30/07/2025
A coragem de existir e se rebelar contra o absurdo da vida
Salete Rêgo Barros
Pesquisas indicam a presença de nanopartículas de plástico no ar, nas águas, nas placentas e cordões umbilicais, nos pulmões, no intestino, nas células, enfim… respiramos plástico, comemos plástico, bebemos plástico; o plástico é absorvido por nossa pele e corre em nossas veias alterando o bom funcionamento do nosso corpo, causando uma série de doenças. O que fazer para conter essa invasão, assim como tantas outras invasões que apontam para o colapso da vida na Terra? O que fazer para conter a visão política de que o ser humano é, acima de tudo, uma commodity?
A morte do planeta é acelerada a partir da Revolução industrial. Agora não há mais dúvidas de que é preciso ter coragem para mudar, para fazer parar, para se rebelar, para falar, para escrever, para enfrentar a estupidez dos que colocam os interesses financeiros acima da preservação da vida. O filósofo e escritor Albert Camus (1913 - 1960), prêmio Nobel de literatura em 1957, é autor de romances, peças teatrais, ensaios e artigos, onde são explorados, no início do século passado, temas como o absurdo da condição humana, a revolta e a busca por significados.
Afinal, o que o homo sapiens está fazendo com a dádiva da vida? Tudo indica que a Natureza, como um todo, funciona em sintonia e equilíbrio perfeitos. No entanto, a interferência do ser humano no meio-ambiente, agindo como se as fontes fossem inesgotáveis, e como se para cada ação não houvesse na contramão uma reação, de mesma intensidade, desencadeia os sinais de esgotamento da Natureza.
A coletânea “Consciência: para que te quero?” aborda estes temas sensíveis com coragem e lucidez. Seja em verso ou prosa, cada autor expressa a sua revolta e indignação - primeiro passo para que a mudança aconteça. Se há tempo suficiente para a atual geração usufruir dos resultados da mudança, pouco importa. O que conta mesmo é o legado construído para as gerações futuras, a partir da mudança de comportamento da nossa geração. Somos todos vítimas e algozes da interferência humana na Natureza, e de suas consequências; cada omissão nossa é um atestado de culpa; cada sofrimento gerado pelas injustiças sociais tem as digitais do nosso silêncio e da nossa covardia.
Uma das maiores chagas da história da humanidade é a escravidão. E essa condição desumana só foi possível com a conivência dos que não se rebelaram contra as injustiças. Entre estes, estão a Igreja e o Estado, com a finalidade de gerar lucros incessantes aos poderosos. Banalizada, a crueldade se propaga no tempo e no espaço, assumindo diversas formas de dominação de uns seres humanos contra outros seres humanos, encontradas no patriarcalismo e em todos os seus desdobramentos.
O arcabouço dessa dominação vem sendo perpetuado de geração em geração. Apoderar-se do território do outro sempre esteve de forma continuada na pauta do dia dos opressores. Para isso, populações inteiras são dizimadas e o genocídio que chegou até nós através da história, agora é transmitido ao vivo, graças aos avanços tecnológicos na comunicação. Movimentos de revolta surgem por todos os lados, porém, nenhum ainda se mostrou capaz de fazer parar a sanha dos ditadores sanguinários.
A maior potência econômica e militar mundial decreta guerra tarifária a vários países, inclusive ao Brasil, com a taxação de 50% sobre as exportações. Coincidentemente, no dia em que este tarifaço é anunciado, o secretário de Trump obtém lucros bilionários no mercado financeiro. Na verdade, o que está em jogo nesta interferência arbitrária dos EUA não é o que parece ser, mas sim o aumento da concentração da riqueza na mão de poucos e, consequentemente, o aumento do esgotamento da Natureza.
Em sete meses, os recursos naturais que poderiam ser utilizados em um ano estão sendo esgotados. Trata-se, portanto, de um déficit ecológico que caminha na contramão da sustentabilidade, que é o equilíbrio entre consumo e renovação dos recursos oferecidos pelo planeta. Este controle deve ser tratado como política de Estado, mas de um Estado comprometido com a preservação da vida, algo que não é visto no modelo econômico neoliberal.
A justiça climática é urgente. Países desenvolvidos, responsáveis por maior impacto ao meio-ambiente, e que serão também afetados pelos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas, têm obrigação de contribuir com a descarbonização na mesma proporção com que destroem o meio-ambiente para gerar lucros. É preciso que o déficit ecológico seja zerado, enquanto há tempo, num esforço conjunto de todos os setores de produção e consumo, se quisermos ser os protagonistas da recuperação do planeta.
As crises climática e política, que o mundo agora enfrenta, estão interligadas e são fruto de escolhas, ações e decisões econômicas, sociais, ideológicas, religiosas e políticas, que o reduziram à condição de objeto de desejo a ser disputado, explorado e destruído pela ganância, irresponsabilidade e egoísmo do ser humano, única espécie capaz de conspirar a favor da sua própria extinção.
É provável que, num futuro próximo, num ato de desespero extremo, os mecanismos de isolamento social utilizados para acabar com a pandemia do coronavírus venham a ser impostos, novamente, desta vez como medida permanente para retardar o colapso da vida no planeta Terra, com a redução drástica do consumo.
Para participar desta coletânea histórica, acesse o link:
Coletânea a ser lançada na XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, de 2 a 12 de outubro de 2025, no Centro de Convenções de Pernambuco, pela Novoestilo Edições do Autor. O livro reunirá textos em verso e prosa de autores de todos os segmentos da sociedade com visões diferenciadas sob...