06/02/2025
Mulheres Casadas com Dependentes Químicos em uso : Vozes Silenciadas pela Dor e Pelo Amor
Estar casada com um dependente químico no uso de substâncias é uma experiência que, muitas vezes, mistura o amor com uma dor dilacerante. Para essas mulheres, o casamento deixa de ser uma parceria entre iguais e se transforma em uma luta solitária para manter a família unida. Elas assumem um papel que não escolheram: o de mãe de seus parceiros, acreditando que, ao cuidar, proteger e tentar salvar, estarão também preservando o pai de seus filhos e o sonho de um lar estável.
Na tentativa de resgatar o marido do abismo da dependência, essas mulheres carregam nos ombros responsabilidades imensas, enquanto enfrentam um turbilhão de sentimentos. Há medo medo de perdê-los para as dr**as, para a morte, ou até mesmo para o abandono. Há o anseio de uma vida normal, de um parceiro presente, de um lar onde os filhos possam crescer sem as marcas de conflitos e incertezas. E, em meio a tudo isso, há a culpa por não conseguirem fazer o suficiente, por não saberem mais como ajudar, e por muitas vezes sacrificarem suas próprias necessidades em nome do outro.
A relação é permeada pelo silêncio. Elas se sentem sem voz, abafadas por julgamentos externos e internos. A sociedade, por vezes, as vê como cúmplices, como quem “aceita” a situação, enquanto, na realidade, elas estão tentando sobreviver, proteger os filhos e lidar com uma montanha-russa emocional diária. Dentro de casa, o diálogo muitas vezes é interrompido pela negação ou pela agressividade do dependente químico. Nessa dinâmica, a mulher se vê sozinha, incapaz de pedir ajuda ou expressar sua dor, por medo de fragilizar ainda mais a relação ou de ser mal compreendida.
O papel de mãe que elas assumem no casamento não é escolha, mas consequência de uma relação desequilibrada. Elas cuidam, monitoram, controlam, e muitas vezes colocam as próprias vidas em suspenso, na esperança de que o amor e o sacrifício sejam suficientes para transformar o marido e salvá-lo. É um esforço incessante que, não raro, resulta em esgotamento físico e emocional.
E, apesar de tudo, muitas permanecem. Porque, no fundo, há o desejo de acreditar que a pessoa que amam ainda está ali, sob a sombra da dependência. Elas sonham com o dia em que poderão respirar aliviadas, em que o peso sairá de seus ombros e elas poderão, finalmente, voltar a ser esposas, companheiras e não apenas cuidadoras.
Essas mulheres precisam, acima de tudo, serem ouvidas e acolhidas. Precisam de espaços seguros para expressarem suas dores, sem julgamentos. Precisam compreender que o amor que sentem não precisa vir acompanhado de anulação e sofrimento. Mais do que salvarem seus maridos, elas precisam salvar a si mesmas. Encontrar sua voz novamente, lembrar-se de sua força e redescobrir que, mesmo em meio ao caos, há possibilidade de reconstrução e esperança.
Gabriela Abdalla