14/01/2021
"Policiais são réus por matar sobrinho de ex-primeira dama de Itaberaí"
(Fonte: O Popular)
Seis policiais militares teriam executado Themison Eterno Vieira, de 30 anos, e forjado a cena do crime para simular um confronto, no dia 20 de dezembro de 2019. É o que aponta denúncia do Ministério Público de Goiás (MP-GO) acatada pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) em dezembro do ano passado. O crime ocorreu dentro do apartamento da vítima, em Inhumas, Região Metropolitana de Goiânia (RMG). Themison foi morto porque teria comandado dois assaltos violentos contra a tia, a ex-primeira dama de Itaberaí, Eleni Soares Dias Mendonça, de mais de 70 anos, mãe da atual prefeita da cidade, Rita de Cássia (PSB). Os policiais estão afastados das funções.
De acordo com a denúncia do promotor Mário Caixeta, do dia 1º de dezembro, os policiais invadiram o apartamento do sobrinho da ex-primeira dama com a intenção de executá-lo. Essa situação teria sido demonstrada no laudo de local de crime, que faz parte da perícia criminal, e depoimentos de testemunhas. “(Os militares) deliberaram por matar a vítima, como vingança pelo roubo ocorrido em Itaberaí. Assim, arquitetaram um abjeto plano, de sorte a colher a vítima sem qualquer chance de defesa”, diz trecho da denúncia.
Além disso, segundo o documento, os militares teriam planejado o crime, a partir de uma investigação clandestina utilizando-se da função de PM. “Desde o início, os policiais agiram na clandestinidade, sem qualquer amparo legal, fazendo mau uso do cargo que lhes foi confiado pelo Estado”, diz trecho da denúncia. Os seis militares suspeitos de ter envolvimento com o crime são das cidades de Itaberaí e Anápolis.
Themison foi morto por volta das 11h50, dentro do quarto dele, em um apartamento no 12º andar do Residencial Portal do Vale. Algumas horas antes, o aspirante a oficial Edson Marcelino Machado Júnior, foi até o prédio, se identificou na portaria e monitorou a vítima pelas câmeras de segurança do residencial, de acordo com as investigações. Themison estava então na academia do prédio, realizando exercícios físicos. Assim que ele entrou no elevador, para subir até o apartamento, Edson teria chamado os outros militares.
Segundo as investigações, o apartamento de Themison foi invadido pelos militares. A porta teria sido arrombada pelo aspirante a oficial César Augusto Chicaroli Silveira, que ficou do lado de fora com o major Fábio Francisco da Costa, enquanto os outros quatro PMs teriam entrado no local.
O segundo tenente Mário Floro Ramo Júnior foi quem teria dado um único tiro “certeiro e fatal”, segundo texto da denúncia, a curta distância, acertando Themison no crânio. Em seguida, todos os militares teriam participado da alteração da cena do local do crime para aparentar uma situação de confronto. De acordo com a denúncia, os militares teriam entrado no quarto e dado três disparos com uma pi***la 9 mm no sentido exterior do cômodo, como se fossem tiros dados pela vítima. A arma teria sido então colocada ao pé da cama, próximo aos pés do corpo do sobrinho da ex-primeira dama de Itaberaí. Também participaram da ação e são suspeitos do assassinato, os militares Leandro Marques de Oliveira Souza e José Francisco de Morais Júnior.
O MP-GO pediu a perda do cargo público dos militares envolvidos no crime, a fixação de indenização e a condenação pelo Tribunal do Júri. Também solicitou que sejam feitas perícias nas armas relacionadas ao caso. O juiz João Luiz da Costa Gomes acatou a denúncia, o que torna os seis militares réus, por considerar que existem indícios suficientes de autoria. Ele também decidiu pelo afastamento dos policiais tanto das ruas como de trabalhos administrativos, além da proibição de manterem qualquer tipo de contato com as testemunhas.
“Não estou afirmando que os promovidos usarão do cargo para praticar intimidações e nem que são culpados. Trata-se ap***s de cautela”, diz trecho da decisão. Caso os réus descumpram as medidas, podem ser presos preventivamente. O juiz também defendeu que o afastamento resguarda os próprios policiais, para que não haja questionamento da sociedade sobre a honestidade da investigação. O processo também foi enviado para a auditoria militar por conta dos crimes militares de invasão de domicílio e fraude processual.
O POPULAR entrou em contato com a defesa dos réus e com a PM-GO, que não deram retorno aos questionamentos da reportagem até o fechamento desta matéria. A reportagem também tentou contato com a prefeita Rita de Cássia para saber a posição da família sobre a denúncia dos policiais, mas não obteve resposta.
"Tia foi roubada e agredida por 2 vezes"
Themison Eterno Vieira, de 30 anos, era suspeito de ter coordenado dois assaltos violentos contra a tia, a ex-primeira dama de Itaberaí, Eleni Soares Dias Mendonça, de mais de 70 anos. Nas duas situações, em abril e novembro de 2019 (veja quadro), ela foi agredida com golpes de coronhadas, dentro da própria casa em Itaberaí. A agressividade dos criminosos deixou a idosa com hematomas e necessidade de atendimento médico. Dois ladrões que participaram do segundo assalto, delataram Themison para a polícia.
O primeiro episódio de violência foi em 7 de abril de 2019. Eleni teve o quarto invadido por dois homens por volta das 5 horas da madrugada. Ela estava de joelhos fazendo orações, segundo entrevista da filha na época, a atual prefeita Rita de Cássia (PSB), quando foi abordada e agredida com coronhadas. Os ladrões levaram um carro, dois celulares e uma carteira.
Da segunda vez, os ladrões invadiram a casa da ex-primeira dama por volta das 3 horas, na madrugada do dia 22 de novembro de 2019. Eles renderam os seguranças da residência e agrediram Eleni, que teria reagido. Os assaltantes levaram um cofre com grande quantidade de dinheiro e joias.
A Polícia Militar prendeu dois suspeitos de envolvimento com os roubos cinco dias depois. Eles apontaram um terceiro comparsa, que já estava preso por outro motivo, e a relação de mandante de Themison. Na época, os policiais conseguiram recuperar as joias roubadas.
"Histórico"
Themison tinha antecedentes criminais por roubo e interceptação. Quando foi morto em um suposto confronto com policiais no dia 20 de dezembro de 2019, a PM-GO divulgou que ele comandava uma organização criminosa responsável por roubos. Segundo notícia de 2015 do site da Polícia Civil de Goiás, Themison tinha o apelido de Barão.
Em 13 de março de 2015, o então Barão, foi preso em uma operação da delegacia de Goianésia com outras cinco pessoas, sob a suspeita de fazer parte de uma quadrilha de roubo de cargas e caminhões. Eles estavam com carros roubados em um posto de gasolina e estariam se preparando para um assalto no momento da prisão. Na época, as investigações apontavam que os conteúdos roubados seriam comercializados no Mato Grosso.
Mais Itaberaí - Credibilidade em primeiro lugar! 🥇