05/09/2025
O Extremismo Bolsonarista-Trumpista Fortalece o Petismo
A aprovação ou não de uma anistia para os condenados pela Lei 14197 (Lei do Bolsonaro que substituiu a antiga Lei de Segurança Nacional em 1 de setembro de 2021 e baseada num projeto de lei do falecido petista Hélio Bicudo, projeto este que ficou trinta anos na gaveta do Congresso) por conta do 8 de Janeiro e atos anteriores é um assunto institucional interno brasileiro.
A imposição por Donald Trump de tarifas de importação de produtos brasileiros pelos EUA é um assunto na esfera das relações bilaterais Brasil-EUA e que deve ser tratado unicamente no escopo dos interesses econômicos (legítimos) tanto dos EUA quanto do Brasil.
Não cabe na abordagem desse tema a inclusão de assuntos internos de cada parte. Seria o mesmo que o Brasil exigir dos Estados Unidos a revisão e modificação de seu sistema eleitoral para somente então permitir o comércio entre os dois países.
Estas obviedades que saltam aos olhos precisam ser enfatizadas, pois elas foram colocadas de lado pela sandice de Donald Trump, que decidiu usar um instrumento legítimo de defesa dos interesses econômicos de qualquer país soberano como pretexto e arma para imiscuir-se indevidamente em assuntos internos de outro país soberano que é aliado histórico dos EUA.
Por sua vez, Eduardo Bolsonaro atua como preposto dos interesses não dos americanos (o que já seria por si só um acinte merecedor de cassação de mandato se fosse o caso), mas sim como preposto do intervencionismo político de Donald Trump.
O presidente americano decidiu instrumentalizar um mecanismo usual e legítimo de comércio bilateral (as tarifas) não para preservar os interesses americanos (uma vez que o Brasil está entre os poucos países do mundo com quem os EUA são superavitários), mas para unicamente to make a point a político.
A sandice tarifária de Donald Trump contra os aliados históricos dos Estados Unidos no Ocidente, o que inclui o Brasil, não tem a ver com a premência de um problema econômico estrutural norte-americano.
O país cresceu, tornou-se potência mundial, teve saltos gigantescos de produtividade e sua moeda virou padrão de troca internacional justamente por conta da realização de déficits comerciais recorrentes:
Os EUA exportam bens e serviços de valor agregado elevadíssimo e importam bens e serviços de menor valor agregado, e assim ganham com isso, mesmo que as operações sejam nominalmente deficitárias na balança de pagamentos.
Esse foi e continua sendo o efeito do exercício da hegemonia econômica norte-americana, conforme demonstrado por Robert Triffin no seu Dilema de Triffin, dilema esse que se mantém mesmo após o fim do padrão ouro e adoção de mecanismos de câmbio flutuante pelos países importadores.
Portanto, o assunto tarifas não é um assunto econômico, mas instrumento de intervencionismo político externo de Donald Trump. Até o momento esse intervencionismo leviano não produziu ganho geopolítico algum para Donald Trump, a despeito do custo econômico elevado que ele representa para os norte-americanos.
O custo econômico desse intervencionismo trumpista politica e ideologicamente motivado ficará elevado demais para os norte-americanos já no curto prazo, como as eleições de midterm do ano que vem poderão mostrar.
No Brasil, que é o que nos interessa, o resultado dessa aliança política espúria antinacional entre bolsonarismo e trumpismo terá como único efeito o isolamento da extrema-direita bolsonarista, o fortalecimento do petismo e de sua política de alinhamento estratégico com o eixo das ditaduras chefiado por Moscou e Pequim.
Paulo Eneas