16/04/2025
Epô Sagrado: A Autonomia de Produzir Nosso Próprio Dendê
Este ano na função dos orixás dos caminhos, dos caçadores. Nós, filhos e filhas do Ilê Ilé Ifé Axé Obaluaiyê, herdeiros de uma sabedoria ancestral, produzimos o nosso próprio azeite de dendê.
Uma casa de Candomblé produzir seu próprio azeite de dendê, que foi colhido, rezado e oferecido a Exu, produzido e utilizado durante os ritos.
Falar de Exu e do azeite de dendê (epo) é mergulhar no coração do axé, na base dos fundamentos do Candomblé e das religiões afro-brasileiras. Exu é o orixá da comunicação, movimento, caminhos, transformação, troca e justiça. Nada começa sem Exu. Nenhuma oferenda chega a seu destino sem a permissão de Exu. E o azeite de dendê é uma de suas maiores ferramentas de poder.
O dendê é quente, vivo, pulsante. Assim como Exu.
No Candomblé, Exu é o primeiro a ser saudado em qualquer ritual. O epo (azeite) é oferecido a ele para abrir os caminhos, para acalmar ou ativar sua força, dependendo da intenção. Ao receber o azeite, Exu está sendo alimentado, ungido, reverenciado — e ele responde, pois é um orixá de resposta rápida.
Produzir o dendê é mais do que cozinhar ou preparar oferendas. É honrar os orixás com nossas próprias mãos, é transformar o alimento em axé puro, livre das impurezas do mercado.
Epo não é apenas óleo. É vida. É ancestralidade. É ligação direta com a terra e com o orum, é um dos símbolos máximos da soberania alimentar dos nossos povos.
Cada palma colhida com respeito, cada fruto pisado com canto, cada gota extraída com intenção, carrega a força de nossos mais velhos, a bênção de nossas matriarcas, a sabedoria dos que vieram antes. Produzir nosso azeite é rezar com o corpo, cantar com as mãos e consagrar com o tempo.
Nosso epo é ciência africana viva, é cultura, é medicina, é fé.
Produzir nosso próprio dendê é:
Afirmar nossa identidade afro-brasileira com orgulho, é trazer de volta a prática ancestral africana, valorizando o conhecimento tradicional das mulheres e dos mais velhos que muitas vezes dominam o processo do preparo, um ato de resistência cultural. Reforçando a conexão com a terra e a natureza.
Cuidar do axé com as mãos que cultuam, garantir a pureza espiritual de nossas oferendas.
Educar nossos mais novos na sabedoria do fazer.
Possibilidades de fortalecer nossa comunidade com economia própria, circular e sagrada.
Na tradição de matriz africana, nada é profano quando se trata da relação com os orixás. O azeite de dendê (epo) é usado em rituais, oferendas e na preparação de comidas sagradas, como o acarajé, xinxim, amalá. Produzi-lo dentro da própria casa de axé é algo grandioso.
Nessa função Exu nos inspira e nos mostra que somos capazes de muito em nome do sagrado.
Adupé Òrìṣà
Ilê Ilé Ifé Axé Obaluaiyê
Casa de Obaluaiyê
14 de abril de 2025, Extremoz/RN
Texto: Egbon Luan Christian - ÒgìyánLore
Produção do epô: Egbon Eudes Alves
Edição: Iya Maye Luma Freitas