
23/08/2025
Estrada do Pêssego – Acesso à Ragueb Choffi, 1944
Onde as chácaras floresciam e os mitos se colhiam aos pés dos pêssegos
Em 1944, o trecho da Estrada do Pêssego que hoje desemboca na Avenida Ragueb Choffi era um corredor verdejante, ladeado por uma constelação de chácaras que pareciam brotar da terra como promessas cumpridas. Ali, o tempo não corria — amadurecia. E os pêssegos, em sua doçura rosada, eram mais que frutos: eram testemunhas de uma era em que Itaquera ainda sonhava com o futuro, mas vivia intensamente o presente. 🌳 As chácaras do pêssego eram verdadeiros microcosmos de vida. Cada uma com seu nome próprio — Chácara Sudan, Chácara Yamamoto, Chácara São Bento — e cada uma com sua história, sua linhagem, seu ritual de cultivo. Os pomares se estendiam como tapetes vivos, e os galhos carregados de frutos pendiam como oferendas ao céu. O aroma dos pêssegos maduros misturava-se ao cheiro da terra molhada, criando uma sinfonia olfativa que anunciava a colheita.
👨🌾 Os trabalhadores, muitos deles descendentes de imigrantes japoneses e italianos, eram os heróis anônimos dessa epopeia rural. Com mãos calejadas e olhos atentos, cuidavam de cada árvore como quem cuida de um segredo. A colheita era feita com reverência, e os pêssegos eram embalados em caixas de madeira com palha, como se fossem joias. As carroças seguiam pela estrada em direção ao centro, levando não apenas frutas, mas histórias, esperanças e o perfume de Itaquera. 📖 Dizem que naquela época, um menino chamado Hiroshi colheu o maior pêssego já visto na região — do tamanho de uma cabeça humana. Virou lenda. Dizem também que a Chácara Sudan abrigava um poço encantado, onde quem bebesse da água teria sorte na colheita. E que, numa noite de lua cheia, um casal se casou sob um pessegueiro florido, e a árvore nunca mais perdeu suas flores, mesmo fora da estação. 🛤️ A estrada, ainda de terra batida, era mais que caminho — era palco. Por ela passavam os tropeiros, os mascates, os poetas errantes e os carteiros que traziam notícias em envelopes amarelados. O acesso à Ragueb Choffi, ainda em formação, era uma trilha tímida, mas já anunciava o que viria: a urbanização, o asfalto, o progresso. Mas em 1944, tudo ainda era silêncio, fruta e mito.