11/05/2025
brinco com as palavras
saltimbanco sem palco
atravesso cada uma delas
suas setas afiadas
viajo em certo mel
certa constelação
entre o ar
e a travessura
deste disfarce
a arte
criar nas imagens que chegam
ligeiro e mais que ligeiro
se dissipam
o meu velejar
agora em mar calmo
colinas verdejantes de trigo
de pontas eriçadas
me ondulam os cabelos
na alma, nos pelos,
a revelação da escritura
assim revolta, assim envolta
em nuvens passageirras
é a penumbra de um pequeno umbral
um canalzinho sozinho que nem eu
vai sonhando passarinhos azuis
tão afinados, tão apaixonados
que volta a doer
o meu ser
este avião bombardeado
esta mancha em meu vestido
encarnado
de repente
interrompe-se a brincadeira
seca o pote de ouro
um gosto acridoce chega à boca
hoje sem nem um restinho
de batom.
Emília Amaral