05/08/2025
Santa Casa de São Gabriel
SUGESTÃO DE PAUTA | 04/08
*Déficit real é R$ 20 milhões: Santa Casa demonstra esforço de gestão e expõe inconsistências de auditoria externa em reunião com autoridades*
A Santa Casa de Caridade de São Gabriel reuniu autoridades locais na manhã desta segunda-feira, 4 de agosto, para apresentar os números reais da sua situação financeira, segundo os demonstrativos contábeis; esclarecer dados apontados em auditoria externa e reforçar as ações que vêm sendo adotadas para garantir a continuidade dos serviços. A reunião foi convocada pela própria instituição com o objetivo de esclarecer, com transparência, os desafios enfrentados pela gestão hospitalar.
_Déficit real: R$ 20 milhões e não R$ 57 milhões_
Conforme apresentado durante a reunião, o déficit líquido acumulado é de R$ 20 milhões, valor apurado com base em dados contábeis auditáveis, que estão disponíveis nos demonstrativos de gestão no site da Santa Casa. Este montante contrasta com os R$ 57 milhões divulgados no relatório de auditoria contratada pelo Município, número considerado desproporcional e tecnicamente incorreto pela direção da Santa Casa.
A gestão hospitalar apontou que o relatório de auditoria não observou critérios técnicos adequados, tais como dívidas de longo prazo e desconsiderou o contexto assistencial e orçamentário da instituição. Entre os principais pontos de divergência estão:
Ausência de reuniões de abertura e encerramento da auditoria com a presença do secretário municipal de saúde (justificado in loco pelo secretário, que estava de licença não remunerada);
Falta de registro formal das reuniões havidas com os profissionais do hospital e ausência de contextualização prática nas recomendações;
Relatório focado apenas em números, sem considerar indicadores de qualidade e normas legais;
Não apresentação de sugestões/recomendações viáveis para enfrentamento da crise.
_SUS paga menos da metade do que consome do hospital_
Um dos aspectos mais críticos é a insuficiência dos recursos do SUS – Sistema Único de Saúde. Dos R$ 63,5 milhões da receita operacional anual da Santa Casa, no ano de 2024, cerca de R$ 32,2 milhões (50,8%) são provenientes do SUS. No entanto, 92% de todos os atendimentos do hospital são realizados via SUS, o que gera um desequilíbrio financeiro estrutural.
Segundo cálculos apresentados, o custo SUS do hospital deveria ser proporcional ao volume de atendimentos, ou seja, 92% das despesas operacionais. Aplicando essa proporção, chega-se a um custo SUS anual estimado em R$ 70,4 milhões, o que evidencia que o repasse atual cobre menos da metade do custo real dos serviços prestados ao SUS. A diferença é parcialmente coberta por receitas extras, convênios com planos de saúde e atendimentos particulares, emendas parlamentares, mas não de forma suficiente.
_Pronto Socorro e Oncologia também geram déficit_
A Santa Casa ressaltou que o Pronto Socorro - que é atendimento de urgência e emergência - opera com demanda superior ao previsto em contrato com o município, abrangendo também casos de menor gravidade, o que aumenta o custo operacional, agravando o déficit. Uma nova proposta contratual, no valor de R$ 12 milhões anuais, está em negociação e deverá ser enviada à Câmara de Vereadores, incluindo metas e remuneração por atendimentos excedentes.
Em relação à Oncologia, a gestão explicou que, embora o serviço seja referência para os municípios da região, o setor é deficitário devido ao formato de gestão (terceirização) da farmácia oncológica, o que aumenta significativamente os gastos com a produção das bolsas de quimioterápicos, arcando, ainda com os custos de equipe e estrutura.
_Medidas adotadas pela Santa Casa_
A administração reiterou que nenhum serviço foi suspenso ou diminuído e destacou ações de enfrentamento à crise:
Revisão de processos internos e gestão de custos;
Implantação de sistema de apuração de custos hospitalares;
Ampliação de convênios, como com o FUSEX;
Exploração de receitas extras, como o Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI);
Negociações para novos contratos e pagamento de aditivos.
Sobre os honorários médicos, a Santa Casa informou que há um adiantamento de valor do contrato existente assinado com a Prefeitura no valor de R$ 230 mil para pagamento dos plantonistas, pendente de repasse.
Estiveram presentes na reunião: o provedor Cilon Lopes de Siqueira, o administrador Dilnei Garate, os diretores Paulo Henrique Almeida e Ari Carneletto Jr, o consultor Márcio Mello, João Custódio Iturbide (Conselho Municipal de Saúde), Daniel Severo (Delegado da Polícia Civil), Padre Roberto Barboza (Paróquia Arcanjo São Gabriel), Luiz Henrique Duarte (Asmir), Roberto Guedes (OAB), Saionara Almeida (Semusa), Cristiano Carvalho (CDL), Rafael Medeiros (ACI), Eduardo Ramalho (Laboratório Ney Ramalho), Ricardo Coirolo (Secretário da Saúde), Sandra Weber (Vice-prefeita), Lucas Menezes (Prefeito). Foram convidados representantes do Judiciário, Ministério Público, Câmara de Vereadores, Forças Armadas, Brigada Militar e Bombeiros, mas não estiveram presentes.
A Santa Casa reforça que o principal objetivo da reunião é buscar o entendimento e soluções viáveis para a reorganização financeira da instituição, sempre tendo como principal foco o atendimento hospitalar e o bem-estar da população atendida.