26/05/2025
Nova Iguaçu e o drama das ruas: atropelamentos disparam e colocam pedestres na mira da imprudência
Hospital Geral registra quase o dobro de vítimas só nos primeiros meses de 2025; maioria chega em estado grave. Especialistas alertam: “a cidade não foi feita para quem anda a pé”.
O trânsito em Nova Iguaçu virou um campo minado para quem anda a pé. Nos primeiros quatro meses de 2025, os casos de atropelamento explodiram: foram 345 vítimas atendidas no Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI), um salto de 95% na média mensal em comparação ao mesmo período de 2024. Para quem vive a realidade das ruas, não é só número — é medo, é pressa, é descaso.
Pra se ter uma ideia, de janeiro a abril deste ano, a média foi de 86 atropelados por mês. No ano passado, essa média era de 44. Isso quer dizer que, praticamente, a cada dia, quase três pessoas são atingidas por algum veículo nas ruas da cidade. E o pior: o ritmo indica que até dezembro podemos bater novo recorde de atropelamentos, superando os 518 casos registrados em todo o ano passado.
E enquanto o número de pedestres feridos cresce, o caos no trânsito segue igual: entre janeiro e abril, o HGNI já atendeu 1.666 pessoas vítimas de acidentes de trânsito. Foram 770 colisões — entre carro, moto e até muro — e 551 quedas de moto. Nova Iguaçu mantém o posto de uma das emergências mais movimentadas da Baixada Fluminense, mas a estrutura das ruas e a falta de sinalização não acompanham essa realidade.
“O pedestre virou detalhe”
“O pedestre virou um detalhe invisível no trânsito. Tem rua sem faixa, sem semáforo, e o povo precisa se virar. O motorista tá com pressa, o motoqueiro costura tudo, e quem anda a pé que reze pra atravessar vivo”, comenta Maria do Socorro, aposentada e moradora do bairro Santa Rita.
O próprio diretor do hospital, Dr. Ulisses Melo, reconhece a gravidade da situação. “Os atropelamentos têm crescido de forma preocupante. Muitas vezes, essas vítimas chegam em estado grave, com múltiplos traumas. O maio Amarelo é uma chance de chamar atenção pra essa tragédia silenciosa que vem acontecendo todo mês”, disse.
Campanha de conscientização ou alerta de abandono?
Dentro da campanha Maio Amarelo, o HGNI realizou uma palestra educativa com agentes de trânsito da Secretaria Municipal de Trânsito e Mobilidade Urbana (SEMTMU). Eles falaram sobre a importância de respeitar as leis e deram exemplos do cotidiano nas ruas. Mas, para boa parte da população, as palestras não bastam.
“Não adianta só falar, tem que agir. O povo não tem calçada, não tem faixa, não tem respeito. É todo mundo por si”, desabafou um mototaxista que acompanhava um paciente atropelado na porta do hospital.
Uma cidade que ainda não cuida de quem anda nela
Os dados escancaram uma cidade que ainda não se preparou para o pedestre. Com mais de 5.700 acidentes de trânsito registrados em 2024 e tendência de repetir ou até ultrapassar esses números em 2025, a realidade de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense exige mais que campanhas sazonais. Exige planejamento, infraestrutura e — acima de tudo — respeito à vida.
Porque enquanto houver pressa sem prudência e rua sem estrutura, o hospital vai continuar lotado… e o povo machucado.
Por: Arinos Monge.