
27/09/2025
𝗖𝗮𝘀𝗮-𝘀𝗲𝗱𝗲 𝗲 𝗲𝗻𝗴𝗲𝗻𝗵𝗼 𝗱𝗮 𝗔𝗻𝘁𝗶𝗴𝗮 𝗙𝗮𝘇𝗲𝗻𝗱𝗮 𝗣𝗿𝗼𝘃𝗶𝗱ê𝗻𝗰𝗶𝗮, 𝗰𝗲𝗿𝗰𝗮 𝗱𝗲 𝟵 𝗸𝗺 𝗱𝗲 𝗕𝗮𝗿𝗿𝗮 𝗱𝗼𝘀 𝗣𝗮𝘀𝘀𝗼𝘀, 𝗧𝗿𝗮𝗷𝗮𝗻𝗼 𝗱𝗲 𝗠𝗼𝗿𝗮𝗲𝘀 (𝗥𝗝), 𝗲𝗿𝗴𝘂𝗶𝗱𝗮 𝗻𝗼 𝘀𝗲́𝗰𝘂𝗹𝗼 𝗫𝗜𝗫 𝗰𝗼𝗺𝗼 𝗻𝘂́𝗰𝗹𝗲𝗼 𝗰𝗮𝗳𝗲𝗲𝗶𝗿𝗼 𝗲 𝗵𝗼𝗷𝗲 𝗿𝗲𝗳𝗲𝗿𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗱𝗮 𝗽𝗮𝗶𝘀𝗮𝗴𝗲𝗺 𝗿𝘂𝗿𝗮𝗹 𝘀𝗲𝗿𝗿𝗮𝗻𝗮.
Situação e Ambiência
A fazenda f**a na Região Serrana do Rio de Janeiro, acessível pela RJ-116 (Friburgo–Bom Jardim) e RJ-146; a partir do km 40 desta rodovia, segue-se por Barra dos Passos e por estradas de terra, com bifurcações descritas até alcançar a sede. O conjunto ocupa platôs escalonados, com a casa principal no patamar mais alto, dominando currais, depósitos e uma serraria instalada nas ruínas do antigo engenho, que ainda preserva roda d’água metálica. Em frente à sede estendem-se os antigos terreiros de secagem de café; o entorno alterna morros com mata fechada e pastagens onde, provavelmente, se situaram os cafezais.
Descrição Arquitetônica
A sede adota solução típica das fazendas de café fluminenses: fachada frontal com dois pavimentos e posterior com um, aproveitando a declividade, além de planta articulada em torno de pátio interno. A linguagem é simples, sobre estrutura colonial (madeira, embasamento em pedra, pau-a-pique, cobertura em telhas capa e canal), com composição simétrica marcada por pilastras pintadas em ocre, embasamento e cimalha “imitando” aplacamento em pedra. Portada de v***a reta com aldrava em ferro; janelas retangulares com cercaduras azuis e esquadrias triplas no térreo (venezianas, caixilhos envidraçados e folhas internas) e, no pavimento nobre, sobrev***as em madeira. Arremates incluem barra decorativa de madeira com volutas e losangos, cimalha escalonada e beiral cerâmico. O interior destaca uma escada helicoidal de madeira de execução refinada (considerada extemporânea pelos proprietários), ambientes sociais e íntimos com pisos em tábuas e forros “saia e blusa”, pátio gramado com fosso de ventilação do porão e repuxo sob caramanchão, cozinha com fogão a lenha e defumador, além de dependências de serviço e circulação externa.
Estado de conservação da sede em 2010
O relatório registrou rachaduras e esforços estruturais em alguns cômodos; infiltrações ascendentes (associadas à umidade do fosso do pátio interno) e descendentes (embasamento e cobertura); pintura externamente desgastada e substituição parcial de telhas com diferenças cromáticas; sujidade intensa por ação de morcegos nas fachadas laterais; riscos pela fixação de pontos de eletricidade em peças de madeira e fiação aparente. Internamente, havia forros removidos no térreo com evidências de ataque de térmitas; perda de elemento torneado do guarda-corpo da escada; desgaste de pintura em paredes e forros no pavimento nobre; e barra decorativa em papel de parede com faltas e descolamentos na sala de jantar.
Histórico
A origem documentada vincula a propriedade à família Lopes Martins. O capitão João Lopes Martins (n. 1794), proprietário de sesmaria no Ribeirão Dourado (Cordeiro) já em 1821, adquiriu a fazenda. Por herança, passou ao filho, Francisco Lopes Martins (n. 1822). Viúvo, Francisco casou-se em 1852 com Felizarda da Silva Moraes, filha do tenente-coronel João Antônio de Moraes e de Basília Rosa Franco de Moraes, barões de Duas Barras, grandes cafeicultores com dezenas de fazendas na região.
O casal residiu inicialmente na Fazenda Olaria (do barão) e, com apoio de canteiros e carpinteiros portugueses, edificou a nova sede da vizinha Providência, concluída em 1858, quando a família se transferiu definitivamente. No auge, a fazenda contava com cerca de 150 mil pés de café e expressivo número de escravizados; Francisco exerceu funções públicas (juiz de paz, vereador e delegado em Santa Maria Madalena em 1864), mas, enfermo, teve a administração assumida por Felizarda, conhecida pela firmeza de caráter e habilidade equestre.
Com o agravamento da saúde do marido, associou-se ao filho, coronel Alfredo Lopes Martins, político influente que ocupou a vice-presidência da Província do Rio de Janeiro em 1910 e administrou, ao longo da vida, várias fazendas — mantendo, porém, a Providência como sede até sua morte, em 1948. A propriedade passou ao neto, Alfredo Lopes Martins (1922–1990), líder cooperativista e presidente da CCPL por 23 anos. À época do relatório, a fazenda pertencia aos herdeiros Aroldo e Marcos Tavares Martins, produtores de leite na região, que preservavam a sede.
Crédito
Relatório INEPAC (Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense) entre 2007 e 2010.