16/08/2025
DENÚNCIA DE FELCA SE TORNA UMA BOMBA NA INTERNET
Vinte e três anos depois o ato de Felca honra a memória de Tim Lopes
Por Themis Pereira de Souza Vianna
Poucos dias atrás, estive em um shopping e precisei ir ao banheiro. Ao entrar fui surpreendida por uma cena. Uma menina com físico de pré-adolescente estava diante do espelho. Com o celular na mão apontado para si, gravando um vídeo requebrando o corpo e fazendo gracejos. Contorcia-se, retorcia-se, fazia caretas, movia os lábios para a direita e para a esquerda. Em seguida puxava lentamente a blusa para cima. E de forma progressiva à medida que a peça subia sua feminilidade f**ava mais visível. Fazia aquilo de forma muito natural, sem se constranger com a minha presença. Impressionada, assisti um reality show sensual de alguém que ainda era criança e ainda não era adolescente, mas que tinha um corpo provocativo e me pareceu que ela tinha consciência disso.
Por que e para quem ela gravou o vídeo? Quais seriam os resultados se a gravação caísse em alguma rede social? Talvez explodiria com milhares de seguidores lascivos por seu alto teor de voluptuosidade atendendo anseios pedófilos. Isso me lembrou de um fotógrafo na Inglaterra que usou uma igreja do século 13 como cenário para um ensaio erótico, provocando polêmicas, inclusive ações judiciais sobre si.
Aí quero chegar ao fenômeno Felca, que num curto espaço de tempo chegou a 30 milhões de seguidores. Ele não publicou imagens de requebros, mas se valeu de palavras e de conceitos sobre crianças. Ele ousou entrar num tema garantido de pancadaria nas redes sociais entre a cultura ‘woke’ e conservadores.
Felca opinou e criticou. Fez denúncias. E o mundo desabou sobre ele para crítica e para apoios, já oportunistas de plantão ávidos pela censura na internet imediatamente se lançaram em cima do rebuliço nas redes sociais.
Mas quem é Felca? O nome verdadeiro é Felipe Bressanim Pereira, um youtuber, influenciador digital e humorista brasileiro. Começou sua carreira em 2012. O rapaz tem traços parecidos com Kafka, autodepreciação, autocrítica e autoanálise. Saltou para a notoriedade com um vídeo publicado há poucos dias com o tema ‘adultização’ e a erotização de crianças. O vídeo viralizou. Felca denuncia Hytalo Santos por festas impróprias com adolescente, álcool e topless, cenas sensuais, que envolvem crianças num condomínio onde o acusado reside. Os efeitos foram imediatos, ainda mais que no Brasil atual algumas autoridades precisam de grandes escândalos que servem como cortina de fumaça para encobrir os seus desmandos. Dia 12 terça-feira a Justiça suspendeu os perfis de Hytalo nas redes sociais relacionando-o à pedofilia. “Hytalo Santos foi preso nesta sexta-feira, 15, em São Paulo, junto com o marido, Israel Nata Vicente, após o mandado da 2ª Vara da Comarca de Bayeux, na Paraíba. O casal é investigado por tráfico humano e exploração sexual infantil”, segundo a revista VEJA.
Sou jornalista e mãe de duas filhas. Em 2018 publiquei o livro “CRISE EDUCACIONAL: resgate de fundamentos éticos”, prefaciado por José Fogaça e Adriana Duval. Saliento a educação como a necessidade além de ensinar o conhecimento cognitivo é preciso enfatizar os valores éticos básicos para construir uma sociedade sadia. As crianças precisam aprender a se dar respeito a si e respeito aos outros. O respeito é um valor universal em todas as culturas civilizadas. Dizer não na hora adequada pode ser sinônimo de bons modos e de boa interação. Mas passamos para a permissividade do “tudo pode” e do “sem limites”. Resultou numa geração, que com a omissão de alguns dos pais, a criança ou adolescente é vítima da condescendência com a desordem, com a procrastinação das tarefas e ao próprio respeito. Infelizmente, muitos pais educam os filhos mais para seus direitos do que para os deveres. O dever exige ação. Requer cumprimento de tarefas. Requer certas sujeições. Mas vivemos uma geração apegada ao celular. E aqui quero traçar uma linha para conceituar o prodígio da internet. Aí entra a proliferação de canais. Entram os youtubers, os influenciadores. A internet, para mim, é uma das maiores revoluções inventadas pelo homem. Ela é um grande universo de informação sobre qualquer assunto. É a maior enciclopédia na história da humanidade. No entanto, os adeptos do crime e da perversão civilizatória conhecem o seu potencial e também estão presentes nela como cupins numa casa de madeira. Mas isso depende de quem a usa e como a usa. Tratando-se de crianças, os pais têm o direito e o dever de precaver e de ensinar seus filhos a distinguir entre o nocivo e o útil bem como sobre tudo o que circula nesse meio de informação, comunicação e entretimento. A presença de pedófilos é um alto risco às crianças e um ato de irresponsabilidade paterna ao entregar precocemente um celular e não controlar o uso dele.
Felca ao criticar a exposição precoce de crianças nas redes com o título ‘adultização’. Estendeu o sentido da palavra também às cenas sensuais, uso de álcool, festas impróprias ao denunciar Hytalo Santos. Não podemos esquecer que já houve dezenas ou centenas de denúncias anteriores feitas no próprio Congresso Nacional.
Ganhou o apoio de muitos pais, educadores e até políticos. Eu também gostei do Felca. Não é um galã, mas me pareceu sincero. É alguém muito introspectivo. Parece que olha para dentro do fundo de si. Há distâncias nos seus olhos e um pouco de tristeza no seu olhar. Tem ligeiros traços de filósofo.
Deste episódio tiro algumas conclusões. Acho que cabe ao Ministério dos Direitos Humanos e os seus braços, Conselhos nacional, estaduais e municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente bem como os Conselhos Tutelares devem ser mais ativos. Há leis suficientes. Já existe a Lei n° 8 069 conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). E o que faz a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA)? São essas instituições que devem remover pedófilos das redes sociais e de qualquer lugar baseado nas leis existentes. Leis não faltam no Brasil. Remova a causa e cessarão os efeitos, diz um princípio lógico.
Felca, pelo que parece, decidiu usar seu canal para combater o mal-intencionado nas redes sociais. Teve sucesso. O que, infelizmente Tim Lopes, repórter investigador da Globo não teve. “Na noite de 2 jun. 2002, foi deixado na comunidade na Zona Norte do Rio de Janeiro pelo motorista da Globo. O jornalista estava produzindo mais uma de suas reportagens investigativas, a pauta era a ‘exploração sexual de menores nos bailes funk’ da Vila Cruzeiro. Naquela mesma noite, ele foi descoberto, sequestrado pelos traf**antes do local e levado para a Favela da Grota, no Complexo do Alemão, onde foi torturado e queimado”.
Vinte e três anos depois, o youtuber Felca, de certa forma honra a memória de Tim Lopez, ao denunciar e levar à prisão um aliciador de crianças.
Convido meus leitores a conhecer meu livro “CRISE EDUCACIONAL: resgate de fundamentos éticos”, farto de histórias reais sobre crianças e a educação brasileira.
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