16/09/2025
TV RÁDIO ÒKÀN LÀYÓ
Sabe por quê? O candomblé, para mim, é família. Minha mãe. Vocês conviveram com minha mãe.
O marido de minha mãe e minha mãe faziam parte da mesma casa, embora sejam de axés diferentes, mas cultuavam, viviam o candomblé 24 horas numa casa só. Não é? Essa questão de você ter marido e mulher, eu tenho na minha casa casais que eu cuido. Marido e mulher que são meus filhos. Muitos, não são poucos.
Porque a minha casa é muito familiar. Você vai ver muito família na minha casa. Primos, tios, maridos, a filha, a prima. É isso que você vai ver na minha casa. Então, assim, não vejo, não existe nenhum odô em nenhum lugar que diga que, assim, isso não pode ser feito. Sim, até pelo outro lado, quando você...
Santo é família. Lógico. E, por outro lado, se você tem a esposa aqui e o marido numa outra casa... Gera conflito. Gera conflito. Muito. Conflito de sabedoria, conflito de etnia, um conflito geral. Sim, sim, verdade, verdade. Então, na África já existia um babalaô para uma aldeia inteira e todos eram família. O babalaô fazia a própria mulher. Faz a própria mulher.
Então... Eu não consigo, eu não vou mentir. Eu tenho uma coisa comigo que eu não conseguiria ser o Baba Lorichar da minha mulher. Eu não conseguiria ser o Ogando da minha esposa também, não. Eu não conseguiria, por quê? Eu ia esbarrar em conceitos meus que eu ainda não tenho a mente aberta para isso. Eu sei que hoje não tem nada que impeça isso.
Mas eu não conseguiria, falando em português claro, cuspir um obi na cabeça dela aqui, dar um bori, dar de comer a santa dela, e aí, daqui a três dias, acabar o preceito dela e eu dormir com ela.