
23/06/2025
Por ✍️ Patricia Hackbart
Minha relação com fios sempre foi muito íntima. Enquanto aluna da “sexta série do primeiro grau”, numa escola de freiras, nossas aulas de educação artística constavam de um período em sala de aula aprendendo técnicas e um período de trabalhos manuais – tricô, crochê, pintura, bordado... tínhamos que levar nossos trabalhos em andamento para as aulas em que éramos acompanhadas por uma irmã (franciscana). Quando esquecíamos os trabalhos, nosso “castigo” era desenlinhar um emaranhado de fios doados para as freiras utilizarem para filantropia, pelas fábricas de fios, pois não serviam mais para a comercialização – certamente para nós, um grande treinamento de paciência.
Mais tarde, quando já era bolsista de iniciação científica num instituto de pesquisas em arqueologia, por ter esta intimidade com fios, o diretor me pediu para descobrir qual a técnica de confecção havia sido utilizada para um pedaço de tramado encontrado em uma escavação arqueológica no sul de Goiás. Lembro da tal “malha ampulheta” identificada a partir de descrições da antropóloga Berta Ribeiro.
Quando visualizei o novelo (imagem da postagem) e fui ler sobre ele que, possui controversas informações em diferentes postagens “...com aproximadamente 4.700 ou (5.900) anos, descoberto perto do Lago Bienne em Lüscherz, no sítio Marin-Epagnier / Préfargier, na Suíça”, não me chamou a atenção a antiguidade, nem o lugar em que foi achado. Mas, fios não são um artefato final, eles servem para se fazer outras coisas, não deveriam ficar parados! Precisam ser modelados, tramados e mesmo misturados a outros fios para juntos comporem outro objeto.
O que pensei no momento que o visualizei, foi sobre o trabalho dispendido em sua elaboração e sobre a técnica utilizada, ele não é um fio single, ele é composto pela torção de dois fios mais finos. Também me chamou a atenção a forma de organização do novelo, pois é possível dizer que a pessoa que o elaborou enrolou um número de vezes padrão (eu contei 10 voltas) antes de mudar a posição e tornar a enrolar novamente, alternando para deixá-lo mais firme.