04/03/2021
YBY, uma terra onde não há fronteiras: Álbum instrumental reúne Vagner Cunha, Bebê Kramer e Paulinho Fagundes.
YbY significa Terra em Tupi Guarani. É o nome de batismo da coleção que se destina a cultivar formas musicais de fronteira e de aproximação de culturas. Mas tão importante como a terra que será fecundada são as sementes que serão ali lançadas.
Sob a direção de Claudio Carrara e de Vagner Cunha, a fecundação da terra se dá segundo três critérios: espontaneidade, excelência técnica e absoluta falta de preconceito estético.O CD Los Orientales, lançado em 2016, reunindo Vagner Cunha (violino) e Ernesto Fagundes (bombo legüero), mais Celau Moreira (violoncelo) e Luciano Maia (acordeão) foi um primeiro resultado da colheita. Explorando sonoridades da nossa banda oriental e da Europa Oriental, abrindo picadas por entre o matagal do convencional, foi uma obra que compreensivelmente se preocupou em dar conta da invenção de uma não-fronteira. A imagem mais adequada talvez fosse a dos quatro músicos em roda, olhando um ao outro, percebendo de onde vinha a respiração da música.
Aí chegamos a YBY. Terra preparada, experiência no trato. Os músicos são Vagner, Bebê Kramer (acordeão) e Paulinho Fagundes (violão), com a presença de Ernesto Fagundes. Agora os músicos já conseguem voltar sua atenção para quem está fora da roda: repertório próprio mas há também composições de Piazzola, Luiz Carlos Borges, reconhecidos exploradores de novas terras. Se antes o círculo estava fechado e concentrado, agora o foco é no prazer, no olhar que se distrai e desloca na confirmação do prazer. Antes, o prazer da exploração. Em YbY, a exploração do prazer. Vamos todos juntos, camaradas à cata das interseções, das encruzilhadas, da mobilidade das fronteiras. YbY pode soar familiar na zona norte do Rio, na metade Sul do Rio Grande, no leste Europeu.
Um ponto a se destacar é a qualidade de gravação e mixagem, por conta de Leo Bracht, do Transcendental Audio. É como um teletransporte: estamos ao lado dos instrumentistas, ouvindo a respiração de Vagner antes de arremeter no violino, escutando Bebê mexer nas teclas de seu acordeão. Uma sonoridade orgânica e espontânea que faz jus às condições de gravação: YbY foi gravado numa tarde, e a maioria das faixas é o registro da primeira passagem da música, no máximo da segunda, encapsulando a desinibição criativa que move os músicos ao tocarem pela primeira vez um tema.YbY não apresenta o fruto da terra - ele dá de presente ao ouvinte o prazer de acompanhar a obra crescendo. YbY é a boa terra à vista. A terra que não é prometida, mas compartilhada.
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Renato Mendonça, jornalista e crítico de arte
O disco já está disponível em todas as plataformas digitais. Acesse tratore.ffm.to/ybyvol01, escolha seu player e confira os ecos desta