17/09/2025
Camélias e Carvão
A fotografia fala por si. Ela guarda em silêncio a memória do carvão, da lida pesada que poderia ter sido perpetuada não fosse a abolição da escravatura. Na ausência da liberdade, ainda hoje seríamos forçados a esse mesmo trabalho, sob as formas ditadas pela modernidade.
No Quilombo afro-indígena da Pedra Bonita, as camélias florescem como símbolos de liberdade. Foram cultivadas pela Princesa Isabel, e no território, tornaram-se também flores da resistência.
O avô — cuja casa aparece na foto — trabalhou nas carvoarias até 1910. Da antiga “Fazendinha” migrou para o Sítio Histórico Monte Zumba (Zumba, menção coloquial ao Conde de Montezuma) e passou a investir na agricultura. Os registros mostram o cultivo de 150.000 m², responsáveis por abastecer armazéns e feiras livres da cidade.
A transição do carvão para a agricultura abriu caminho para a grande floresta que hoje compõe o Território Quilombola da Pedra Bonita. A cultura do carvão exigia replantio constante, e assim, cada árvore do Setor C do Parque Nacional da Tijuca, nesse território, guarda o nome de um ancestral.
É mais que memória: é continuidade, é legado vivo.
A história ainda está sendo escrita, pela força da RESISTÊNCIA ANCESTRAL.
Oxalá.