02/11/2025
Ele ficou esperando durante 11 dias.
Era uma segunda-feira comum de agosto quando passou pela primeira vez pela rodovia. Eu estava voltando do trabalho, cansado, com a cabeça cheia de problemas. Mas algo me fez olhar para o acostamento.
Um cachorro vira-lata, magro, sentado no meio do mato, olhando fixamente para os carros que passavam. Como se estivesse procurando alguém.
Pensei: "Deve estar esperando o dono voltar." E segui meu caminho.
Na terça-feira, ele ainda estava lá. Mesma posição. Mesma expressão. Olhando cada carro que passava com aqueles olhos cheios de esperança que ia morrendo a cada veículo que não parava.
Quarta-feira. Lá estava ele. Só que agora mais magro. A pelagem suja de terra e chuva.
Eu parava às vezes, mas ele não se aproximava. Apenas olhava para mim, depois voltava a olhar para a estrada. Como se dissesse: "Não é você que eu estou esperando."
Passei a deixar comida e água. Ele comia, mas nunca saía daquele lugar. Nunca deixava de vigiar a pista.
Quinta. Sexta. Fim de semana inteiro. Ele ali. Chovesse ou fizesse sol. Carros passando a 100 por hora, buzinando, quase atropelando. Mas ele não se movia. Apenas esperava.
Na segunda semana, conversei com moradores da região. Foi quando descobri: o dono dele tinha morrido em um acidente de moto naquela mesma rodovia, há 11 dias. Exatamente onde o cachorro estava.
Ele não estava perdido. Ele estava lá de propósito.
Esperando por alguém que nunca mais voltaria.
Meu coração se partiu. Tentei pegá-lo, levá-lo para casa, tirá-lo daquela espera dolorosa. Mas ele resistia. Chorava. Uivava. Como se ir embora fosse trair a memória de quem ele amava.
Foi preciso a ajuda de uma ONG de proteção animal. Eles vieram com equipamento, experiência, paciência. E mesmo assim, levou horas. Ele lutou até o último segundo para f**ar.
Porque para ele, aquele não era apenas um pedaço de estrada. Era o último lugar onde seu humano esteve vivo. Era o único lugar onde eles ainda estavam juntos, de alguma forma.
Hoje, dois meses depois, ele está aqui em casa. Eu o batizei de Fiel. Porque não consegui pensar em nome melhor.
Ele se adaptou bem. Come, br**ca, dorme na minha cama. Mas toda vez que saímos de carro e passamos por aquela rodovia, ele f**a inquieto. Olha pela janela com aquela mesma expressão. Procurando.
Sempre procurando.
As pessoas me dizem: "Que sorte você deu a ele." Mas a verdade é outra. A sorte foi minha. Porque Fiel me ensinou algo que eu tinha esquecido: o que signif**a amar alguém de verdade. Sem condições. Sem desistir. Mesmo quando todo mundo já foi embora.
Mesmo quando a única coisa que resta é esperar.
E se você acha que isso é "só um cachorro de rua", então você nunca viu amor de verdade. Porque amor de verdade não escolhe raça, pedigree ou valor de mercado.
Amor de verdade f**a. Mesmo depois que tudo acabou. Mesmo quando não há mais esperança.
Amor de verdade espera 11 dias debaixo de sol e chuva por alguém que nunca mais vai voltar.