17/09/2025
O Brasil enfrenta uma realidade alarmante: cerca de mil crianças e adolescentes, na faixa etária entre 10 e 19 anos, cometem suicídio anualmente, segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Além disso, o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos e a quarta entre jovens de 20 a 29 anos no Brasil.
Embora a prevenção do suicídio não deva se limitar a setembro, a campanha do Setembro Amarelo tem um papel positivo: colocar o tema em pauta, quebrar o silêncio e o estigma, incentivar o diálogo e servir como porta de entrada para que pessoas em sofrimento busquem ajuda especializada. No entanto, muitas campanhas recorrem a frases motivacionais e gestos simbólicos, como cartões e doces. Essas ações são bem intencionadas, mas, podem simplif**ar um tema complexo e reforçar sentimentos de culpa, estigmas e a chamada positividade tóxica, quando ignoram ou invalidam o sofrimento real do indivíduo. Como destacam pesquisadores da área, “intervenções superficiais e desvinculadas de qualif**ação podem reforçar o estigma e o sentimento de invalidação do sofrimento” (ABP, 2021).
Muitas pessoas sentem que sua dor ainda é tratada como um tabu: amigos evitam o assunto e a própria sociedade, por vezes, reforça o estigma com piadas sobre o “CAPS”, criando uma visão distorcida de um serviço que é, na verdade, essencial no enfrentamento do sofrimento mental. Esse cenário não apenas desvaloriza a importância da saúde mental em um país onde o preconceito ainda é marcante, como também aprofunda o isolamento. Surge, assim, uma “dupla solidão”: a interna, ligada ao sofrimento psíquico, e a social, marcada pela dificuldade de se expressar sem medo de rejeição (Rossi, 2020).
No entanto, a prevenção ao suicídio não pode ser vista como uma responsabilidade individual ou restrita à família. Trata-se de uma questão de saúde pública e, portanto, de políticas públicas.
O psicólogo tem papel central nesse processo: acolher, avaliar e intervir considerando fatores sociais, culturais e históricos. Profissionais capacitados utilizam técnicas e constroem vínculos que ajudam o paciente a enfrentar o sofrimento de forma segura.
É importante destacar: se você estiver passando por momentos de grande sofrimento ou angústia intensa, busque ajuda imediatamente. Procurar psicólogos, psiquiatras ou serviços especializados, como o CVV (188, disponível 24 horas), possibilita expressar sentimentos em um ambiente seguro e acolhedor. Compartilhar a dor com pessoas de confiança também ajuda a reduzir o isolamento e a encontrar estratégias mais seguras de enfrentamento. Como ressalta a Organização Mundial da Saúde (2014), “a prevenção do suicídio requer ações integradas, contínuas e que incluam apoio psicológico e social”. Da mesma forma, se você perceber que alguém próximo pode estar em risco, aproxime-se com empatia e cuidado genuíno. Escute sem minimizar ou julgar, demonstre interesse pelo bem-estar dessa pessoa e ofereça espaço para que ela fale sobre sua dor. Incentivar, de maneira delicada, a busca por apoio profissional é fundamental. O acompanhamento de amigos, familiares e profissionais qualif**ados tem papel essencial na redução de riscos e na construção de caminhos seguros de acolhimento (CFP, 2021).