21/04/2025
Heróis do Litoral: O verão de mais de 1.500 vidas salvas nas praias paulistas
Por Mario Soares
No vai e vem das ondas que encantam turistas, há um grupo de homens e mulheres que não estão ali a passeio. Enquanto uns curtem o calor e as selfies à beira-mar, eles observam. Atentos, firmes, prontos para agir em segundos. São os bombeiros salva-vidas, os heróis silenciosos do verão paulista, que encerraram a temporada 2024/2025 com uma marca que merece manchete: mais de 1.500 salvamentos bem-sucedidos no litoral do estado.
Um verão de prevenção e coragem
A chamada Operação Verão mobilizou mais de 3 mil policiais militares, 377 viaturas, helicópteros e, claro, o reforço essencial de guarda-vidas temporários, contratados em parceria com as prefeituras. O Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar) teve atuação constante e estratégica, focando não só no resgate, mas na prevenção de acidentes.
Em Bertioga, o trabalho foi intenso. Com praias muito frequentadas e com os maiores índices de acidentes como a Enseada, São Lourenço, Guaratuba, Boraceia e Itaguaré, recebeu reforço no efetivo e investiu na sinalização de pontos críticos, além de campanhas educativas para turistas e moradores. A integração entre a prefeitura e o Corpo de Bombeiros foi apontada como essencial para o saldo positivo: vidas preservadas e redução nos casos graves.
Já em Ilha Comprida, onde o mar traiçoeiro e as correntes são um desafio conhecido, os salva-vidas atuaram com precisão. As equipes fizeram salvamentos complexos e realizaram ações educativas em pontos turísticos, como a Praia do Boqueirão Norte. A presença constante dos bombeiros foi determinante para conter tragédias em uma região que, ano após ano, exige atenção redobrada.
“O verdadeiro sucesso do nosso trabalho é quando conseguimos orientar, alertar e evitar a entrada em áreas de risco”, declarou um comandante do GBMar.
Menos mortes, mais vidas preservadas
O esforço conjunto resultou em uma queda signif**ativa nas mortes por afogamento: foram 36 óbitos registrados entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, contra 50 no mesmo período do verão anterior. Uma redução de quase 30%, ainda que cada vida perdida pese na balança do dever.
Mesmo com a imensidão do litoral — são mais de 600 km de praias — e a pressão de um fluxo intenso de turistas, o trabalho dos salva-vidas foi preciso, rápido e muitas vezes invisível para a maioria dos frequentadores.
Os invisíveis do verão
Enquanto ambulantes oferecem bebidas, o salva-vidas oferece atenção. Enquanto o sol bronzeia corpos, ele queima rostos atentos à correnteza. O uniforme amarelo e vermelho, os binóculos, o apito — todos símbolos de uma presença que muitos só notam quando já é tarde demais.
Esses profissionais lidam com uma rotina de risco, exposição ao sol extremo, cansaço físico, e ainda enfrentam a falta de reconhecimento oficial. Muitos são temporários, com contratos curtos, sem garantias. E mesmo assim, entram no mar para salvar desconhecidos sem pensar duas vezes.
A quem salva, o nosso respeito
Falar dos salva-vidas do litoral paulista é lembrar que o verão não é só temporada de férias. É também tempo de entrega, coragem e vocação para muitos. A cada vida resgatada, uma família poupada do luto. A cada orientação bem dada, um mergulho inseguro evitado.
Que essa matéria sirva não apenas de homenagem, mas de alerta: os salva-vidas precisam de valorização constante, estrutura, salários justos e reconhecimento público. Porque heróis, por mais discretos que sejam, não vivem só de aplausos. Precisam de condições para continuar salvando.