02/07/2025
CARTA ABERTA AOS VEREADORES E A POPULAÇÃO DE MATINHOS
Falar nunca foi tão difícil. Não pela falta de palavras, mas pelo excesso de riscos. Em tempos onde o senso crítico é confundido com afronta, onde o posicionamento vira ameaça e onde a verdade incomoda mais do que a mentira conforta, muitos preferem o silêncio — e eu entendo. Mas é exatamente por entender que escolho não me calar.
Liberdade de expressão não pode ser privilégio de quem agrada. Não pode ser seletiva, negociada ou condicionada à conveniência de quem ocupa espaços de poder. A liberdade de falar, de questionar, de apontar o que está errado, é um direito conquistado com muito custo na nossa história — e que, infelizmente, ainda hoje é tratado como um incômodo quando exercido com coragem.
Vivemos em uma realidade onde as palavras podem machucar mais que ações, porque a verdade tem esse poder: ela desestabiliza estruturas frágeis, revela incoerências e desnuda vaidades. E por isso, quem se propõe a falar com honestidade, muitas vezes se vê cercado por olhares de reprovação, sorrisos falsos e até mesmo por ameaças veladas.
Mas é preciso dizer: opinião não é crime. Consciência não deve ser censurada. E a ética de um discurso não deve ser medida pelo grau de conforto que ele proporciona a quem está no poder.
Eu aprendi, ao longo do tempo, que o preço de calar pode ser mais alto do que o de falar. Porque o silêncio diante do que é errado nos transforma, pouco a pouco, em cúmplices do próprio sistema que criticamos. E porque abrir mão da nossa voz é também abrir mão da nossa identidade, da nossa luta, daquilo que acreditamos.
Há quem acredite que podem nos dobrar pelo medo, pela chantagem, pelo risco de perder espaço. Mas quem constrói sua trajetória com dignidade não precisa temer retaliações. Porque a integridade é o que permanece quando todo o resto se desfaz.
Não falo para agradar. Falo para provocar reflexão. Para sacudir o que está adormecido. Para lembrar que a liberdade — de expressão, de escolha, de pensamento — é a base de qualquer sociedade justa.
E se incomoda, que bom. É sinal de que ainda há algo vivo dentro de nós. Que ainda há esperança de mudança. Que ainda vale a pena continuar.
Que nunca nos falte coragem para dizer o que precisa ser dito. E que jamais sejamos levados a acreditar que nossa voz vale menos do que nosso silêncio.