11/08/2025
QUANDO A MÚSICA CHAMAR PARA DANÇAR, ACEITE
Imagine um líder que entra na sala como quem entra em um salão de baile. A música já está tocando: ela vem das conversas informais no corredor, das expressões de cada membro da equipe, do clima que se instala quando um projeto dá certo… ou não.
Esse líder pode fingir que não ouve e seguir no seu roteiro diário, ou pode aceitar o convite invisível: dançar com o ambiente.
Não é sobre improvisar por improvisar, mas sobre estar inteiro, com autenticidade, presença e coragem para perceber o ritmo, sintonizar-se com ele e, se necessário, mudá-lo.
Autenticidade não é a liderança “falar tudo que pensa”, mas alinhar o que pensa, sente e faz. É mostrar-se de forma coerente e honesta, para que as pessoas confiem no passo que você propõe. Líderes autênticos não usam máscaras para agradar; usam coerência para inspirar e dançam com o seu próprio estilo, sem forçarem versões polidas e falsas de si mesmos. Isso dá segurança para que a equipe abrace e siga o compasso. Esta é a liderança que, ao receber um feedback negativo sobre um projeto, em vez de disfarçar, assume: “Esse resultado não é o que esperávamos. Eu também me frustrei. Vamos entender juntos como melhorar".
Presença não trata-se de apenas estar fisicamente. É atenção plena. Estar no agora, no compasso da música. É perceber quando a equipe está cansada, quando precisa de incentivo ou quando é hora de celebrar. Um líder presente consegue “ler a pista” e decidir se é momento de um solo, de um dueto ou de abrir espaço para todos dançarem juntos. A liderança presente percebe os sinais sutis: a pausa mais longa na fala de um colaborador, o e-mail sem emoji de quem sempre manda mensagens animadas, o silêncio que diz mais que qualquer dado. Esta é a liderança que opta por cancelar a reunião de status (que já não iria render nada) para, no lugar, propor uma roda de conversa para destravar um bloqueio emocional que todos estavam sentindo.
Coragem não é dançar sem medo, mas dançar apesar dele. É ter a disposição de iniciar conversas difíceis, de defender valores mesmo quando o ambiente desafia, de inovar quando o padrão parece confortável demais. É o passo ousado, aquela pitada de loucura que, quando dada no momento certo, transforma a dança e contagia todos. Num projeto estratégico, esta é a liderança que percebe que o caminho “seguro” não vai gerar o impacto necessário. Com argumentos claros, propõe a mudança e assume a responsabilidade pelos riscos.
E que tal praticar alguns ritos para manter a música da liderança viva no dia a dia com sua equipe?
- Faça sempre um 'check-in humano' – Antes das reuniões, dois minutos para perguntar “Como você está hoje?” e ouvir de verdade.
- Discipline uma 'agenda de presença' – Bloqueios diários na agenda para momentos de conexão real com a equipe, sem telas ou interrupções.
- Pratique a 'coragem programada' – Uma vez por semana, assumir deliberadamente uma conversa ou decisão que você vinha adiando.
- Realize um 'diário de alinhamento' – Ao fim do dia, registrar se suas decisões estiveram alinhadas aos seus valores e ao propósito do time.
- Viva 'celebrações breves' – Reconhecer pequenas vitórias imediatamente, sem esperar grandes eventos.
Liderar com autenticidade, presença e coragem é aceitar o convite da música, mesmo quando ela muda inesperadamente.
Porque a dança do líder não é para brilhar sozinho no centro do salão, mas para que todos saiam dele mais confiantes, leves e prontos para o próximo movimento.
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Eduardo Zugaib - escritor, palestrante, professor e treinador em liderança. Autor do best-seller corporativo A Revolução do Pouquinho, entre outras obras em DHO. Contato: [email protected]
(foto: Engin Akyurt - pexels)