14/07/2025
CHÁ DE INFIDELIDADE
Fabrício Carpinejar
Um escândalo mobilizou as redes sociais a partir de uma reunião familiar em Quinze de Novembro, pequena cidade gaúcha com aproximadamente 4 mil habitantes.
É como se o Brasil entrasse, de repente, numa casinha de madeira pintada de verde-água, implodindo o chão, o teto, os alicerces morais de um lar.
A esposa simula um chá revelação para os parentes. Aparece com uma caixinha com fitas.
No lugar da fumaça rosa ou azul para sinalizar o anúncio do s**o de um bebê, surge a fumaça escurecida e carvoeira da denúncia.
Expõe um dossiê das traições do marido, que está lá, em sua frente: os casos de infidelidade com três amantes ao longo da convivência, sendo que, de um dos envolvimentos, nasceu um filho — daí o chá de fraldas batizando o encontro.
Começa num tom animado e desemboca num constrangimento tenso. Os presentes na sala não ousam rir. As respirações são sôfregas.
A traída não mede detalhes. Leva as conversas printadas, os esconderijos, as despesas, os áudios. Não há mais como mentir e dizer que é fofoca.
O homem, pego em flagrante, congela. Só balança a cabeça.
Os anos de hipocrisia e de fingimento de um casamento são pulverizados em sete minutos.
Ela não admite mais permanecer submissa. O infiel jurava que ela nunca reagiria, suportaria os vexames e os chifres calada, e seria “um pato bem bonitinho, bem quietinho, pra não manchar a honra da família”.
Ela não apenas relata os podres para os mais íntimos, mas também torna pública a conduta paralela do seu companheiro. É uma virada de mesa, uma avalanche de sinceridade, um poltergeist de empoderamento.
Não se deve questionar por que ela fez tudo isso, numa inversão dos valores, culpabilizando a vítima.
Ela transbordou com razão. Não tinha outra saída. Estava emparedada, numa relação dependente. Não contava com círculo de proteção. Não podia confiar em ninguém ao lado, todos acobertavam as puladas de cerca.
Talvez pela primeira vez na vida, tenha se priorizado.
Se não abrisse as indiscrições ao mundo, jamais seria acreditada. Ela escancarou o machismo para se divorciar em paz, e dar o adeus livre da pressão social, sem ser vista como ingrata ou doida.
Em