28/11/2025
A nova viagem de Volodímir Zelenski pela Europa terminou na Espanha com um plano ambicioso para transformar a força aérea ucraniana na próxima década, sustentado por acordos de forte simbolismo. Se concretizado, o projeto garantiria cerca de 250 caças europeus e um amplo pacote de ajuda e armamentos - mas o financiamento e a execução permanecem longe de estar assegurados. Em Paris, Zelenski assinou uma carta de intenções para comprar até 100 caças Rafale, além de sistemas SAMP/T, drones de nova geração, munição guiada e um início de cooperação industrial para produzir interceptadores na Ucrânia.
A França apresenta os Rafale como núcleo da defesa aérea ucraniana e busca inserir a Ucrânia em uma arquitetura de segurança de longo prazo; o modelo de financiamento, porém, é indefinido, com a UE e rendas de ativos russos congelados citadas como fontes possíveis - opções controversas que dividem Estados‑membros e trazem riscos legais, especialmente para a Bélgica, que concentra grande parte desses fundos. Analistas observam que a Ucrânia não tem margem financeira para comprar e manter cem Rafale e que a França enfrenta fragilidade orçamentária.
A cadeia de produção da Dassault já está sobrecarregada; fabricar mais 100 jatos exigiria esforço extraordinário. A proposta adicional de cerca de 150 Gripen suecos, ainda em fase inicial, amplia dúvidas sobre a capacidade ucraniana de operar, treinar e manter uma frota tão vasta. Para muitos, a iniciativa tem caráter mais político - mantendo a França no centro da equação e fortalecendo a indústria europeia frente aos EUA - do que viabilidade militar de curto ou médio prazo. A viagem também destacou a chegada do inverno, que tende a preceder nova ofensiva russa contra infraestruturas energéticas e cidades.
A França afirma que os SAMP/T mostraram eficácia notável contra mísseis de trajetória complexa, e oferece capacidades aéreas temporárias (Mirage, munição de precisão), além de promover uma coalizão europeia para garantir a segurança pós‑cessar‑fogo - projeto inviável enquanto Moscou rejeitar negociações. Em Madri, a Espanha anunciou pacote de €817 milhões (€300M em armamento nacional, €215M via programas europeus e €100M para compra de mísseis americanos via iniciativa PURL da OTAN). O montante é modesto diante das ambições francesas e suecas, mas é apresentado como apoio calibrado para o inverno - mísseis antiaéreos, radares móveis e sistemas antidrones que empresas espanholas como a Indra podem fornecer.
A postura espanhola é mais realista e sustentável: menos espetacular, porém mais exequível, combinando ajuda imediata, acolhimento de refugiados, reabilitação médica de soldados e cooperação industrial confiável. Após anúncios em Paris e Estocolmo, a etapa espanhola ajudou a ajustar expectativas.