28/11/2025
A ministra Cármen Lúcia utilizou referências contundentes da cultura brasileira para fundamentar seu voto pelo reconhecimento do racismo estrutural no STF. A magistrada citou o rapper Emicida para ilustrar a disparidade de direitos no país: "A felicidade do branco é plena, a felicidade do preto é quase. Eu não espero viver num país em que a Constituição para o branco seja plena e para o negro seja quase", declarou. Ela também relembrou o verso que denuncia a letalidade policial, afirmando que "80 tiros me lembram que há a pele alva e há a pele alvo", para evidenciar a violência cotidiana enfrentada pela população negra.
Em um resgate histórico da literatura marginal, a ministra trouxe à tona as palavras de Carolina Maria de Jesus para descrever a exclusão no mercado de trabalho. "Não digam que sou da vida rebotalho. Digam que procurei trabalho e que sempre fui preterida", citou Cármen Lúcia, argumentando que "não é possível continuar vivendo esta tragédia no Brasil" onde mais da metade da população é sistematicamente deixada à margem. Para ela, essas vozes artísticas provam que a promessa de igualdade de 1988 ainda não se concretizou na prática.
Ao concluir, a ministra reforçou que o texto constitucional não pode ser relativizado pela cor da pele. "Eu quero uma Constituição que seja plena igualmente para todas as pessoas", defendeu. Ela lamentou que, mesmo após décadas de democracia, o Brasil permaneça uma sociedade de desiguais, onde até "para sonhar tem trave" para os cidadãos negros, exigindo uma postura firme do Judiciário para mudar essa realidade.