08/06/2025
A MALDIÇÃO DA ESTÂNCIA PANORAMA
Estância de sesmaria antigamente conhecida por Bela Vista do Cerro do Ouro em São Gabriel – RS (Hoje a atual Estância Panorama).
Há muito tempo, no século XIX, um fidalgo senhor muito rico, avarento, cruel, dono de muitas terras e estâncias, com medo de ser roubado pelas constantes invasões oriundas dos conflitos das fronteiras da Argentina e Uruguaio, daquelas bandas vinham bandos de Castelhanos, nome comum dado aos espanhóis, pois no passado a maioria vindo de Castela cidade Espanhola para colonizar o sul da América do Sul.
O fidalgo fazendeiro resolveu enterrar suas muitas moedas de ouro.
Possuidor de rebanhos bovinos que não cabiam num só olhar, vendia-os para as charqueadas de Pelotas ganhando altas somas em moedas de ouro puro. Esse cabedal era oculto em seus aposentos, local que ninguém penetrava. O miserável fazendeiro, nada gastava pois tudo o campo provia, porém seu medo aumentou quando uma onda de invasões dos castelhanos em quadrilhas vinham saqueando as estâncias, pois não existiam cercas. Seu medo de perder o ouro que aprisionava sua paz e fazia perder o sono só de imaginar ele sendo roubado por estrangeiros, fez com que depositasse eles em barris, enchendo-os depois com sebo derretido como forma de proteção.
Preparou dois barris cheios de moedas de ouro, colocou uma camada de carvão, tapou ele com um cobertor e numa zorra (arrastão com três mourões de madeira formando um triângulo, amarradas com tentos de couro bovino).
Chamou Tião um negrinho risonho, protegido, neto afilhado de uma velha escrava da casa de nome Tia Michuca, cujo amor de sua vida era então esse menino, mimoso no qual ela tinha todo o amor do mundo.
O estancieiro preparou tudo, iria enterrar seu ouro distante da sede, partiu com o negrinho miúdo, faceiro, risonho, pois era prestativo por natureza.
Passaram por matas e trilhas, pobre menino inocente que nada desconfiava na sua pura inocência, sentia-se feliz por participar de tarefa tão importante.
Ao chegar no local, distante. Junto com o escravinho que cavou e enterrou o dinheiro e como não queria testemunha, degolou o negrinho e o enterrou junto, diziam os antigos que matar um escravo, o tesouro estaria protegido dos ladrões. Depois levou a petiça até a beira de um precipício, sangrou-a e fez ela rolar abaixo num perau profundo.
A SAUDADE DO NEGRINHO
Passaram-se dois meses e a Tia Michuca, chorava pelos cantos a falta do Tião, o estancieiro dizia que ele tinha ido para outra estância da Palma a mando dele cerca de trinta quilômetros de distancia.
Porém em sonho, Tião revelou para sua vó madrinha o que tinha acontecido. Desesperada e em prantos a pobre negra adoece de dor e tristeza e antes de morrer, de joelhos reúne todas as forças de sua fé e dor e pede ao céus:
”Senhor Deus amaldiçoe essa estância, que todos que nela habitem, que não sejam felizes, seja quem for que nela habite, não prospere nestas terras”.
O tempo que a tudo ajeita como melancias dentro de uma carroça, foi logo entrando dentro dos pensamentos do cruel estancieiro, que sonhava que seu tesouro tinha sido roubado, via o negrinho rindo nos cantos da casa, ouvia sua gargalhada que ecoava na sua madorma. Acordava suando, sofria de apnéia e delirava nas noites entre pesadelos, temores que já não entendia.
Começou sua loucura, quando duvidava que o negrinho realmente estava morto, ia e voltava até o local onde seu ouro estava enterrado, sossegava quando via que nada tinha sido mexido, mas o negrinho gritava dentro de sua cabeça: “Eu contei seu segredo para outra pessoa!”
O senhor então enlouqueceu e se perdeu no campo chamando o Tião, ora para maltratar por ter revelado o segredo, mas também para pedir perdão e suplicar pela sua ajuda.
Entretanto já velho e desnorteado fazendeiro foi encontrado enforcado num bosque próximo ao enterro do seu dinheiro, já em estado de putrefação.
A fazenda teve vários donos, nunca ninguém ficou muito tempo vendo os campos que a vista cansa num horizonte belo e maravilhoso. Hoje a empresa Aracruz comprou a estância para plantar eucaliptos, acabou a bela visão, a estância é uma tapera triste na beira de um corredor, era tão bela que de bela nada mais tem.
Será que o tesouro continua lá?
Quem sabe enterrado nas entranhas do matagal, ninguém faz ideia, somente o negrinho risonho, talvez revele num sonho o lugar para alguém.
Assista o vídeo no canal JR GABRIELENSE acessando o link abaixo:
https://youtu.be/OkfPFdeFYjQ?si=qsEzJu02-Oqmg1u0