13/04/2025
À medida que a população com Transtorno do Espectro Autista (TEA) envelhece, uma questão crucial emerge: como as habilidades sociais evoluem ao longo da vida adulta? Um estudo recente, publicado em Autism Research, investigou essa trajetória, focando na Teoria da Mente (ToM) – a capacidade de interpretar emoções e intenções alheias. Os resultados revelam déficits persistentes, mas também abrem novas perguntas sobre o papel da idade e do gênero.
A pesquisa, conduzida com 177 adultos (95 com TEA e 82 neurotípicos), utilizou a clássica tarefa Reading the Mind in the Eyes (RME), que avalia a percepção de estados emocionais a partir de expressões oculares. Como esperado, o grupo com TEA apresentou desempenho inferior (p = 0.004), reforçando a noção de que dificuldades em ToM perduram na vida adulta.
Contudo, os dados trouxeram nuances intrigantes. Apesar de não haver efeitos estatisticamente significativos de idade ou s**o, padrões visuais sugeriram trajetórias distintas: mulheres neurotípicas tenderam a um pico de desempenho na meia-idade, seguido de declínio, enquanto homens com TEA mostraram uma curva mais estável. "São indícios preliminares, mas levantam hipóteses sobre como o cérebro autista processa a cognição social ao longo do tempo", observam os autores.
Estudos anteriores já apontavam que, em neurotípicos, a ToM declina com a idade – um fenômeno atribuído a mudanças neurodegenerativas. No TEA, porém, a literatura é escassa, especialmente para idosos. Este trabalho preenche parte dessa lacuna, ainda que suas limitações (como o desenho transversal e a amostra modesta) exijam cautela na interpretação.
Se a ciência ainda não pode afirmar como o autismo envelhece, este estudo ilumina um caminho: a necessidade de investigações longitudinais, com amostras mais diversificadas e medidas complementares de cognição social. Enquanto isso, os resultados reforçam que o déficit em ToM não é uma fase infantil, mas uma característica duradoura – um alerta para políticas de apoio contínuo. Afinal, compreender o outro é uma habilidade vital em qualquer idade.