09/07/2025
No ministério pastoral, em alguns momentos acontece o acompanhamento a pacientes terminais. Algumas vezes, os pacientes conseguem aceitar sua condição finita; em outros casos, ainda há a espera pela cura e pelo milagre.
Já vivenciei alguns momentos do segundo caso e percebi que, algumas vezes, o desejo de continuar vivendo é, na verdade, a vontade de resolver feridas que foram abertas ao longo da vida — especialmente em relacionamentos — e que ainda não foram fechadas. Ou seja: não há paz para descansar em paz.
Eis o dilema: nem sempre o milagre que queremos é o milagre que realmente precisamos.
Lembro-me de situações em que, conversando com familiares, foi possível descobrir quais eram as mágoas e dialogar sobre perdão e reconciliação (sem romantizar o perdão: ele não é simples nem fácil, como um botão de liga e desliga). O fato é que, mais de uma vez, após a família e o paciente alcançarem a reconciliação, o falecimento ocorreu poucas horas depois — não por ausência de milagre, mas porque o milagre realmente necessário havia acontecido. Através do milagre do perdão, vi pessoas descansarem em paz — também por ouvirem, pela última vez, sobre o amor de Deus por elas em Jesus.
Ser discípulo de Jesus é diferente de ser um “consumidor da fé”. Enquanto o consumo da fé busca apenas satisfazer desejos pessoais, o discipulado conduz ao constante aprendizado com o Senhor, mesmo nos momentos mais difíceis da existência humana. Deus não quer filhos mimados que exigem tudo o que querem, mas discípulos dispostos a aprender com ele em toda e qualquer situação.
O discipulado pressupõe discernir que nem sempre o milagre que queremos é, de fato, o milagre que precisamos. A vida de oração é um dos caminhos para que o Espírito Santo nos revele o que realmente devemos entregar nas mãos de Deus. Foi o próprio Senhor Jesus quem nos ensinou a orar: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Amém.
P. William Felipe Zacarias
Novo Hamburgo/RS, 09 de julho de 2025
Pintura: A Menina Doente, 1885-1886.
Edvard Munch (1863-1944).