09/06/2025
Homenagem a Dejinha de Monteiro
Por Vagner Lira.
Numa época em que a arte norteia nossos corações, é impossível lembrar de quem, com acorde do forró pé-de-serra, trouxe alegria e identidade para Monteiro e todo o sertão. Refiro-me a José Djair Bispo Lourenço, o notável Dejinha de Monteiro, cujo nome permanece gravado com muito amor e carinho por todos nós.
Quando a sanfona chora e a noite se acende,
Surge Dejinha no som que surpreende.
Monteiro canta, sentida e altaneira,
Lembrando o mestre das noites de feira.
Raízes e início de trajetória
Nascido em 1952, filho de agricultores no coração do Cariri, Dejinha cresceu cercado de simplicidade e cultura. Aos 16 anos, ganhou sua primeira sanfona do irmão e tomou a decisão de seguir a música, mesmo enfrentando a oposição do pai, que desejava que ele ficasse na roça.
Com fé nos dedos e alma no fole,
Venceu a seca, venceu o escolhe.
Fez do destino estrada e luar,
E nos acordes, ensinou a amar.
Sucesso nacional
Diálogos com lendas da música nordestina viu de perto: cantou nas rádios Globo e Nacional, e subiu aos palcos ao lado de ícones como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Marinês. Levou a sanfona, o pandeiro e seu coração para lugares como Rio, Brasília, Goiás — onde chegou a se apresentar por 70 noites consecutivas.
Por onde passava, deixava alegria,
Trazia o forró, levava poesia.
No sul, no centro, no nosso sertão,
Dejinha tocava direto do coração.
Produção e legado
Ao longo de mais de 27 anos de carreira profissional, lançou 4 LPs, 26 CDs, 1 DVD e registrou cerca de 350 canções. Produziu o primeiro disco da banda Magníficos e participou do programa do Bolinha, na TV Bandeirantes.
Alguns destaques musicalmente marcantes:
“Amor e Saudade”, frequentemente pedida em shows por todo o Estado.
Suas composições foram interpretadas por grandes nomes do forró, em especial Flávio José.
Por sua contribuição ao forró tradicional da Paraíba, recebeu o Troféu Asa Branca, no Forró Fest de 2008.
De cada acorde nasceu uma estrela,
Que ainda hoje o céu sertanejo revela.
Não foi só música, foi direção,
Que guiou o povo com emoção.
Memória e reconhecimento
Mesmo após sua partida, em 22 de dezembro de 2019, aos 67 anos, em consequência de um câncer, Dejinha segue presente em Monteiro. Recentemente foi homenageado no 7º Enex do IFPB, cuja abertura contou com show dos filhos — “Os Filhos de Dejinha”.
No palco da vida, sua luz não se apaga,
Pois quem canta com alma, jamais se apaga.
E os filhos que seguem, com honra e saber,
Fazem o nome do pai renascer.
Legado que ecoa
Hoje, ao lembrar de Dejinha de Monteiro, é como se estivéssemos diante de uma sanfona que jamais silencia. Seu nome ecoa em cada cantiga à beira da fogueira, em cada xote dançado com saudade, em cada sanfoneiro que herda essa tradição com paixão. Ele não só cantou o Cariri; ele foi o Cariri em forma de música.
No som do forró, Dejinha é farol,
Brilhando alto como o mais belo sol.
E o povo afirma com força e louvor:
“Dejinha é pra sempre, é puro amor!”
Mesmo em uma era de rumos incertos, os acordes de Dejinha permanecem, sustentando nossa identidade. As “marcas” que ele deixou no chão do sertão não se apagam — ao contrário, alimentam nosso orgulho, nossa história, nossa canção.
Sumário da carreira:
Nascimento: 1952, Monteiro – PB
Instrumentos: sanfona, pandeiro, voz
Gravações: 4 LPs, 26 CDs, 1 DVD, ~350 composições
Parcerias: Trio Nordestino, Flávio José, Chico César, Jorge de Altinho, Santanna
Prêmios: Troféu Asa Branca – Forró Fest (2008)
Encerramento poético:
“Dejinha de Monteiro partiu fisicamente, mas entoou pra sempre seu canto pelo nosso Cariri.
Quando o sanfoneiro toca, a lembrança dele vira alegria;
e onde há saudade, há a certeza: morre o homem, mas permanece a música.”