
09/07/2025
Até quando?
Era para ser mais um dia normal, na rotina normal de uma escola: crianças chegando felizes com suas mochilas coloridas, tomando conta dos corredores. Porém, para uma escola, isso não foi bem assim.
Em Estação, no Norte gaúcho, o que ecoou não foi a alegria, mas o som do terror, o grito do desespero que levava embora a inocência e, para uma família, a vida de uma criança. E junto com isso, a nossa paz.
Até quando? Essa pergunta arde na garganta de cada professor, de cada pai, de cada familiar que vê seus pequenos partirem para a escola.
Até quando o espaço da sala de aula será uma lacuna entre a esperança do conhecimento e o medo da violência?
Não há uma resposta. O nó na garganta é constante. A cena é repetida, embora em contextos diferentes.
Entretanto, a dor é sempre a mesma, dilacerante e sem uma solução imediata.
É fácil apontar dedos. Falar em segurança, em saúde mental, em limites. Tudo isso é importante, crucial, vital. Mas a verdade é que a violência tem se infiltrado em espaços que antes eram "santuários", lugar de acolhimento, e acima de tudo, de respeito.
A escola, que deveria ser um porto seguro, um lugar de construção e não de destruição, tem se tornado palco de tragédias incompreensíveis. A sensação de impotência nos consome, nos angustia, nos paralisa, nos torna pequenos...
Como professores, somos preparados para ensinar, para guiar, para inspirar. Não para sermos escudos humanos ou psicólogos de emergência em meio ao caos. Como pais, queremos ver nossos filhos crescerem, aprenderem, sonharem.
Não queremos viver com o coração apertado a cada notif**ação de celular. Assim como não queremos que sejam manchete triste em meios de comunicação.
O episódio em Estação não é um ponto fora da curva, é mais um elo na corrente de eventos que nos alertam para uma realidade triste e brutal.
É um lembrete doloroso de que precisamos buscar por soluções.
Precisamos, como sociedade, enfrentar essa sombra, esse rastro de sangue. Conversar, sim. Legislar, sim. Oferecer suporte, sim. E, acima de tudo, precisamos entender o que está alimentando essa onda de violência que invadiu os portões das escolas.
Porque a cada vida perdida, a cada infância roubada, perdemos um pedaço da nossa própria humanidade.
E a pergunta "até quando?" se torna um eco cada vez mais doloroso e urgente.
Cíntia Maciel - Professora, Neuropsicopedagoga e Escritora.