11/02/2023
"No começo da minha passagem pelo São Paulo, eu levantava de manhã pra ir treinar, mas não tinha vontade. Nem de treinar, nem de jogar, tá ligado? Fui f**ando sem ânimo pra fazer as coisas, não queria sair de casa. O sofá e o colchão da cama me sugavam como se fossem areia movediça. Eu só afundava e chorava. Chorava o tempo todo.
Mas a minha vida tava toda certinha, eu tinha tudo que precisava. De onde vinha aquele sofrimento? Meu Deus do céu!
Eu vivi cinco meses nessa amargura, nesses extremos opostos: eu era um ser humano triste se obrigando a parecer um profissional feliz e sendo julgado por milhões de pessoas a cada três dias. E não é que eu estivesse passando a noite na farra, bebendo e tal. Não era isso. Eu estava deprimido. E me sentia culpado por estar.
(...)
Hoje, quando me pergunto o que desencadeou tudo isso, eu penso que fui eu mesmo. Antes de chegar no São Paulo, eu tinha passado um período complicado no Dynamo Kiev. Comecei bem, mas me machuquei e acabei tendo poucas oportunidades. Sem contar que a vida na Ucrânia não é como no Brasil. Lá faz muito frio, a gente estava longe da família e dos amigos, praticamente sem convívio social.
Aí o São Paulo me trouxe de volta, e eu passei a me cobrar demais.
ELES APOSTARAM ALTO EM MIM, NÃO POSSO DECEPCIONÁ-LOS, eu me pressionava internamente.
Acho que isso foi sobrecarregando a minha mente e o meu espírito. E nada na vida precisa ser assim. O negócio é viver um dia de cada vez, fazendo o melhor possível pra acertar e sabendo que é impossível acertar o tempo todo. De boa. No dia que você errar, precisa se perdoar e ir dormir pensando: Beleza, hoje não foi bom, mas amanhã eu vou me esforçar ao máximo para tentar fazer melhor.
(...)
Só depois que o pior passou eu procurei a psicóloga do São Paulo. Ela disse que eu tinha sido muito forte de ter conseguido atravessar uma depressão sem ajuda especializada. Mas não foi porque eu quis, foi porque eu não consegui gritar socorro.
Finalmente eu melhorei. Me firmei como titular no São Paulo, fui pro Atlético, ganhei cinco títulos em Minas e nunca mais me senti daquele jeito."
- Trecho do depoimento de Tchê Tchê ao site The Players Tribune.