
14/07/2025
Ele tinha tudo sob controle. Até cruzar o olhar com uma menina... que carregava a mesma marca que a dele.
Na recepção do luxuoso Hotel Miramar Atlântico, em Balneário Vento Sul, entre colunas espelhadas e o perfume de poder no ar, um homem parou por instinto.
Augusto Valle.
Um nome que pesava.
Bilionário. CEO de um império de tecnologia.
Frio. Metódico. Um homem que calculava até os silêncios.
Na sua vida, não existia espaço para erros ou distrações.
Reuniões, metas, contratos, voos.
Tudo cronometrado.
Nada — absolutamente nada — fora do script.
Aquela tarde era mais uma no calendário:
Conferência às 14h. Jantar com acionistas às 19h. Voo às 7h do dia seguinte.
Mas então… o inesperado atravessou o saguão.
Uma gargalhada infantil.
Aguda. Leve.
Como uma melodia que não se ouve há anos.
Ele ergue os olhos.
Uma menina de uns seis anos correu com um ursinho velho nos braços, os cabelos em tranças, o rosto iluminado por uma alegria inocente.
Logo atrás, vinha uma mulher — pele marcada, olhos de vigília cansada, mas com um sorriso terno no rosto.
Nada que chamaria sua atenção.
Até que viu.
No pescoço da menina, logo abaixo da orelha esquerda…
uma pinta.
Mesma forma.
Mesma cor.
Mesmo lugar da dele.
Augusto sentiu o tempo parar.
O peito apertar.
Não era possível.
Fragmentos do passado estouraram como faíscas na memória:
Aurora Rangel.
O grande amor de sua juventude.
Rápido. Intenso.
Uma paixão que o desarmou.
E desapareceu da noite para o dia, deixando apenas uma carta:
“Desculpa. Eu não posso continuar. Cuide-se.”
Foram palavras que ele tentou enterrar sob pilhas de contratos e noites de trabalho.
Mas agora, ali estava ela.
Aurora. Mais madura, olhar profundo e ferido.
E a menina... que agora olhava para ele com olhos castanhos iguais aos dele.
A marca. O olhar. O instinto.
Tudo gritava a mesma verdade.
Ele deu dois passos.
Ela o viu. Parou.
O silêncio entre os dois foi mais alto que qualquer palavra.
Aurora segurou firme a mão da criança.
Não disse nada.
Mas em seus olhos havia tudo: dor, culpa, saudade.
E na alma de Augusto… uma pergunta explodiu:
“Por que você nunca me contou?”
“Ela... é minha filha?”
Ele, que sempre teve controle sobre tudo…
Descobriu, ali, no chão de mármore frio daquele hotel, que há verdades que nem o tempo, nem o dinheiro conseguem calar.