu? Vovó viuvou muito cedo e ganhava a vida costurando e, às vezes, me pego ouvindo o som de sua máquina Singer. Como eu gostava dessa avó, a pessoa mais doce e pacífica que conheci na vida. Na foto de meu primeiro aniversário estamos na casa dela, de gente simples, onde aparecem minhas duas avós embaixo dos balões. Meus pais explodindo de alegria. Também, eu era uma gracinha.
E agora eu é que fiquei tomado pelas emoções. Me deu uma baita saudade de umas coisas bobas, que rechearam minha infância de alegrias e, apesar de muitas delas poderem ser revividas com certa facilidade, nunca serão iguais às daquele tempo. Quando sentirei novamente o cheiro forte daquele café que ficava fervendo na chapa do fogão? E os bolos e petiscos de que só as vovós sabiam os segredos? E aquele aroma da lenha queimando? O pinhão na chapa ficava quase torradinho e era o momento de bater com o martelo e se deliciar.
As festas! O que eu não daria para entrar num buraco do tempo e invadir uma festa dos antigos, qualquer festa, podia ser de alemães, de italianos, cheias de música, bebidas e comilança! E naquelas chácaras junto às vovós e vovôs, às tias e compadres, em meio a aromas como das gengibirras e cervejas caseiras, dos palheiros dos senhores, e o suor dos cavalos recém-cavalgados pelas crianças. Sentir o perfume de frutas que se tornaram raras, como os araçás, as guavirovas, as uvaias e as pitangas.
Devia existirt um livro que, ao ser folheado, nos trouxesse todos esses aromas de volta. Um livro especial para cada um de nós, pois temos todos nossos aromas particulares só nossos, que povoam nossas lembranças e que sumiram, levadas pelo vento do tempo."
PAULO JOSÉ DA COSTA, set.2023

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Paulo José da Costa escreve sobre o papel do olfato na construção de suas memórias de infância junto a família e seus avós. Leia mais na Pinó!

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